Naturalidade: Campina Grande- PB
Nascimento: 1935
Falecimento: 2018
Formação artístico educacional: Jornalista e Bacharel em Direito.
Atividades artístico-culturais: Poeta, ensaísta e folclorista.
Atividade / Exercício Profissional: Professor, Jornalista, Advogado, Redator da Fregapane & Associados, uma agência de publicidade do Recife.
Publicações de sua autoria: Conceição 63; Impasse; Soneto dos dedos que falam, e Zé Limeira: O poeta do absurdo (1980).
Orlando Tejo apaixonou-se pela cantoria ainda menino. Quando começou a trabalhar na Rádio Caturité-Campina Grande-PB, Com o AI-5, em 68-69, suas colunas nos jornais de João Pessoa e Recife tinham que vir sem a sua assinatura. Enquanto isso ele pesquisava principalmente a vida e obra do poeta Zé Limeira, o poeta do absurdo “tropicalista rude, que trouxe a vocação do fantástico. O único surrealista bárbaro perdido nos sertões do Nordeste.” Foi através do seu parceiro de Rádio Universitária, José Rômulo Mesquita Martins que Orlando conheceu os versos estrambóticos de Zé Limeira.
Orlando cantava desde os 13 anos. Conheceu Zé Limeira aos 15 quando passava na rua e ouviu uma voz inusitada ao som de uma viola. Junto com o cantador Cícero Vieira mais conhecido como Mocó, lá estava Zé Limeira. Tejo teve a oportunidade de apresentar seu trabalho e aprender novos ritmos e estilos musicais.
Tejo relembra com detalhes “Consegui um gravador da Rádio Caturité, um bichão quadrado, deste tamanho assim. Ia ser num determinado salão, mas não tinha tomada de corrente, a gente foi para outro. Isto foi oito dias depois da morte de Getúlio (Vargas). Esta cantoria foi fantástica. Perdeu-se um bocado porque a fita ninguém sabia manejar, e grande parte da cantoria se perdeu. Danado é que depois se perdeu toda, eu transcrevi o que podia e está no livro. Tem outra fita, de Cajazeiras, que Nestor Rolim, meu amigo, gravou todinha, esta cantoria de Zé Limeira e Zé Alves Sobrinho, na fazenda Melancias. Transcreveu, ficou de me dar à fita, depois se esqueceu, e foi ficando por isso mesmo. Tinha uma também, de Lagoa Seca. Mas era um gravador de um agrônomo que não morava lá. De forma que a voz dele se perdeu, não ficou nenhum registro, é uma pena”.
Orlando Tejo acompanhou Zé Limeira quatro anos, de 1950 a 1954. Trabalhando como redator em uma agência na cidade do Recife, Orlando ficou aborrecido e indignado com aqueles que insistiam em vilipendiar a língua portuguesa, e escreveu de improviso um bem-humorado poema, que embora tenha sido escrito em 1979, ainda está bastante atual. O poema tem o título de “Não Aguento mais”. Outros poemas de Orlando Tejo são: Conceição 63; Impasse; Soneto dos dedos que falam.
Soneto Dos dedos que falam
Que importa que foguetes cruzem marte
E bombas de hidrogênio acabem tudo,
Se aos meus dedos, teus dedos de veludo
Ensinam que o amor é também arte?
Não desejo mais nada além de amar-te
E em êxtase viver, absorto e mudo,
Sorvendo da ternura o conteúdo
Que antes te buscava em toda parte!
Esses dedos que afago entre meus dedos,
Que acaricio a desvendar segredos
De amor nestes momentos que nos prendem,
Têm qualquer coisa que escraviza e doma,
Porque teus dedos falam num idioma
Que só mesmo meus dedos compreendem!
Conceição 63
Rua da conceição, sessenta e três
(a artéria tem o ar de um cais comprido)
aqui, anos sem fim tenho vivido
buscando a infância azul que se desfez.
Talvez seja isso um sonho, mas talvez
este meu velho abrigo tenha sido
da mesma argila minha construído,
porque é a mesma a nossa palidez!
Ele a mim se assemelha: é ermo e trist.
No jardim, no quintal, no chão, no teto
em tudo a mesma semelhança existe.
No tempo, entanto, aos céleres arrancos,
o seu telhado vai ficando preto
e os meus cabelos vão ficando brancos
Impasse
Se ficar onde estou não faço nada,
Se sair por aí corro perigo,
Se me calo minhalma é sufocada,
Se disser o que sei faço inimigo…
Se pensar vou trair a madrugada
E se sonho demais vem o castigo,
Se quiser subo até o fim de escada,
Mas precisa brigar, e eu não brigo!
Se cantar atropelo o contracanto,
Se não canto maltrato o coração,
Se me faço sofrer me desencanto,
Se reprimo o ideal perco a razão,
Se perder a razão, resta-me o pranto
E meu pranto não faz uma canção.
Extraído da revista POESIA SEMPRE, Número 29, Ano 15, 2008, edição Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/paraiba/orlando_tejo.html
http://www.jornaldepoesia.jor.br/otejo1.html
http://www.drzem.com.br/2009/08/orlando-tejo-se-estamos-no-brasil-o.html
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/paraiba/orlando_tejo.html