Naturalidade: Bezerros- PE / Radicado em Campina Grande- PB
Nascimento: 4 de fevereiro de 1937
Atividade cultural: Poeta
Falecimento: Junho de 2014
Manoel Monteiro da Silva nasceu em Bezerros (PE) no dia 4 de fevereiro de 1937, mas aos 15 anos chega a Campina Grande-PB, conhecida como a ” Capital do Cordel”, em busca não só da sua feira, como também da “Tipografia Estrela da Poesia”. Então começa a escrever e publica o primeiro folheto. Tempos depois dialogou com Manoel Camilo no folheto nomeado: Peleja de Manoel Camilo com Manoel Monteiro, onde narra sua chegada à Paraíba:
Pernambuco é o torrão
Em que eu nasci e andei
Após uso da razão
A poesia abracei
E saí vendendo versos
Na Paraíba aportei.
Chegando em Campina Grande
Novato e desconhecido
Na quarta fui para a feira
“Cantar versos” carecido
De ganhar dinheiro pois
Estava “desprevinido”.
(MONTEIRO, 2006, p. 1)
Foi autor de títulos como “O crime da sombra misteriosa”, “Lampião: herói de meia tigela” e “O maior São João do Mundo completa 30 anos”, o poeta, durante as décadas de 1950 e 1960, tirou seu sustento da venda de sua obra nas feiras de Campina e região.
Com a instauração do regime militar no Brasil e toda repressão artística e cultural que se seguiu, Monteiro viu-se obrigado a buscar outros meios de trabalho, chegando até a ser preso por conta de seu posicionamento ideológico e engajamento com o movimento sindicalista. Apenas em 1995 o poeta volta a viver exclusivamente da sua arte e idealiza um movimento de inovação no cordel até então produzido, denominado “Novo cordel”.
Seguro no ofício de escrever versos rimados e metrificados, suas narrativas são envolventes e prendem o leitor do princípio ao fim, além da influência verbal, própria dos grandes mestres.
Foi membro da ABLC, cadeira nº 28, patronímica do poeta Manoel Tomaz de Assis e um dos maiores poetas de cordel de todos os tempos. Com mais de 150 folhetos publicados, a exemplo de A Maior Festa Junina é Feita Aqui em Campina; O Castigo da Soberba; Uma Tragédia de Amor; Peleja de Manoel Camilo com Manoel Monteiro; Padre Cícero: Político ou Padre? Cangaceiro ou Santo?; Quer Escrever um Cordel? Aprenda a Fazer Fazendo; Cartilha do Diabético; A Estória do ET, entre outros. Ao contrário de alguns poetas, Manoel Monteiro trouxe em seu cordel intitulado: Lampião. Herói de meia tigela um certo tom de crítica e realismo, descortinando as astúcias do coronel Virgulino:
Lampião. Herói de meia tigela
Todo cordel produzido
Com, ou sem inspiração,
Mostrando a VIDA e os CRIMES
Do facínora LAMPIÃO,
Não soube, ou fez-se esquecido,
Que só aplaude bandido
Quem só admira ladrão.
Tem centenas de folhetos
Sobre a vida dessa escória,
Mas, se uns não dizem nada,
Outros lhes cobre de glória;
Sem pesquisa, se diluem
E em nada contribuem
Com subsídio pra a história
(p. 1)
Manoel Monteiro foi considerado também como responsável pela inserção da literatura de cordel como ferramenta de estudo nas escolas da Paraíba em razão da qualidade de sua produção, implantando folhetos de cordel nas salas de aula em Campina Grande -PB. O cordelista deixou uma produção densa e diversificada, que abarca toda a área da atividade humana.
Nos últimos anos de sua vida, Manoel Monteiro enfrentava problemas de saúde, sendo diagnosticado com diabetes, apresentando dificuldade na visão, e ainda assim, estava em plena atividade escrevendo livros paradidáticos para grandes editoras. Lançou pouco antes de sua morte, o projeto intitulado: Cordelando a Paraíba, no qual ele e outros escritores recontaram a história de cada um dos 223 municípios paraibanos (LOPES, 2014).
Participou do Projeto Paraíba, Sim Senhor!. Nesse projeto, Manoel Monteiro apresentava resumos biográficos de ilustres filhos deste Estado.
Manoel Monteiro não é apenas um escritor da poesia popular: acima de tudo, é um grande incentivador e divulgador desta modalidade literária não apenas no estado da Paraíba, mas no Brasil. Foi também um exímio pesquisador da cultura popular, escrevendo artigos para jornais e revistas. Fez das contracapas de seus folhetos uma espécie de espaço de crítica, onde ele expunha o que pensava sobre o assunto abordado em questão (RIBEIRO, 2009). Ganhou em 2010, o prêmio de melhor cordelista do país, outorgado pela Associação Brasileira de Literatura de Cordel, situada no Rio de Janeiro, em Santa Teresa.
Em uma entrevista realizada por Rubênio Marcelo, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, no dia 26 de abril de 2010, Manoel Monteiro fala o que para ele é ser cordelista:
“Ser cordelista é sonhar… E sonhar vinte e quatro horas por dia, porque a poesia popular é um exercício mental maravilhoso e muito gratificante. O poeta olha o vôo de um pássaro, analisa seus movimentos, diferentemente de um físico, por exemplo. Ser poeta cordelista é brincar com o lúdico, é querer copiar estrelas (e isto é possível?)… Então, repito, ser poeta [para mim] é viver sonhando, e é muito bom viver assim, porque a realidade do cotidiano é muito ríspida, é muito vazia. A poesia, às vezes, faz chorar, mas choramos de uma maneira diferente, porque choramos com a fecundação da alma…”
Em junho de 2014, deixou o mundo do cordel de luto, ao falecer aos 78 anos. Após oito dias desaparecido, o poeta e cordelista pernambucano Manoel Monteiro foi encontrado morto em um quarto de hotel em Belém, Pará. Sua morte foi confirmada pela família dele no final da tarde do dia 8 de junho de 2014 (LOPES, 2014).
Na ocasião, o poeta cearense Rouxinol do Rinaré escreveu a seguinte homenagem:
“A saudade de Monteiro
Por este Brasil se expande
Além de Campina Grande
Afeta o Nordeste inteiro
Vate de verso alternativo
Pessoa muito querida
Deus o tenha na outra vida
Mestre, cordelista nobre,
O cordel ficou mais pobre
Depois da sua partida!”
Fontes:
Manoel Monteiro e as várias faces do texto de cordel.
Disponível em : https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/6463/1/arquivototal.pdf
http://cordeldesaia.blogspot.com/2010/12/balela-de-belem-manoel-monteiro.html
http://cordelparaiba.blogspot.com/2010/04/manoel-monteiro-e-o-novo-cordel.html
https://memoriasdapoesiapopular.com.br/tag/manoel-monteiro-da-silva/
http://reporterjunino.com.br/2016/06/07/dois-anos-sem-o-poeta-vida-e-obra-de-manoel-monteiro/