Naturalidade: Ferreiros-PE
Nascimento: 1930 / Falecimento: 30 de janeiro de 2012, João Pessoa-PB.
Atividades artístico-culturais: Cineasta, jornalista, crítico de cinema e professor.
Filmes/Documentários: Aruanda (1960); O Cajueiro Nordestino (1962) e Salário de Morte (1971).
Linduarte Noronha de Oliveira nasceu em Pernambuco, mas fez sua carreira na Paraíba. Além de exercer atividades artísticas e culturais ele foi Procurador de Justiça. De 1974 a 1991, esteve na presidência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep) e lutou pela preservação dos bens culturais, numa época em que ainda não se valorizava o patrimônio fossilífero. Ele teve um papel importante na defesa do Vale dos Dinossauros. Hoje, o patrimônio paleontológico é de propriedade da União, pertence ao povo brasileiro.
Antes de ser cineasta, o diretor, que tinha fama de ser exigente, era jornalista e crítico de cinema em diários da Paraíba. Um dos distribuidores de filmes da cidade, irritado com os textos negativos sobre seus produtos, o apelidou de Bílisduarte Noronha.
Quando jovem ele deslocou-se a cidade do Rio de Janeiro para pedir a Humberto Mauro, então presidente do Ince (Instituto Nacional do Cinema Educativo), que lhe emprestasse câmera e outros apetrechos. Diz que formulou o pedido a Mauro, que, de tão surpreso, gritou a um funcionário: “Esse rapaz da Paraíba quer que todos nós sejamos presos!” Mas como Mauro não era diretor igual aos outros, escravo da burocracia; Linduarte saiu do instituto com uma câmera Bell & Howell debaixo do braço. Voltou com ela à Paraíba e lá começou a fazer história, ainda que sob a descrença e chacota de seus colegas da redação.
Linduarte Noronha é considerado uma personalidade da história do cinema. É um dos pioneiros do cinema local. Ele adaptou um texto jornalístico próprio (As Oleiras de Olho d’Água na Serra do Talhado, 1958) para rodar seu curta-metragem de estreia, Aruanda. Depois disso, o filme no Brasil nunca mais seria o mesmo. O filme, sua principal obra, promoveu grandes modificações estéticas na cinematografia brasileira e é considerado um precursor do movimento Cinema Novo no Brasil, no fim da década de 1950.
Aruanda, de Linduarte Noronha, um divisor de águas no cinema documental brasileiro projetou o cineasta, regional, nacional e internacionalmente. “Aruanda” originou ainda toda uma escola de documentários na Paraíba, a partir principalmente de companheiros de equipe do Diretor Noronha: Vladimir Carvalho e João Ramiro Mello, seus assistentes de direção, Rucker Vieira (cinegrafista e fotógrafo) e Jurandy Moura.
O documentário Aruanda teve suas filmagens entre os meses de janeiro e fevereiro de 1960 e foram filmadas durante cerca de 40 dias, na região da Serra do Talhado, na cidade de Santa Luzia do Sabagi, no interior paraibano. Por pouco o filme não seria chamado de Talhado, a cidadela de barro, como uma vez imaginou Linduarte.
O financiamento do filme só foi possível por meio do incentivo do Instituto Joaquim Nabuco, pela Associação de Críticos Cinematográficos da Paraíba e, principalmente, pelo Instituto Nacional de Cinema Educativo – INCE, que por muito tempo tivera como principal cineasta Humberto Mauro.
Aruanda conta a história de uma comunidade rural quilombola desconhecida de antigos negros escravos no interior da Paraíba. O filme mostra-nos a fabricação do tacho, o deslocamento para a feira mais próxima para a sua comercialização, com um pano de fundo sobre a luta eterna entre o homem e a natureza, dura e agreste, no semiárido brasileiro.
O então jovem critico baiano Glauber Rocha comparou-o ao Rossellini da aurora do neo-realismo. Jean-Claude Bernardet o louva como “simultaneamente documento e interpretação da realidade”.
Em suma, o filme de Linduarte Noronha nunca saiu de cartaz durante esse meio século de existência. Um dos significados da palavra Aruanda é liberdade.
Em 1962, Noronha (roteiro e direção) em parceria com Rucker Vieira (fotografia e montagem) inspirado na monografia de Mauro Motta, retrata o ciclo do caju e a importância do fruto para as comunidades pobres das cercanias de João Pessoa, com o filme “Cajueiro Nordestino”. Ele também foi responsável pelo primeiro longa-metragem de ficção do cinema da Paraíba, Salário de Morte, de 1971.
Linduarte se frustrou ao não conseguir adaptar o romance “A Bagaceira”, de José Américo, considerado tão importante para a literatura nacional moderna quanto Noronha para o Cinema Novo.
Mesmo tendo nascido no vizinho estado de Pernambuco, Noronha era paraibano de coração. Ele foi homenageado em 2010, pelos 50 anos de carreira no Fest Aruanda, festival de cinema paraibano que carrega o nome de seu filme.
“Nunca pertenci a partidos ideológicos ou religiosos”, disse ele para o documentário Kohbac – A Maldição da Câmera Vermelha que foi exibido no Canal Brasil no ano de 2012.
Linduarte Noronha faleceu em janeiro do ano de 2012, aos 81 anos de idade, na cidade de João Pessoa devido a uma parada respiratória.
A Paraíba perde seu mais celebrado cineasta. O Brasil perde, sobretudo, um humanista que usou a palavra, a fotografia, o rádio e o cinema para exercer uma singular militância que nenhum vínculo mantinha com partidos ou ideologias, tão familiares naqueles anos sessenta.
Linduarte Noronha deixa uma biografia inacabada, com centenas de páginas, e um legado inestimável para o cinema brasileiro. “Não é apenas um cineasta, não é apenas um personagem famoso. É o símbolo da realização do cinema que busca ser brasileiro, que busca ser nordestino”. Lamentou a Academia Paraibana de Cinema, representada pelo presidente Wills Leal.
Fontes:
http://abraccine.org/2012/02/01/triste-e-a-semana-em-que-morre-linduarte-noronha/
http://imagensamadas.com/2012/01/31/camarada-linduarte/
http://www.casacinepoa.com.br/o-blog/jorge-furtado/linduarte-noronha
http://revistaquemviververa.blogspot.com.br/2012/01/linduarte-noronha-uma-das-sementes-do.html
http://pipocamoderna.com.br/linduarde-noronha-1930-2012/145116