Naturalidade: Piracuruca – PI
Nascimento: 3 de setembro de 1942 / Radicou-se em Campina Grande – PB, no ano de 1960
Falecimento: 27 de abril de 1999, em João Pessoa – PB
Atividades artístico–culturais: Cineasta, fotógrafo, escritor, historiador, memorialista, jornalista e professor de cinema.
Premiações: Em 1968 recebeu uma das mais importantes premiações da fotografia mundial, A Medalha de Prata no XX Salão Internacional de Arte Fotográfica de Bordeux. O seu filme mais premiado e considerado a sua melhor realização cinematográfica foi Parahyba, do ano de 1985, feito sob a encomenda da Comissão do XIV Centenário da Paraíba. A película venceu os prêmios de melhor filme sobre a temática Nordestina no Fest Céara /Prêmio de Melhor Fotografia no Fest Cine Maranhão/ Menção Honrosa no Festival de Brasília, no ano de 1985. Foi premiado com “O Último Coronel” / melhor filme / Rio – São Paulo produzido no Brasil na Jornada de Salvador em 1975; e Campina Grande, da Prensa de Algodão, da Prensa de Gutemberg / Vencedor do prêmio de seleção Embrafilme INC, também de 1975.
Títulos/Outros: Patrono da cadeira nº 28 da Academia Paraibana de Cinema. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Campina Grande e da cidade de Goiânia (PE), coordenador do acervo inicial da exposição de abertura do Museu do Algodão e presidente da Fundação Cultural Luiz Carlos Virgulino.
Juremi Machado Bittencourt Pereira nasceu numa cidade pequena e desconhecida do Estado do Piauí. Filho de Francisca de Brito Machado Bittencourt e José Bittencourt Pereira. Cursou o primário em sua terra natal, estudando em escolas públicas, como o Ateneu Municipal Piracuruquense, onde seu pai era professor. Fez o curso ginasial no Colégio São Luiz Gonzaga, em Parnaíba – PI.
Mudou-se para Campina Grande na Paraíba, aos 18 anos de idade. E logo se identificou com o povo e com a história da cidade. Mesmo viajando por todo o Brasil, e às vezes pelo mundo afora, chegando a morar em outras cidades, nunca deixou de ter vínculos afetivos com a Rainha da Borborema.
No início da década de 1960, Machado fazia o curso de Direito na Universidade Regional do Nordeste – URNE (hoje Universidade Estadual da Paraíba) em Campina Grande, contudo devido as suas ações durante o período militar acabou não terminando o curso, perdendo a matricula em uma suspensão que durou por vários anos. Com isso, teve que ausentar-se para o Uruguai, segundo ele “voluntariamente”, escapando, assim do ato Institucional nº 5, de 1968.
Em depoimento a Eliabe de Castro Machado Bitencourt expôs que estivera presente na famosa 30º Congresso da UNE em Ibiúna-SP. Entretanto, ele nunca deu detalhes sobre as suas atividades neste período conturbado da História do Brasil, seja em Campina Grande, ou em outros lugares do país. Um pouco antes do A-I5, período do governo Costa e Silva que ficou marcado como um dos períodos mais duros do regime militar, que vigorou de 1968 a 1978.
O artista chegou ao cinema através da fotografia, trabalhando na sucursal do Correio da Paraíba no ano de 1963 na qualidade de “foca”, ou seja, de iniciante. Neste mesmo ano, começava a funcionar em Campina Grande a TV Borborema, um dos poucos TVs do interior do Brasil. Sem deixar o Correio da Paraíba e as máquinas fotográficas, Bittencourt se introduziu no mundo da televisão através da prestação de serviços como cinegrafista “freelance”. No começo, ele apenas filmava acontecimentos sociais, inaugurações e banquetes, mas logo o uso permanente da câmara o obrigou a proceder em um aprendizado melhor do cinema, lendo vários livros clássicos, entre eles as obras de George Sadoul.
Machado iniciou uma série de reportagens filmadas sobre a tese da Descoberta do Brasil pelos Fenícios, viajando por todo o Nordeste. Apesar das críticas dos analistas devido à ausência de qualidades do material filmado, ele não desistiu de fazer cinema e continuou sua luta.
Em 1966, inicia-se um período fértil de produção de filmes na Paraíba, graças ao incentivo do sucesso de Aruanda no início da década de 1960. Entre os realizadores estavam: Paulo Melo, Ipojuca Pontes, Alex Santos, Virginius de Gama e Melo, e outros. Este último convidou Machado Bittencourt para realizar a fotografia do filme “Contraponto Sem Música”.
Depois de trabalhar em João Pessoa durante cinco anos como fotógrafo freelance, e produtor de sistemas audiovisuais, Machado decidiu fazer Jornalismo, no curso de Comunicação Social da URNE/UEPB, pois não desejava, e como também não poderia cursar Direito, pois sua matricula tinha sido cancelada. Inicia-se assim uma nova fase na vida de Machado Bitencourt, agora, cada vez mais ligado ao mundo da comunicação.
O seu retorno à cidade de Campina Grande foi marcado pelas filmagens do documentário “A Feira”, no ano de 1967, em parceria com Luiz Barroso. A feira de Campina Grande até hoje é uma das mais famosas do Brasil. Foi a primeira produção de Machado Bittencourt.
Iniciou na URNE (primeiramente como aluno, depois como professor) e percebeu a necessidades de trabalhar mais profissionalmente no ramo do qual escolhera viver, o mundo do jornalismo, da propaganda, da fotografia e do cinema.
Através do convívio com o mercado de trabalho mais estreito em Campina Grande, ligado quase que exclusivamente as empresas privadas, ele optou por trabalhar na oferta de serviços de produção publicitária da TV Borborema. Com isso ele fundou no ano 1974 – A Cinética Filmes Ltda. A empresa funcionou em Campina Grande até o ano de 1985. Representou um dos raros estúdios cinematográficos de bitola 16 mm que funcionou no país.
A Cinética Filmes desenvolveu uma intensa atividade no campo da Comunicação Social, produzindo filmes destinados ao uso e transmissão na TV Borborema, além de comerciais ou vídeos institucionais.
Segundo Linduarte Noronha A Cinética foi criação aos moldes da Vera Cruz, respeitando as latitudes, mas a filosofia era empresarial. “Assustei-me, um dia, quando ele me levou a Campina Grande para ver sua empresa. Não acreditei. Era uma miniatura de cinema indústria, no bom sentido”.
Na concepção do escritor e jornalista Wills Leal “Uma Hollywood de um Nordeste miserável, com seu único dono-dirigente próximo de Sancho Pança, sim, mas com a sensibilidade, as virtudes e a pertinência de Dom Quixote”.
A empresa operou num galpão anexo ao prédio da família Bittencourt. Entre o prédio e o galpão, com uma largura aproximada de dois metros, existia O Beco do Cinematógrafo. A empresa esteve durante onze anos nesse local, no final da Rua João Suassuna, no bairro do Monte Santo, uma das zonas mais pobres da cidade de Campina Grande.
Havia uma parceria não oficializada entre a FURNE (Fundação Regional do Nordeste) e a empresa, visto que as instalações da Cinética serviram de laboratório para os colegas e, depois, alunos de Machado nas disciplinas de Técnicas de Cinema e Jornalismo Cinematográfico.
Segundo o professor Rômulo Azevedo suas aulas eram muito práticas “O professor Machado não gostava muito da sala de aula, preferia as aulas em campo onde passava seus ensinamentos na prática”.
A empresa que operou muito anos em Campina Grande contribuiu enormemente para produção cinematográfica local, seja na fabricação, idealização e no sonho de fazer cinema na Paraíba. Encerrada as atividades, no ano de 1985, em por falta de mercado, o empreendimento transferiu-se para a cidade de Santa Rita, na grande João Pessoa.
Machado Bittencourt produziu cerca de 200 filmes, entre documentários, ficções, reportagens cinematográficas, comerciais e propagandas políticas. Segundo Wills Leal os filmes de Machado eram em sua maioria realizados com uma intensa improvisação, muitas vezes sem roteiros, apenas com “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”, para usarmos a afamada máxima de Glauber Rocha, e em condições materiais encontradas em cada momento. Sendo que as características gerais de linguagem de seus filmes eram quase sempre expostas de forma artesanal, com uma estética e técnicas primitivas.
Rômulo Azevedo destaca esse lado pragmático e muitas vezes inventivo do cineasta “Machado não era um cinéfilo, era um fotógrafo que também adorava fazer filmes. Nunca conversei com Machado sobre cineastas e filmes, o negócio dele não era “ver” era “fazer”. Cada um assimila o cinema de acordo com suas predileções, Machado, como todo bom fotógrafo, gostava de imprimir película, quanto mais filmar melhor”.
Ele produziu duas ficções em longas metragens em Campina Grande, a primeira foi “Maria Coragem”, em 1978, e a segunda “O Caso de Carlota”, do ano de 1982. Ambos os filmes produzidos como matéria prática para os alunos das cadeiras de Técnicas de Cinema e Jornalismo Cinematográfico, no curso de jornalismo da FURNE.
Apesar das limitações técnicas, de todo o “amadorismo, baixa produção e um forte apelo à linguagem do cinema mudo”, como se referiu Wills Leal, ambos os filmes são importantíssimos para a história da cidade de Campina Grande. Maria Coragem, por exemplo, foi o primeiro longa-metragem ficcional realizado na cidade e um dos primeiros filmes feitos desta natureza dentro de uma universidade brasileira.
No ano de 1985, Machado produziu o filme “Parahyba”, feito sob a encomenda da Comissão do XIV Centenário da Paraíba. A película recebeu vários prêmios.
Na primeira metade da década de 1980, Machado Bittencourt viveu uma crise financeira grave, que aliada aos problemas econômicos nacionais dos Governos Sarney e Collor anos depois, fizeram-no mudar em parte as suas atividades no mercado publicitário.
Em meio ás adversidades, Machado ainda foi um dos fundadores da Fundação Nordestina de Cinema (FUNCINE), que teve seu fim quando o Governo Collor de Mello encerrou a participação da Embrafilme em 1990. Depois de Parahyba ainda fez “Águas do São Francisco” em 1993.
Sua saída de Campina Grande para João Pessoa não proporcionou bons resultados. Machado não acompanhou as mudanças e acabou colecionando várias dívidas. Pouco a pouco foi se desfazendo dos equipamentos de sua Cinética. Anos à frente, já velho e doente Machado definha vendo o seu sonho desmoronar.
E apesar de gostar tanto de Campina Grande, Machado Bittencourt veio a falecer na capital paraibana, em 27 de abril de 1999. Morre esquecido pela Paraíba. Foram vários anos de ostracismo, de 1985 a pouco mais 2004, quando sua memória foi revisitada.
Entrou para a história como patrono da cadeira nº 28 da Academia Paraibana de Cinema.
Machado Bittencourt deixou um fantástico acervo onde foi contabilizada a surpreendente soma de 170 mil fotografias, nos mais variados formatos, tamanhos, temas e estilos.
No fotojornalismo ele registrou as primeiras imagens do “Massacre das Ligas Camponesas em Sapé”, durante a Ditadura militar, à sensibilidade artística expressa em imagens manipuladas em laboratório, seus trabalhos em fotografia ilustram revistas como a Foto-Arte, Modem Photography, Iris e Photo, entre outras. Foram vários anos de exclusão, de 1985 a pouco mais 2004, quando sua memória foi revisitada.
Em 2006, seu acervo seria arquivado no Espaço Cultural José Lins do Rêgo em João Pessoa-PB. Machado deixou um acervo de 591 rolos de filmes cinematográficos, documentários, e reportagens gravadas em 8, 16 e 35 mm. Este material foi acondicionado em 498 invólucros de lata (alumínio e plástica) e envelope de papel madeira, contemplando 345 títulos. Sua coleção de livros, constituída de 1.117 títulos distribuídos em 1.300 exemplares, abrangem as áreas de História, Literatura, Fotografia, Geografia, Religião, Economia, Política, Biografias e Poesias, o que facilmente destaca o grau de intelectualidade de Machado Bittencourt.
No acervo também são encontradas, 161 fitas de vídeos contendo entrevistas, vídeo-jornal, vídeo-clip, e vídeo-documentário, produzidos por Machado. A coleção de som contém 161 unidades em suporte de fita e cartucho. Estão contidos nela musicais dos filmes, documentários, reportagens também feitas pelo jornalista, 13.313 fotogramas.
Machado Bittencourt era considerado um sujeito extremamente dinâmico e pragmático. Um homem de ação. Suas atuações eram movidas à cima das aparentes dificuldades existentes; seja no produzir, na comercialização de seus filmes, e outros produtos ligados à comunicação social na Região Nordeste.
Seu empreendedorismo esteve sempre ligado a várias outras atividades do qual exerceu durante a vida. Um Machado Bittencourt múltiplo, realizador de várias atividades. Um artista multimídia, que também exercia funções de empresário.
O Machado jornalista foi àquele repórter de textos interessantes, chamados por Wills Leal, de “Cinematográficos”, pelas qualidades imagéticas em suas descrições. Extremamente ligado ao jornalismo.
O Machado fotógrafo, com retratos maravilhosos da Paraíba em seu Guia de Turismo (considerados por muitos com um dos mais belos e representativos registros de nosso estado). Os seus trabalhos no Correio da Paraíba e Jornal do Comércio, como repórter fotográfico, jamais serão esquecidos.
Uma faceta bem desconhecida de muitos foi o Machado Escritor, com seu livro “Apontamentos Históricos da Piracuruca” (considerado uma obra fundamental para a História da região do qual nasceu o cineasta) e seus textos atrelados as suas origens e memórias familiares, publicados postumamente.
O Machado historiador e memorialista também destacou-se não só nas pesquisas realizadas, entre estudos e ensaios avulsos, mas principalmente em seus documentários que tinham uma preocupação clara com as questões históricas, com a memória material e simbólica dos sujeitos e lugares, de Campina Grande, da Paraíba, do Nordeste.
Desta forma, Machado Bittencourt, esse homem chamado Cinema, é fruto de uma memória revivida, ressuscitada de forma brilhante e justa para a glória do presente e do futuro do cinema paraibano, e em especial de Campina Grande. É como escreveu Wills Leal: “Machado foi importante no seu tempo e, certamente, sempre o será”.
Fontes:
http://cgretalhos.blogspot.com.br/2013/09/gente-da-gente-machado-bittencourt.html#.VgLvEdxViko
https://cineclubemachado.wordpress.com/sobre-machado-bitencourt/