Naturalidade: Teixeira-PB
Nascimento: Ano de 1886 / Falecimento: 24 de dezembro de 1954
Atividades artístico-culturais: Cordelista e repentista.
Quem viu Zé Limeira ao vivo e a cores testemunhou uma figura ímpar em comportamento e aparência. Usava diversos anéis nos dedos, uma bengala de aroeira, óculos escuros estilo “ray-ban” e um lenço colorido em volta do pescoço. Carregava sempre seu violão adornado com dezenas de fitas multicores, costumava beber “zinebra”, que carregava em seu matulão.
Zé Limeira, foi o cordelista/repentista mais mitólogico do Brasil. Era conhecido como o poeta da absurdo. Percorria as estradas do sertão a pé, morria de medo de trem – o “embuá de ferro” – e o único veículo no qual subia era carro de boi, que era “abençoado por Deus”. Era de uma excentricidade digna de um astro de rock.
Todavia, o que realmente destacava Zé Limeira dos demais cantadores que frequentavam feiras e festas era, além de uma voz poderosa, o seu estilo surreal e anárquico, que davam nó em qualquer violeiro que pelejasse com ele, e divertia os presentes. Em suas rimas misturava personagens e cenários bíblicos e históricos com os elementos do sertão, inventando palavras e termos.
Era um verdadeiro pop-star do Nordeste, popular entre os humildes e poderosos, que se divertiam nas pelejas entre ele e o infeliz que o encarasse, já que normalmente o pobre ficava eclipsado pela língua felina e os improvisos malucos do cantador. Ele afirmava que era necessário o fôlego de sete gatos para acompanhá-lo, tanto na cantoria quanto no caminhar – consta que ele caminhava sessenta quilômetros por dia, embreado na caatinga.
O também poeta Orlando Tejo foi o grande responsável pelo registro da poesia de Zé Limeira, tendo o ouvido pela primeira vez em 1940. Tejo, registrou os versos do cantador e publicou o livro “Zé Limeira, poeta do absurdo”, no ano de 1980. Há quem diga que Zé Limeira é apenas uma lenda inventada por cantadores e poetas, e que tal figura nunca existiu. Como não existem fotos e nem registros gravados, o ceticismo de muitos é forte, e acusam o escritor Orlando Tejo de ter criado essa figura tão inverossímil.
Na Enciclopédia Nordeste, Orlando Tejo faz do poeta uma descrição que dispensa imagens: “Estava na época com 15 anos, mas já era piolho de cantoria desde os 13. Vou passando por uma rua, a rua dos antigos cabarés da cidade, de tardezinha, passeando. E ouço uma voz inusitada, eu e um companheiro, a gente se aproximando dessa voz. Tinha uma viola no meio. Aí houve o alumbramento: a figura mais estranha que eu já vi no mundo. Tinha um cantador normal, que se chamava Cícero Vieira, mais conhecido como Mocó, e o outro era o próprio Zé Limeira. O primeiro momento foi de susto. Naquela época, 1950, o sujeito com uma viola psicodélica, verde, azul, amarela, branca, de toda cor, as 12 clavículas tinham três, quatro fitas multicores, compridas, penduradas, quase 30 fitas. E a ventania que entrava no bar ia fazendo aquele moinho, as fitas por cima dele, como bandeirolas ao vento. Com óculos bem escuros, isso era de tardezinha, paletó azul e um lenço vermelho amarrado no pescoço. Fazia um nó aqui, muito grande, e um anel desses de feira, pendurado no nó. E nos dedos, negócio de 15 ou mais anéis, pedras de todas as cores. Era um espetáculo visual”.
A seguir, dois poemas de autoria de Zé Limeira:
O meu nome é Zé Limeira
De Lima, Limão , Limansa
As estradas de São Bento
Bezerro de Vaca Mansa
Valha-me, Nossa Senhora
Ai que eu me lembrei agora:
Tão bombardeando a França
Ninguém faça pontaria
Onde o chumbo não alcança
E vou comprá quatro livro
Prá estudá leiturança
Bem que meu pai me dizia:
Jesus , José e Maria,
São João das Orelha mansa
Ainda não tinha visto
Beleza que nem a sua,
De cipó se faz balaio
A beleza continua
Sete-Estrelo, três Maria
Mãe do mato pai da lua
A beleza continua
De cipó se faz balaio
Padre-Nosso, Ave-Maria,
Me pegue senão eu caio
Tá desgraçado o vivente
Que não reza o mês de maio
Sei quando Jesus nasceu,
Num dia de quinta-feira,
Eu fui uma testemunha
Sentado na cabeceira
São José chegou com um facho
De miolo de aroeira
Um dia o Reis Salamão
Dormiu de noite e de dia,
Convidou Napoleão
Pra cantá pilogamia
Viva a Princesa Isabé
Que já morô em Sumé
No tempo da monarquia
Zé Limeira quando canta
Estremece o Cariri
As estrêla trinca os dente
Leão chupa abacaxi
Com trinta dias depois
Estoura a guerra civí.
Este, o mais famoso dos textos do cordelista do absurdo:
O Marechal Floriano
Antes de entrar pra Marinha
Perdeu tudo quanto tinha
Numa aposta com um cigano
Foi vaqueiro vinte ano
Fora os dez que foi sargento
Nunca saiu do convento
Nem pra lavar a corveta
Pimenta só malagueta
Diz o Novo Testamento!
Pedro Álvares Cabral
Inventor do telefone
Começou tocar trombone
Na volta de Zé Leal
Mas como tocava mal
Arranjou dois instrumento
Daí chegou um sargento
Querendo enrabar os três
Quem tem razão é o freguês
Diz o Novo Testamento!
(…)
Quando Dom Pedro Segundo
Governava a Palestina
E Dona Leopoldina
Devia a Deus e o mundo
O poeta Zé Raimundo
Começou castrar jumento
Teve um dia um pensamento:
“Tudo aquilo era boato”
Oito noves fora quatro
Diz o Novo Testamento!
Fontes:
http://narotadapoesia.blogspot.com.br/2011/05/ze-limeira-o-poeta-do-absurdo.html
http://acordacordel.blogspot.com.br/2013/08/ze-limeira-o-poeta-do-absurdo.html
http://blogdaboitempo.com.br/2012/10/30/ze-limeira-o-poeta-do-absurdo/
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/paraiba/ze_limeira.html
http://patosonline.com/post.php?codigo=29501
http://www.jornalistasecia.com.br/edicoes/culturapopular08.pdf