Naturalidade: Puxinanã – PB
Atividades artístico – culturais: Poeta, cordelista e escritor.
Nascimento: 11 de abril 1943 / Falecimento: 15 de setembro 2016
Livros publicados: Coletânea Poética de Zé Laurentino; Sertão, humor e Poesia/5 edições (1990); Poemas, prosas e glosas (1988); Meus Versos Feitos na Roça; Carta de Matuto; Na Cadeira do Dentista; Poesia do Sertão; Dois Poetas Dois Cantares (Parceria Edvaldo Perico); A Grande História de Amor de Edmundo e Maria (Cordel); Poemas, Prosas e Glosas [1988]. (Maria do Socorro Cardoso Xavier). E Balada de um poeta cego.
O artista:
José Laurentino, ou Zé Laurentino nasceu no Sítio Antas em Puxinanã. Ele começou a fazer seus primeiros versos aos 12 anos de idade. Sua mãe gostava muito de ler cordéis, e cantava as histórias contidas na literatura de Cordel. Como estudante, foi representante de classe, e demonstrou uma certa liderança. Ele foi presidente do Grêmio Estudantil do Ginásio Comercial Plínio Lemos.
Zé Laurentino recebeu influências do poeta Zé Prachedes, (Cerro Corá/ Rio Grande do Norte) e Zé da Luz, poeta paraibano nascido na cidade de Itabaiana, no Vale do Rio Paraíba. Segundo ele, foi com estes mestres que aprendeu alguma coisa no mundo da poesia popular.
O artista foi agricultor, plantador de batatinha até o ano de 1975, e conseguia conciliar a vida na agricultura e poesia. Nos dias de folga aproveitava e ia para a cidade de Campina Grande se apresentar nos programas de rádio, mais precisamente no Programa Retalhos do Sertão e Manhã Sertaneja.
No ano de 1972, Laurentino entrou na política, e se candidatou a vereador, e foi eleito sendo o segundo mais votado. Nos palanques recitava os versos, impressionando o público com um dos seus primeiros poemas, “Retorno à casa Paterna”.
A primeira vez que José Laurentino apresentou-se em um palco foi no primeiro Congresso Nacional de Violeiros, evento que aconteceu no Teatro Severino Cabral de Campina Grande, no ano de 1974, ele diz “ Foi ali que eu apareci mesmo, e fui me tornar notado”.
José Laurentino foi desenvolvendo sua criação poética e não parou mais, ele tinha uma inteligência por demais privilegiada, e colocava a serviço do seu povo, fazendo rir e tirando lições dos acontecimentos, e cotidiano caipira. Nas suas apresentações conseguia prender a atenção do público, ao declamar suas poesias matutas, cascateadas de humor caboclo.
O escritor exerceu a função de presidente da Casa do Poeta Repentista de Campina Grande (Casa do Cantador) por mais de uma vez. Foi Membro da Academia de Letras de Campina Grande. Fez várias parcerias ao longo de sua carreira. Com Tião Lima gravou dois CDs e com o poeta Edvaldo Perico escreveu “Dois poetas, dois Cantares”. No começo dos anos 2000, representou o Brasil em um congresso sobre latinidade em Santiago de Compostela, na Espanha.
Devido a um sério problema de catarata, José Laurentino ficou cego durante três anos. O poetinha, como também era conhecido, para os amigos mais chegados, suportou com muita paciência os momentos sem enxergar. Porém muitas vezes ficava angustiado, mas não desistiu da sua arte, ele continuou criando lindos versos.
O poeta relembra o momento tão difícil quando ficou sem a visão; “Foi de muita tristeza. Sentia falta da lua, das estrelas… Eu ia para a praia e não via o mar, não via as mulheres. Eu fiz até um soneto intitulado ‘Olhos Castanhos’ que diz: Eu não sei se lunar ou se solar, o eclipse que me apareceu. Eu só sei que o mundo escureceu, não avisto a terra, o céu e o mar. Só restou um bordão pra me apoiar e o ombro de um grande amigo meu que de graça a mim se ofereceu no momento em que eu mais precisar. Sinto inveja daquele vagalume que esnobe voeja no alto cume, tem luz própria e não dar luz a ninguém. Minha luz apagou-se o lampejo. Sinto pena de mim porque não vejo os dois olhos castanhos do meu bem.”
Após a cegueira José Laurentino produziu a Obra “Balada de um poeta cego”.
No ano de 2015, aos 72 anos, o poeta realizou uma cirurgia nos olhos, e para sua alegria voltou a enxergar.
José Laurentino é considerado um dos maiores expoentes da cultura nordestina. Faleceu no dia 15 de setembro de 2016, em Campina Grande, aos 73 anos, vítima de uma câncer no fígado. E deixou um legado importante para a literatura paraibana.
O poeta representa a essência do interior nordestino, a forma de viver o rústico, forte, telúrico e pândego ao mesmo tempo.
Coletânea Poética de Zé Laurentino:
Nesta obra estão reunidos mais de 200 poemas escritos durante a vida desse paraibano. “É um resumo de tudo que senti, de tudo que vivi, as saudades, as tristezas e as emoções ainda contidas dentro desse velho peito”, sintetizou o poeta. Nas 416 páginas da Coletânea estão os poemas mais conhecidos de Zé Laurentino, como Eu, a cama e Nobelina, O mal se paga como o bem, Mudança de Chico Bento, Esmola pra São José, Matuto no futebol, entre outros, publicados anteriormente nos seus nove livros.
Matuto:
Muito obrigado douto
Pelo conseio, o afeto,
Vô convida a mulé,
Meus fios tomém meus neto
Não vô mais sê imbeci
E breve eu grito ao Brasí
Não sô mais anarfabeto!
Vô hoje mermo p’ra iscola
Com o livro, caderno e giz
Pois estudano eu tomem
Ajudo ao meu país
Depois que eu aprende a lê
Aí eu posso dize
Sô um caboco feliz!!!
O Matuto e o Doutor
Douto não sou rico não
Mas vivo desapertado
Tenho uma casa de aipende
Vinte cabeça de gado
Uns quatro burro de caiga
E um cavalo manga laiga
Prumode eu andá montado.
Tenho uma roça bonita
De uveia tenho rebanho
Tenho um açude cheinho
Só mecê vendo o tamanho
Onde eu dou água a meu gado
E quando o calo ta danado
Serve mode eu toma banho.
Tenho um casa de menino
Uma mulé de verdade
Tenho um rádio falado
Que eu comprei na cidade
E uma viola de pinho
Onde toco bem cedinho
Mode espantá a sodade.
Um boi, um cutivador,
Vinte quadro de raiz,
E tá todinho cercado
A cerca fui eu quem fiz
Bode p’ru riba não sarta
Mais com tudo ainda farta
Uma coisa preu ser feliz.
Pode acreditá douto
Eu vivo sentindo fome
Mas não é fome de comida
Lá em casa a gente come
Tem dinheiro na gaveta
Eu sinto fome é das letra
Eu quero assiná meu nome.
P’ra eu não mandá lê carta
Pelos fí de seu Honoro
Pruquê as veis é segredo
E ele espaia o falatoro
Descubrindo os meu segredo
Pra eu não suja mais os dedo
Nos tinteiro dos cartoro.
P’ra não anda preguntando
Os carro pra donde vão
P’ra quando eu fô p’ra os banco
Não leva pricuração
Quero meu nome assina
Prumode eu também vota
Nos dia de eleição.
Me ensine lê seu douto
Eu peço pru caridade
Voimicê que é sabido
Que mora aqui na cidade
Me ensine a lê e conta
Prumode eu completa
A minha felicidade.
Doutor:
Caboclo eu não te ensino
Mas te aconselho, afinal
Quer aprender a ler?
Carta, bilhete, jornal?
Ler, escrever e contar
Pois vais te matricular
Num dos postos do Mobral.
Lá tu irás encontrar
Professora competente
E que no mundo dos livros
Vai clarear tua mente
Saber é algo profundo
Tu irás ver este mundo
Com uma visão diferente.
Vais caboclo nordestino
Da bravura és o perfil
A escola te espera
Com teu aspecto gentil
Ponha os livros nas mãos
Vais ajudar teus irmãos
A educar o BRASIL.
Fontes:
http://www.renatodiniz.com/2015/12/entrevista-com-o-poeta-jose-laurentino.html
http://aartedomeupovo.blogspot.com.br/2010/03/poeta-ze-laurentino.html
http://www.blogdomarcial.com/2016/09/poeta-paraibano-morre-em-campina-grande.html
http://culturapopular2.blogspot.com.br/2010/03/ze-laurentino.html