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Data de publicação do verbete: 29/06/2015

Zé Limeira

Foi o cordelista/repentista mais mitológico do Brasil. Era conhecido como o poeta da absurdo. Era um verdadeiro pop-star do Nordeste.
Data de publicação: junho 29, 2015

Naturalidade: Teixeira-PB

Nascimento: Ano de 1886 / Falecimento: 24 de dezembro de 1954

Atividades artístico-culturais:  Cordelista e repentista.

 

Quem viu Zé Limeira ao vivo e a cores testemunhou uma figura ímpar em comportamento e aparência. Usava diversos anéis nos dedos, uma bengala de aroeira, óculos escuros estilo “ray-ban” e um lenço colorido em volta do pescoço. Carregava sempre seu violão adornado com dezenas de fitas multicores, costumava beber “zinebra”, que carregava em seu matulão.

Zé Limeira, foi o cordelista/repentista mais mitólogico do Brasil. Era conhecido como o poeta da absurdo. Percorria as estradas do sertão a pé, morria de medo de trem – o “embuá de ferro” – e o único veículo no qual subia era carro de boi, que era “abençoado por Deus”. Era de uma excentricidade digna de um astro de rock.

Todavia, o que realmente destacava Zé Limeira dos demais cantadores que frequentavam feiras e festas era, além de uma voz poderosa, o seu estilo surreal e anárquico, que davam nó em qualquer violeiro que pelejasse com ele, e divertia os presentes. Em suas rimas misturava personagens e cenários bíblicos e históricos com os elementos do sertão, inventando palavras e termos.

Era um verdadeiro pop-star do Nordeste, popular entre os humildes e poderosos, que se divertiam nas pelejas entre ele e o infeliz que o encarasse, já que normalmente o pobre ficava eclipsado pela língua felina e os improvisos malucos do cantador. Ele afirmava que era necessário o fôlego de sete gatos para acompanhá-lo, tanto na cantoria quanto no caminhar – consta que ele caminhava sessenta quilômetros por dia, embreado na caatinga.

O também poeta Orlando Tejo foi o grande responsável pelo registro da poesia de Zé Limeira, tendo o ouvido pela primeira vez em 1940. Tejo, registrou os versos do cantador e publicou o livro “Zé Limeira, poeta do absurdo”, no ano de 1980. Há quem diga que Zé Limeira é apenas uma lenda inventada por cantadores e poetas, e que tal figura nunca existiu. Como não existem fotos e nem registros gravados, o ceticismo de muitos é forte, e acusam o escritor Orlando Tejo de ter criado essa figura tão inverossímil.

Na Enciclopédia Nordeste, Orlando Tejo faz do poeta uma descrição que dispensa imagens: “Estava na época com 15 anos, mas já era piolho de cantoria desde os 13. Vou passando por uma rua, a rua dos antigos cabarés da cidade, de tardezinha, passeando. E ouço uma voz inusitada, eu e um companheiro, a gente se aproximando dessa voz. Tinha uma viola no meio. Aí houve o alumbramento: a figura mais estranha que eu já vi no mundo. Tinha um cantador normal, que se chamava Cícero Vieira, mais conhecido como Mocó, e o outro era o próprio Zé Limeira. O primeiro momento foi de susto. Naquela época, 1950, o sujeito com uma viola psicodélica, verde, azul, amarela, branca, de toda cor, as 12 clavículas tinham três, quatro fitas multicores, compridas, penduradas, quase 30 fitas. E a ventania que entrava no bar ia fazendo aquele moinho, as fitas por cima dele, como bandeirolas ao vento. Com óculos bem escuros, isso era de tardezinha, paletó azul e um lenço vermelho amarrado no pescoço. Fazia um nó aqui, muito grande, e um anel desses de feira, pendurado no nó. E nos dedos, negócio de 15 ou mais anéis, pedras de todas as cores. Era um espetáculo visual”.

 

A seguir, dois poemas de autoria de Zé Limeira:

 

O meu nome é Zé Limeira

De Lima, Limão , Limansa

As estradas de São Bento

Bezerro de Vaca Mansa

Valha-me, Nossa Senhora

Ai que eu me lembrei agora:

Tão bombardeando a França

 

Ninguém faça pontaria

Onde o chumbo não alcança

E vou comprá quatro livro

Prá estudá leiturança

Bem que meu pai me dizia:

Jesus , José e Maria,

São João das Orelha mansa

 

Ainda não tinha visto

Beleza que nem a sua,

De cipó se faz balaio

A beleza continua

Sete-Estrelo, três Maria

Mãe do mato pai da lua

 

A beleza continua

De cipó se faz balaio

Padre-Nosso, Ave-Maria,

Me pegue senão eu caio

Tá desgraçado o vivente

Que não reza o mês de maio

 

Sei quando Jesus nasceu,

Num dia de quinta-feira,

Eu fui uma testemunha

Sentado na cabeceira

São José chegou com um facho

De miolo de aroeira

 

Um dia o Reis Salamão

Dormiu de noite e de dia,

Convidou Napoleão

Pra cantá pilogamia

Viva a Princesa Isabé

Que já morô em Sumé

No tempo da monarquia

 

Zé Limeira quando canta

Estremece o Cariri

As estrêla trinca os dente

Leão chupa abacaxi

Com trinta dias depois

Estoura a guerra civí.

 

Este, o mais famoso dos textos do cordelista do absurdo:

 

O Marechal Floriano

Antes de entrar pra Marinha

Perdeu tudo quanto tinha

Numa aposta com um cigano

Foi vaqueiro vinte ano

Fora os dez que foi sargento

Nunca saiu do convento

Nem pra lavar a corveta

Pimenta só malagueta

Diz o Novo Testamento!

 

Pedro Álvares Cabral

Inventor do telefone

Começou tocar trombone

Na volta de Zé Leal

Mas como tocava mal

Arranjou dois instrumento

Daí chegou um sargento

Querendo enrabar os três

Quem tem razão é o freguês

Diz o Novo Testamento!

 

(…)

Quando Dom Pedro Segundo

Governava a Palestina

E Dona Leopoldina

Devia a Deus e o mundo

O poeta Zé Raimundo

Começou castrar jumento

Teve um dia um pensamento:

“Tudo aquilo era boato”

Oito noves fora quatro

Diz o Novo Testamento!

 

 

 

Fontes:

http://narotadapoesia.blogspot.com.br/2011/05/ze-limeira-o-poeta-do-absurdo.html

http://acordacordel.blogspot.com.br/2013/08/ze-limeira-o-poeta-do-absurdo.html

http://blogdaboitempo.com.br/2012/10/30/ze-limeira-o-poeta-do-absurdo/

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/paraiba/ze_limeira.html

http://patosonline.com/post.php?codigo=29501

http://www.jornalistasecia.com.br/edicoes/culturapopular08.pdf

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