Segundo a lógica marxista, para que ocorram trocas, um dos elementos centrais diz respeito à visão crítica da realidade, capaz de evitar a alienação das pessoas em relação ao momento e à conjuntura inseridas. A arte, nesse contexto, pode ser um instrumento a favor da mudança social.
A arte é tomada como expressão das apreensões subjetivas da realidade vivida pelos sujeitos, apresenta-se como uma possibilidade do ser social vivenciar sua sensibilidade, captada através dos sentidos, e materializá-la através de sua obra, melhorando os sentidos reflexivos, na medida em que elementos podem evidenciar os processos de opressão, violência, desigualdade social, resistência, entre outros, presentes na realidade objetiva do sujeito. Nesse contexto, a arte, mais especificamente a música apresentou a Paraíba ao Brasil e o mundo.
Como disse Picasso, “Uma obra de arte deve levar um homem a reagir, sentir sua força, começar a criar também, mesmo que só na imaginação. Ele tem de ser agarrado pelo pescoço e sacudido; é preciso torná-lo consciente do mundo em que vive, e, para isso, primeiro ele precisa ser arrancado deste mundo”.
Diversos sujeitos e linguagens construíram ao longo de décadas significados atribuídos a Paraíba através da música, e o alcance dessas canções construiu um acervo de imagens e discursos, atribuindo-lhe características, e sendo assim como a vista de uma janela para o mundo.
O Sociólogo e teórico cultural Stuart Hall define identidade como algo entendido como o sentimento de pertencimento a um espaço, porém concebido como algo não fixo ou essencial, sendo formatado continuamente, algo provisório. Segundo a percepção de Stuart podemos pensar na ideia de construção contínua de identidades locais.
Nações são “comunidades imaginadas”, usando o conceito da Antropóloga Ruth Benedict, o sujeito primeiro se identifica com o discurso, com lugar e depois se reconhece parte ou não dessa comunidade imaginada.
Podemos citar como exemplos, as canções “Paraíba, Meu Amor” de Chico César e “Paraíba, Jóia Rara” de Ton Oliveira, onde os artistas exaltam as belezas e qualidades do estado. Dentre as falas percebesse o sentimento de pertencimento, o afeto e o orgulho que influenciaram diretamente na obra.
A música “Paraíba Mulher Macho Sim, Senhor” de Luiz Gonzaga atribui características de força a mulher paraibana, mas, o uso da palavra macho como sinônimo de força expressa o contexto social da época, a realidade a qual o compositor estava inserido, onde o debate sobre a desigualdade de gênero não tinha o espaço que tem atualmente.
O próprio Luiz Gonzaga confirmou o caráter político da música. Em entrevista à TV Cabo Branco em 3 de agosto de 1989, o cantor e compositor disse, “Foi um baião feito para uma campanha política e acabou se tornando um clássico e houve até morte em Campina Grande quando ele foi lançado. Política tem dessas coisas e até hoje ‘Paraíba’ é muito solicitada, é um clássico”.
Observar a música como uma expressão artística para analisar uma experiência estética pode contribuir para redefinir a importância dessa construção de identidade cultural. “Imaginar-se parte de uma nação tem muita relação com as escutas compartilhadas. De certa forma, somos a música que ouvimos”, segundo André Egg, doutor em História Social pela USP, e Professor da FAP.
Israela Ramos