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Maracatu Nação Pé de elefante: História e luta de um povo que escolheu resistir

Manoel Holanda

Surgido em meados do século XVIII, o Maracatu é uma dança folclórica de origem afro-brasileira, com uma forte tradição ligada ao estado de Pernambuco, sobretudo em cidades como Olinda, Recife e Nazaré da Mata. Indícios históricos apontam que o Maracatu surgiu a partir da miscigenação de diversas culturas, como a portuguesa, indígena e africana. O que nem todo mundo sabe é que aqui em João Pessoa o Maracatu também se faz presente, com manifestações culturais vibrantes e com a sua própria forma de representação. 

Para aprofundarmos ainda mais na história do maracatu aqui na Paraíba, conhecemos o Maracatu Nação Pé de Elefante, localizado no bairro do Varadouro, em João Pessoa. Fundado em maio de 2008, ele tem contribuído ativamente com um trabalho social e cultural aberto para toda a comunidade paraibana. 

O Maracatu Pé de Elefante foi uma ideia do professor Fernando Trajano, que há muito tempo pensava em criar esse tipo de movimento na capital paraibana. O pontapé inicial para colocar esse sonho em prática foi quando ele esteve no carnaval de Recife, em 2008, e pôde conhecer de perto o Maracatu Estrela Brilhante, que se tornou uma espécie de padrinho cultural para o Maracatu Pé de Elefante. 

Fernando Trajano idealizador do Maracatu Pé de Elefante.

Após dois anos da sua fundação, o Maracatu Pé de Elefante conseguiu um apoio financeiro de um projeto, e passou então a ser batizado oficialmente como um Maracatu Nação. Em 19 de novembro de 2010, o Maracatu Nação Estrela Brilhante veio a João Pessoa, e no Ponto de Cem Réis foi feita a cerimônia de batismo. 

 

Já batizado, o próximo passo foi fazer o assentamento do Maracatu Nação Pé de Elefante junto aos orixás, para firmar as suas forças no terreiro. Além disso, pensando na proteção da rua e dos caminhos, foram preparados os guardiões da rua, o Exu Ventania e dona Maria Justiceira, protetores e guardiões do Maracatu Nação Pé de Elefante. 

 

Com o passar do tempo o Maracatu foi ganhando campo e os trabalhos foram se multiplicando, alinhado sempre a ações sociais da educação ligada à cultura. Atualmente, o Nação de Elefante está presente na Villa Sanhauá, com sede própria, no bairro do Varadouro, mas nem sempre foi assim. Nesses 11 anos de existência já esteve em diversos lugares. Começou na residência de Fernando, passou pelo centro cultural de Mangabeira, pelo Centro da Juventude, e também pela Associação de Moradores do Bairro. O Maracatu Nação Pé de Elefante desenvolve diversas atividades como oficinas e ensaios, todos de maneira gratuita. 

Sede do Maracatu Pé de Elefante na Villa Sanhauá.

 

 Mais do que uma manifestação artística, o Maracatu Nação Pé de Elefante é também um símbolo de luta e resistência contra o preconceito disparado por parte da sociedade, que desconhece a origem e a história do movimento. Por isso, ser do Maracatu Nação Pé de Elefante é lutar pela inclusão social, contra o racismo e a intolerância religiosa. 

Com um tom de pesar, Fernando conta que tudo poderia ser diferente se as pessoas tivessem um maior engajamento com a cultura. Ele acredita que isso talvez explique o porquê do Maracatu Nação Pé de Elefante ainda não ser do conhecimento de toda população, até mesmo no seu bairro de origem, em Mangabeira. 

“O Maracatu ainda sofre preconceito, não só aqui, como também em Pernambuco e outras regiões. Porque o sofrer preconceito vem das pessoas. A cultura sempre será atacada por pessoas que interpretam mal o maracatu, então a gente ainda passa por essas situações de preconceito, racismo, intolerância religiosa. O Maracatu tem o seu vínculo religioso e espiritual. Também temos esse problema de falta de interesse pela cultura, então daí faz com que muita gente ainda desconheça. Passamos dez anos em Mangabeira e ainda tem pessoas que não conhecem o nosso maracatu, o primeiro Maracatu Nação da Paraíba, fundado aqui. Para que tudo isso mude, temos que continuar a divulgação e os projetos de ação social. Continuar as parcerias e todo tipo de divulgação que a gente puder alcançar”, disse.

Os desafios para manter o maracatu em funcionamento são grandes, a começar pela falta de investimento do poder público e privado, assim como também por parte da sociedade, que procura o movimento, mas que não contribui para mantê-lo vivo. Mas Fernando ressalta que, independente de tudo, o trabalho continua, para que o maracatu ganhe cada vez mais amplitude aqui na capital paraibana.

“Esse é o ponto principal. Fazer com que as pessoas entendam a importância dessa cultura, desse maracatu que a gente aqui desenvolve. São pontos críticos, até hoje ainda estou mantendo o maracatu, porque senão ele não teria existência. Não temos apoio, não temos patrocínio, não temos nenhum projeto voltado diretamente para mantimento e para fomentar essa cultura para que nos dê melhores condições de trabalho”, afirmou Fernando. 

Foto: Rafael Trindade Heneine.

Para o futuro, muitos planos estão traçados. Fernando deseja ver o maracatu com um espaço maior, para que possa desenvolver as atividades com mais conforto e tranquilidade. Além disso, ele pretende aumentar o número de componentes. Atualmente o movimento tem em média de 25 a 30 pessoas, e no período carnavalesco esse número aumenta, chegando a ultrapassar os 200. Fernando tem como objetivo firmar pelo menos 150 componentes que participem ativamente o ano inteiro.   

 Embora acredite que seja difícil, Fernando quer também remunerar as pessoas que prestam serviços diretamente ao maracatu. Para isso, segue em busca de recursos e mantendo todas as prestações de conta em dia, mas lembra que acima de tudo está o amor e o carinho pela cultura, pois sem esses dois elementos, nada disso seria possível. 

“Queremos ter um espaço maior, com um galpão grande para que a gente possa desenvolver as nossas atividades sem nenhum incômodo, com toda corte e bateria bem estruturada e organizada. Com pessoas que trabalham, prestam seus serviços, com projetos funcionando e remunerando a todos nós. Que a gente consiga sempre ampliar, buscando recursos e estar sempre movimentando, com todas as prestações de conta em dia. Gosto de organização, dedicação e disciplina, mas tem que ter também muito amor e carinho pelo que a gente faz”, afirmou.

Para quem pretende conhecer mais sobre o Maracatu Nação Pé de Elefante, ele está presente também nas redes sociais. O trabalho é totalmente voluntário, e feito por membros do grupo. Futuramente, ter uma pessoa específica para lidar melhor com esse trabalho de assessoria na web também é um propósito de Fernando.

“Temos redes sociais, algumas pessoas fazem esse trabalho, mas ainda não temos alguém que trabalhe diretamente com isso, de forma mais concreta. Mas isso aí com o tempo a gente resolve, as pessoas vão se identificando e ocupando seu espaço”, complementa. 

 Além disso, a sede do Maracatu Nação Pé de Elefante sempre estará disponível para a comunidade paraibana. Todos os sábados as atividades são realizadas e qualquer um pode se tornar integrante, desde que esteja disposto a conhecer e cumprir com todas as suas responsabilidades, como explica Fernando. 

“É muito simples conhecer o nosso Maracatu. Temos momentos de atividades, ensaios, sempre aberto ao público. É chegar, se alinhar, passamos todas as informações, e daí a gente vai seguindo. Com o tempo, as pessoas que vão se firmando vão migrando da oficina para a bateria do Maracatu”.

 O Maracatu Nação Pé de Elefante tem o seu próprio segmento religioso e espiritual, mas todos são bem-vindos, independentemente da cor, crença ou sexo. Sem espaço para o preconceito, e de braços abertos para abraçar quem também valoriza a cultura local, como destaca Fernando. 

“Deixo o meu convite para toda população, seja lá de onde venha, não importa. Importa é que venha de bom coração, que venha para aprender, ensinar, trocar experiências. A cultura é nossa, o maracatu é nosso”.

 

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