Naturalidade: Esperança-PB
Nascimento: 24 de maio de 1935
Atividades artísticos-culturais: Gravador
Nascido em 24 de maio de 1935, em Esperança (PB), Jerônimo Soares é filho do cordelista José Soares (o poeta repórter) e de dona Hilda Fernandes Soares e irmão do cordelista Marcelo Soares. Jerônimo começou a trabalhar com xilogravura aos 12 anos de idade na sua terra natal. Dali em diante, seu talento não parou de crescer. Mais adulto, foi para São Paulo e ficou por 15 anos expondo suas obras na Praça da República, centro da Capital. “Assim que deixei o Nordeste, comecei a apresentar o meu trabalho. Muita gente vinha me procurar ali”, lembra-se.
Radicado em Diadema/SP, residindo em Jardim Canhema, tem mais de 58 peças produzidas. Seus trabalhos são continuamente expostos em galerias e museus, a exemplo do MAP e da Pinacoteca de São Bernardo.
O artista desenvolveu um estilo próprio a partir de uma agulha especial feita de aço que inventou em 1978. Com esta ferramenta “costura” a madeira para dar origem as suas criações que ilustram capas de livros, CDs e folhetos de cordel.
Sua notoriedade veio a partir do álbum sobre acidentes de trabalho produzido para a revista Xilon editada na Alemanha. Hoje é possível encontrar suas obras na Suíça, França, Japão, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Portugal e França. Tradição esta que se perpetua na família, o irmão Marcelo, o filho Anderson (Nino) e o neto Wesley também mostram talento com a madeira.
Jeronimo possui ainda obras publicadas nos principais jornais brasileiros: O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Jornal da Manhã, Diário do Grande ABC, Correio Brasiliense, Diário de Pernambuco e outros.
Segundo Jorge Amado: “Jeronimo Soares é um dos mais notáveis gravadores populares do Brasil. Suas madeiras para capas de folhetos de cordel são de real beleza, poderosas e poéticas”.
Seus principais álbuns são:
– A Via Sacra segundo Jerônimo, com versos de João de Barros;
– 10 xilogravuras de Jerônimo, com apresentação de Jorge Amado;
– Cinco xilogravuras populares, com apresentação de Joseph Luyten
E as xilogravura dos folhetos: Fofocas de futebol e Pega ladrão de José Soares; A mulher de quatro metros que andava de feira em feira, de Enéias Tavares dos Santos; Acidentes no trabalho na construção civil, de Severino José.
Sendo considerado um dos maiores xilogravadores populares do Brasil, foi lançado o livro “Na Ponta da Agulha: Jerônimo Soares, Mestre da Xilogravura”, organizado por Andréia Alcantara, Lyara Apostolico e Ricardo Amadasi, com sua obra completa. O livro representa o coroamento de uma obra grandiosa de um artista que já dispensa o rótulo de “popular”. Um artista dono de uma prodigiosa imaginação criativa, artesão que empresta à madeira sombras, tons, profundidades, abismos, imagens particulares que o tornam único e reconhecível.
Nas palavras de Jorge Amado: ” Jeronimo Soares é um dos mais notáveis gravadores populares do Brasil. Suas madeiras para as capas de folhetos de cordel são de real beleza, poderosas e poéticas. Refletem a identidade do artista com a vida sofrida e a imaginação invencível do povo. Vindo do cordel – sendo ele próprio nascido em família de trovadores – os álbuns que tem realizado ultimamente nos dão a medida do talento e da poesia de Jerônimo Soares e o situam em posição singular entre os gravadores ingênuos. Ingênuos? Talvez os mais sábios de todos: os mais brasileiros, certamente.”
Em 2004 Jerônimo recebeu uma homenagem em Diadema (SP) e teve um cordel escrito por César Obéid sobre ele.
Cordel em Homenagem a Jerônimo Soares
*Este cordel foi escrito para divulgação evento que homenageou Jerônimo em agosto de 2004 em Diadema.
Apresento minhas rimas
Em cordel, verso e poema
Pra dizer de grande Núcleo
De Cordel de Diadema
Que durante o mês de agosto
Vai estar lá no Canhema.
Centro Cultural Canhema
É a casa Hip- Hop
Um dos maiores acervos
Sempre subindo o Ibope
Em agosto abre as portas
Para rima e galope.
Aos irmãos do Hip- Hop
Todos nós agradecemos
Duas artes, dois destinos
Na união sempre crescemos
Por abrirem suas portas
Nunca mais esqueceremos.
Vai ter rimas em teatro
E também em cantadores
Cancioneiros, cordelistas
Bonecos, aboiadores
A viola e o repente
Xilos e pesquisadores.
Mais de oitenta bons artistas
Demonstrando o painel
Da cultura do repente
Do poeta menestrel
Só tem três anos de idade
Nosso Núcleo de Cordel.
Um gigante painel
Vai pairar por esses ares
Invadindo corações
Almas, ouvidos e lares
Pra prestar justa homenagem
A Jerônimo Soares.
Um dos grandes gravadores
Que existem no Brasil
Um filho da Paraíba
Meigo, forte e gentil
Da cidade Esperança
Todos damos nota mil.
Em 24 de maio
No ano de 35
Nasce esse nordestino
Já dizendo: – Eu já destrinco
Nasci pra talhar madeira
E com xilo eu nunca brinco.
Filho de José Soares
Poeta paraibano
Um dos maiores poetas
Cordelista soberano
Foi-se em 82
Mas deixou seu belo plano.
A mãe é Hilda Fernades
Mulher de delicadeza
Pois a mãe de um artista
É rainha, é princesa
Dando a luz ao nosso mestre
Ao Otávio e a Tereza.
Parte da sua Esperança
Bela cidade Natal
Vai morar lá no Recife
Onde é lindo o litoral
Sempre talhando madeira
Trabalho vocacional.
Mas o homem nordestino
Vem pra essa terra fria
No ano 59
Muito medo e agonia
Mas recebe o bom abrigo
Da sua formosa tia.
Digo já das profissões
Que fez esse talhador
De automóveis, Jerônimo
Trabalhou como pintor
E por trinta e cinco anos
De sanfona, tocador.
Formou um trio lá chamado
“Jerônimo do Sertão”
Que levava o forró
E também badalação
Nesta vida com sanfona
Já tocou com Gonzagão.
Esse homem talentoso
Sempre foi um felizardo
E com a Maria de Lurdes
Juntou panos, juntou fardo
E a filha é Rosângela
Hoje mora em São Bernardo.
Separou e se uniu
À querida Roseli
Que nasceu na Paraíba
Mas os filhos são daqui
Adriana e jovem Nino
Hoje estão conosco aqui.
Nino está no seu caminho
Pra o sucesso sempre vai
Tem um traço diferente
E da xilo não mais sai
Nós ganhamos um talento
Seguindo os passos do pai.
Adriana se uniu
Com Zé Alves em afetos
Adriana concebeu
Em seus sonhos e projetos
Welenci e Émile
São os seus queridos netos.
De outro irmão paterno
Do Jerônimo vou falar
É o Marcelo Soares
Um artista exemplar
E gigante cordelista
Talha xilo sem parar.
Do Jerônimo, minha gente
Eu confesso as diretrizes
Desd’os doze anos talhando
Mais de 4 mil matrizes
Essa máquina de talento
Deixa todos tão felizes.
Ele sempre foi gigante
Nunca vai ser esquecido
Disse que depois do Núcleo
Ficou bem mais conhecido
Vive em capas de jornais
Esse velho é convencido…
E falou para o poeta:
– Faça um verso tão profundo
Diga que o Jorge Amado
Disse em menos d’um segundo
Que sou o melhor gravador
Que existe neste mundo!
Fez xilos para muita gente
Velha e nova geração
Eu tenho bastante orgulho
De tê-lo em meu coração
Fez mi’a xilo pro Natal
Primavera e São João.
Nesse evento de homenagem
Vai ter muita cantoria
Repentistas da cidade
Zé Luiz com simpatia
Também Manuel Ferreira
E Passo Preto da Bahia.
A dupla de aboiadores
Zé de Zilda, Noé de Lima
Que são filhos de Sergipe
Vão fabricar muita rima
Junto com Orlando Dias
Um poeta que só prima.
Falo já dos cordelistas
Expandindo o meu leque
Moreira de Acopiara
Costa Senna sem ter breque
Eu, o poeta paulista
E nosso mestre Valdeck.
Repentistas não sabemos
Quais serão as trajetórias
Nem tão pouco quais as duplas
Que terão suas vitórias
Pra chegarem à final
Farão eliminatórias.
Em duas eliminatórias
Em parceria da Ucran
A União dos Cantadores
Que do verso sempre é fã
Nosso ‘Bastião Marinho
O presidente titã.
A final é no Canhema
De poetas repentistas
De migrantes nordestinos
Lindo time de artistas
Com violas afinadas
E estrofes não previstas.
Haverá uma exposição
Todo o mês lá permanente
Cristhian Montagna, o fotógrafo
Afinou a sua lente
Para o público apreciar
Xilo, cordel e repente.
A Nireuda Longobardi
Gravadora exemplar
Também estará presente
Para a festa ilustrar
Nesta grande exposição
Da cultura popular.
São três peças de teatro
De atores que consomem
Taubaté nos mando logo
“Sinhá Moça Lobisomem”
De Campinas vem “Cordel”
Com bonecos feito homem.
Com a “Feira de Cordel”
Farão justa homenagem
A esse grande gravador
Que mantém sua coragem
Para o caminho da arte
Ele leva sua bagagem.
Terão os pesquisadores
Que já passaram no teste
O saber em cada um
Todo instante se veste
Provando que arte é viva
Dentro e fora do nordeste.
Jerônimo inventou u’a técnica
De agulha sombreada
Para fazer sua arte
Muito mais valorizada
Fez do bairro do Canhema
Há 15 anos, sua morada.
Pra dizer desse amigo
A minha estrofe tece
Um fantástico elogio
Envolvido numa prece
Pra dizer desse artista
Que o mundo inteiro conhece.
Já expôs lá na Suíça
França e também Japão
Portugal e Canadá
Arte que vem do sertão
Esse filho nordestino
Vive a globalização.
Do norte ao sul do país
Recebeu a sua arte
Galerias e museus
Esse homem não reparte
O trabalho da gravura
Carregando o estandarte.
Termino esse cordel
Com amor e harmonia
Grato por ver esse evento
Da arte, da poesia
Gritarei por todos ares
Salve Jerônimo Soares
Adeus, até outro dia.
Fontes:
José Paulo Ribeiro, pesquisador de cordel e cultura popular.