Francisco Varela Neto
“Eu não tinha como não fazer rap. Eu não tinha como escolher outro gênero”. Assim se descreve o rapper Marcelo Fontes, nascido na cidade de Resende, no Rio de Janeiro, mas que mora em terras paraibanas desde 2014 e se considera nordestino. Despontando no cenário do rap da Paraíba como um dos principais nomes da nova geração, Fontes – como gosta de ser chamado e como é conhecido no cenário musical – é rodeado por influências musicais desde o seu nascimento.
Tendo em casa o pai como músico profissional, Fontes relata que sempre esteve imerso na música, mas foi no rap que se encontrou e amadureceu.
“Eu sempre estive no meio de um monte de instrumento. De um monte de música diferente. Eu cresci ouvindo vários gêneros e artistas de várias épocas e isso me ajudou muito a se apaixonar pela música. Até começar a ouvir rap. Comecei em 2007 e saquei que a realidade que eu vivia, onde minha família morava, eu estava ouvindo falar sobre aquilo no rap. Então o rap me tocou muito. Eu também fui sempre muito inquieto a algumas coisas que eu comecei a perceber na sociedade e o rap foi me guiando quando eu fui crescendo”, disse.
Crescimento do rap na Paraíba
O rap é um estilo de música que no Brasil está mais associado a favelas e periferias, e é assim que ele é encontrado na maioria dos estados do Brasil. Em determinado momento da história, o rap foi associado de maneira equivocada à criminalidade, mas, com o decorrer dos anos, foi identificado como um estilo que alia o protesto com a música.
Fontes destaca que o rap no Brasil, e consequentemente na Paraíba, tem crescido muito, e credita isso ao fato de o gênero ser uma importante ferramenta para transformação e justiça social dentro da sociedade. “Eu acho que o rap está crescendo no Brasil inteiro, com a popularização das batalhas de MCs pela internet, e a galera começou a sair da internet e colar nos lugares. Todas as batalhas de rap daqui de João Pessoa são lotadas e isso é muito bonito de ver porque o rap é um instrumento de justiça social. Um instrumento para salvar a vida das pessoas. E eu tenho certeza que isso afasta os jovens de caminhos que não são muito legais de se seguir. Para mim, o rap crescer na Paraíba e em João pessoa como um todo, eu acho que só tem benefício”, afirmou.
“Não Conformista”
No mês de janeiro, o rapper lançou o seu primeiro EP, o “Não Conformista”, trabalho que trata sobre racismo, opressão e injustiça social. Segundo ele, toda a influência para a produção do EP vem de suas raízes familiares.
“O rap que eu lancei em janeiro, o Não Conformista é todo falando sobre a minha família. Eu acho que a minha família é minha maior influência. Minha tataravó era escrava em Minas Gerais, minha avó também e minha família é um exemplo de justiça social. Tudo que eu quero passar na minha música vem tudo da minha família. Eu tenho muito influência na música em todos os gêneros musicais, mas tudo que é de verdade, tudo que fala sobre as pessoas que estão sendo oprimidas e a classe trabalhadora me influencia”, destaca.
Importância da música além de seu gênero
O rapper deixa de lado as dificuldades que eventualmente a Paraíba possa ter no sentido de ser um estado em que o rap ainda não tem forte influência. Para ele, o gênero não tem importância quando o que se quer é transmitir uma mensagem forte. De acordo com ele, algumas pessoas escutam sua música, mas não necessariamente gostam de rap.
“Sobre as dificuldades, se a gente for falar disso porque no estado tem pouca influência musical no gênero, eu não acredito muito nisso. Eu acho que as trabalhadoras e trabalhadores, o pessoal que sofre mesmo, é povo em qualquer lugar do mundo, acho que quando a gente fala dessas coisas, não importa qual é gênero. Tem muita gente que curte meu som e não necessariamente ouve rap, mas eu acho que o que eu falo toca muito nas pessoas e eu estou buscando sempre transcender essa barreira de gênero musical”, destacou.
E diz que vê com bons olhos o crescimento que o gênero tem tido aqui na Paraíba. “Eu acho que o rap está crescendo muito aqui. Tem muita mina (mulher) fazendo rap, tem o pessoal do meio LGBT fazendo rap, tem gente de todos os cantos fazendo rap e está crescendo muito”, finalizou.