Naturalidade: Brejo do Cruz – PB / Radicado no Rio de Janeiro
Data de nascimento: 03 de outubro de 1949.
Site: http://www.zeramalho.com.br/
Atividades artístico-culturais: Cantor, compositor e instrumentista.
José Ramalho Neto, conhecido pelo nome artístico de “Zé Ramalho”. Filho de Antônio de Pádua Pordeus Ramalho e Estelita Tores Ramalho, ele seresteiro e ela professora. Morou em Brejo do Cruz até 1951 quando perdeu o seu pai, que morreu afogado em um açude, o seu avô José Alves Ramalho o pegou para criar, e daí que vem a pronúncia Avôhai (Avô e Pai) o próprio Zé diz que este nome foi lhe soprado por entidades extraterrestres ou sensoriais 20 anos depois.
Zé também foi criado por sua avó Soledade e suas tias, Maria Madalena (sua primeira professora), Inês, Terezinha (Tetê), Zélia e pelo tio Nonato Ramalho. Seu avô dede cedo o ensinou amar os bichos e a natureza, a respeitar as pessoas e nunca passar por cima delas em hipótese alguma para poder atingir os seus objetivos. Seu avô deu a todas as filhas formação superior e ao seu neto lhe possibilitou que estudasse nos melhores colégios. Zé sempre gostou de estudar; e a partir do segundo grau é que começou os seus contatos com a música, primeiro com os violeiros da região, e familiarizado com os cordéis ele mesmo passou a compor músicas.
Desde cedo ele gostou de literatura greco-romana, daí o fato de suas músicas serem sempre cheias de citações bíblicas e greco-romanas. Aprendeu com facilidade escrever em decassílabos, daí começou a compor usando esta forma que é chamada de “Martelo Agalopado” pelos repentistas do Nordeste. Zé em meados dos anos de 1960 transfere-se para a cidade de João Pessoa para estudar medicina, sonho do seu avô, que queria um médico na família. A partir daí começa a participar de bandas baile, da Jovem Guarda. Suas influências eram: Renato Barros, Leno e Lilian, Roberto Carlos e Erasmo Carlos, o grupo Golden Boys no Brasil, Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd e Bob Dylan, entre outros artistas consagrados.
Em 1974, ele sai da Paraíba rumo à cidade maravilhosa com o intuito de engrenar de vez a sua carreira musical, levando a tiracolo uma seleção de músicas para gravar seu primeiro trabalho o disco “Acetato de Mercúrio”.
Lá fazia parte da banda de Alceu Valença também em início de carreira, com o show “Vou Danado pra Catende”, no grupo musical ele tocava viola, e neste show ele cantava uma composição de sua autoria (Jacarepaguá Blues).
Zé lança seu primeiro Disco (Paêbiru) juntamente com Lula Côrtes, Paulo Rafael, Geraldo Azevedo e Alceu Valença pela Gravadora Rozenblit da cidade do Recife com o selo Mocambo, onde tocava vários instrumentos; o disco é dividido nos elementos, Água, Terra, Fogo e Ar. Este disco foi gravado em 2 canais e falava na Pedra do Ingá, um rochedo coberto de misteriosas e indecifradas inscrições. Este álbum nunca foi lançado comercialmente e grande parte das cópias arrastadas pelas águas do Capibaribe na enchente de 1974.
Neste tempo a vida para Zé Ramalho era muito difícil, chegando mesmo a dormir na praça (literalmente) e trabalhava em uma gráfica.
Neste mesmo ano participa da trilha sonora do filme “Nordeste: Cordel, Repente e Canção” da cineasta Tânia Quaresma. A cineasta queria que o Zé fosse o diretor musical do documentário. Ele foi à caça de cantadores e violeiros da região para a escolha do material do filme e com isso acendeu a paixão pelos cantadores nordestinos.
No ano de 1982, Zé Ramalho escreve o livro “Carne de Pescoço”. Onde reuniu vários escritos feitos em quartos de hotéis pelo Brasil afora, diz Zé “Numa solidão danada. Sentia uma compulsão incrível, então não parava de escrever. É uma espécie de música total. Vários parceiros (Fagner, Jorge Mauther, Robertinho do Recife e eu mesmo) apareceram através dos versos desse livro. O livro não se encontra nas livrarias. Foi parte do acervo de renovação de contrato com a CBS”.
Em 2012, lançou o seu primeiro disco de inéditas em cinco anos, Sinais dos Tempos, por meio de sua nova gravadora própria, Avôhai Music.
No dia 22 de setembro de 2013, tocou ao lado da banda de metal Sepultura no palco Sunset do Rock in Rio 2013, no espetáculo que foi chamado de “Zépultura”. O show foi bastante elogiado pela crítica, e agradou ao público presente.
Em novembro de 2014, Zé lançou um álbum ao vivo colaborativo com o cantor e violonista Fagner, intitulado Fagner & Zé Ramalho Ao Vivo.
2016 foi marcado por Zé Ramalho tocar pela primeira vez com uma Orquestra Sinfônica no teatro A Pedra do Reino, de forma a comemorar o aniversário da cidade de João Pessoa. O álbum foi intitulado como Zé Ramalho Sinfônico – Ao Vivo.
Em 2017 houve um lançamento do Box “Zé Ramalho Anos 70”, ao qual teve referências de seu primeiro disco “Paêbiru”. Além de lançar Atlântida, álbum que recupera um show de 1974, quatro anos antes de Zé Ramalho se tornar um sucesso.
Em 2018 foi lançado o álbum “Zé Ramalho na Paraíba” ao vivo nas versões CD e DVD, que contém os principais sucessos da carreira de Zé, no Teatro A Pedra do Reino.
No dia 03 de outubro de 2019 foi lançado o segundo disco e CD da carreira de Zé Ramalho “Cine show Madureira-1979” em parceria com o selo Discobertas, de Marcelo Froés. Zé Ramalho no álbum “A peleja do diabo com o dono do céu” revira suas obras construídas há mais de quatro décadas.
Em depoimento dado a Jorge Salomão em 1998, Zé Ramalho relembra a sua trajetória artística “Eu vim de Brejo do Cruz e tem uma montanha de pedra nessa cidade onde nasci. Morei em Campina Grande, depois fui para João Pessoa, onde tive oportunidade de ouvir rádio. Daí surgiu a vontade de tocar violão ouvindo Vital Farias, compositor que tocava guitarra no conjunto Os Quatro Loucos, em João Pessoa. Uma vez tive uma visão incrível: Os Quatro Loucos tocando na praça e Vital Farias tocava uma guitarra vermelha. Achei aquilo tão bonito”.
O artista aprendeu a tocar violão vendo os outros tocarem ele diz “Vendi um violão para comprar uma guitarra nacional, Giannini. Era a marca que tinha na época. Passei a ser guitarrista solo. Passei a tirar, cópias solos de muitos grupos, a ter habilidades com o instrumento. Quando larguei a guitarra, descobri as violas do Sertão. Fiz imediatamente uma mistura, de forma a fazer aqueles solos com cordas dobradas. Foi uma mudança radical”.
Zé Ramalho recebeu uma grande influência dos cantadores de viola, ele enfatiza “Quando passei a tocar violão descobri o universo do Sertão do Nordeste. Passei a me interessar pelos cantadores, violeiros, o que foi fundamental para mim. Descobri a forma como eles escrevem os folhetos de cordel. Estudei ao lado deles. Eu estava a fim de mergulhar nesse universo, pois sabia que era muito importante para mim. Logo depois comecei a absorver aquela escrita, comecei a fazer as minhas primeiras letras”.
Segundo o artista a leitura de livros esotéricos, poesia, Carlos Castañeda e discos voadores, eram os que mais lhe interessava. Ele diz “Absorvi muita coisa disso tudo no meu trabalho”.
O artista acrescenta “Minha posposta era fazer uma coisa diferente, no sentido das ideias, criar situações, criar imagens com as letras e com o máximo de alucinação possível. Avôhai, por exemplo, tem a descrição de viagem na própria letra da música”.
Zé Ramalho desabafa “É muito difícil você manter o talento num país como o Brasil, não por falta de condições, pois hoje a tecnologia aproxima mais. E pela selvageria da mídia”.
Ele acrescenta “Sou de uma geração privilegiada, madura de vivências múltiplas. Vou viver a passagem do milênio. Sou fascinado por avanço, acho isto muito inspirador: imaginar espaços, outros mundos, outras criaturas, a amplidão. Isto tudo me inspira muito”.
E assim Zé Ramalho vem construindo sua obra, inspirada na literatura de cordel e nos ritmos nordestinos dos cantadores, repentistas e rabequeiros. No cinema, nas histórias em quadrinhos, nos livros de ficção científica, nos seriados de TV, no rock e na mitologia; alinhavando tudo com seu jeito único de se apresentar para seu público no Brasil e fora do país.
Zé tem uma maneira própria de cantar (com sua voz cavernosa), e compor como se estivesse narrando, e em suas composições remetem-nos a imagens, ritmos e tendências diversas.
No ano de 2022, o cantor lançou “Ateu Psicodélico”, um álbum com 12 faixas inéditas, fruto de sua imersão criativa durante a pandemia de COVID-19. Produzido pelo guitarrista Robertinho de Recife, o álbum reconecta o cantor ao movimento psicodélico do Recife dos anos 1970, refletindo uma atmosfera lisérgica e uma mistura de folk, rock e música nordestina. O disco apresenta uma viagem sensorial com letras densas e introspectivas que remetem ao “turbilhão de imagens” que o próprio Zé Ramalho menciona no encarte do CD.
A obra marca o primeiro álbum de inéditas do cantor em uma década, e foi antecipada pelo single “As Onzes Palavras”. Destacam-se faixas como “Olhar Entorpecido”, “O Gosto Fino das Sensações” e “Repentista Marvel”, que conta com a participação de Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura. O sanfoneiro Waldonys também marca presença em “Martelo Armagedon” e “Amanhecer Tantra”, realçando as influências nordestinas.
O CD revisita temas recorrentes de sua discografia, como o misticismo e a expansão da consciência, o álbum foi lançado em parceria entre os selos Avohai Music e Discobertas, reafirmando a relevância de Zé Ramalho no cenário musical brasileiro.
Em comemoração aos seus 45 anos de carreira completados em 2024, o cantor saiu em sua turnê intitulada “Show dos Sucessos”, que percorre várias cidades brasileiras. No repertório, estão clássicos imortais como Chão de Giz, Frevo Mulher, Admirável Gado Novo, Avôhai e Mistérios da Meia-Noite. O artista também apresenta canções do seu novo álbum, como falado anteriormente.
Zé Ramalho já se apresentou em Salvador e Curitiba, e teve um show marcado para o dia 17 de setembro de 2024 em Fortaleza. Os ingressos variaram de R$ 80 a R$ 200, onde foram vendidos online e em pontos físicos, com opções de meia-entrada para estudantes, idosos, entre outros grupos.
O artista é conhecido por sua fusão única de rock com gêneros nordestinos como o repente e o forró, criando uma sonoridade mística e psicodélica que marcou gerações. Além de sua carreira solo, o artista também participou de projetos icônicos como O Grande Encontro e Zépultura. Seus shows são uma celebração de sua trajetória musical e um convite para o público reviver grandes momentos da MPB ao lado de uma das vozes mais inconfundíveis do Brasil.
Tele-temas
Algumas das obras de Zé Ramalho foram utilizadas como temas de novelas e casais, os mais recentes são:
2016 – “Avôhai”, tema de Êta Mundo Bom!
2016 – “Chão de giz” tema de Maurício e Beatriz “Justiça”
2017 – “Garoto de aluguel”, tema de “O Outro Lado do Paraíso”
2018 – “Canção agalopada”, “Frevo mulher” e “Jardim das Acácias”, temas de Onde Nascem os Fortes.
2019 – “Entre a Serpente e a Estrela (Amarillo By Money)”, tema de O Sétimo Guardião.
DISCOGRAFIA
Álbuns de Estúdio:
- Paêbirú (1975)
- Zé Ramalho (1978) – Inclui o hit “Avohai”.
- A Peleja do Diabo com o Dono do Céu (1979) – Contém o clássico “Admirável Gado Novo”.
- A Terceira Lâmina (1981) – Destaque para a faixa-título e “Canção Agalopada”.
- Força Verde (1982) – Traz uma sonoridade mais experimental.
- Orquídea Negra (1983)
- Pra Não Dizer Que Não Falei de Rock (1984)
- De Gosto de Água e de Amigos (1985)
- Opus Visionário (1986)
- Décimas de um Cantador (1987).
- Brasil Nordeste (1991)
- Frevoador (1992)
- Cidades e Lendas (1996)
- Eu Sou Todos Nós (1999)
- Nação Nordestina (2000) – Indicado no Grammy Latino de 2001 na categoria Brazilian Roots/ Regional Album (Raízes Brasileiras/ Melhor Álbum Regional)
- O Gosto da Criação (2002)
- Estação Brasil (2003)
- Duetos (2004)
- Parceria dos Viajantes (2007) – Com participação de artistas como Zeca Baleiro – Indicado no Grammy Latino de 2008 na categoria Best MPB Album (Melhor Álbum de MPB)
- Zé Ramalho da Paraíba (2008)
- Sinais dos Tempos (2012)
- Atlântida (2017)
- Ateu Psicodélico (2022) – Primeiro álbum de inéditas em 10 anos, com destaque para a faixa-título.
Projetos Especiais:
- 20 Anos – Antologia Acústica (1997) – Maior sucesso comercial, vencedor do Prêmio Sharp.
- Zé Ramalho Canta Raul Seixas (2001) – Tributo ao amigo e ídolo Raul Seixas.
- Zépultura (2003) – Colaboração com a banda Sepultura no Rock in Rio.
- Zé Ramalho Canta Bob Dylan (2008) – Álbum de versões em português de músicas de Bob Dylan.
- Zé Ramalho Canta Luiz Gonzaga (2009) – Tributo a Luiz Gonzaga, um de seus grandes ídolos.
- Zé Ramalho Canta Jackson do Pandeiro (2010) – Álbum-tributo com grandes sucessos de Jackson do Pandeiro regravado em sua voz.
- Zé Ramalho Canta Beatles (2011) – Último tributo da série “Zé Ramalho Canta”, encerrando sua homenagem aos cantores que o inspiraram.
- Frevo Mulher (Remixes) (2019) – Álbum inspirado na cantora Amelinha, musa e grande amor de Zé Ramalho.
Álbuns Ao Vivo:
- O Grande Encontro (1996) – Ao lado de Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo
- O Grande Encontro 2 (1997)
- Ao Vivo (30 Anos de Música) (2008)
- Fagner & Zé Ramalho Ao Vivo (2015)
Fontes:
Depoimentos/falas do artista Zé Ramalho/ foram dados a Jorge Salomão, no dia 17 de Fevereiro de 1998/Jerimum Produções, Rio de Janeiro.
http://ramalheando.blogspot.com.br/2008/02/biografia.html
http://musica.com.br/artistas/ze-ramalho/biografia.html
http://www.letras.com.br/#!biografia/ze-ramalho
http://www.vagalume.com.br/ze-ramalho/biografia/
Pesquisador: José Paulo Ribeiro, e-mail: zepaulocordel@gmail.com
http://www.zeramalho.com.br/sec_news.php?page=1&id_type=2&id=27
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Z%C3%A9_Ramalho
https://www.letras.mus.br/ze-ramalho/discografia/
*Atualizado por Gabrielle Viana das Chagas em setembro de 2024.