Segundo o dicionário, ter fé implica uma atitude contrária à dúvida e está intimamente ligada à confiança. Em algumas situações, como problemas emocionais ou físicos, ter fé significa ter esperança de que algo vai mudar de forma positiva. Desde as primeiras civilizações a religião e a fé influenciaram a vida dos sujeitos, a antiga religião egípcia, por exemplo, apresentava extrema relevância na vida cotidiana no Egito.
Uma de suas características mais fortes era a crença na vida após a morte. Os conceitos maat e heka eram os principais preceitos da antiga religião egípcia. Maat definia a importância de viver uma vida correta, de forma a manter a existência harmônica no universo. Heka estava relacionado à mágica e afirmava a importância dela tanto na criação do universo quanto na manifestação do poder dos deuses.
No Brasil, milhares de pessoas foram alfabetizadas em função do desejo de ler a Bíblia, alimentadas pela fé. Poderíamos inferir que a ação e o desejo religioso, influenciaram a história do indivíduo e produzem representações, como um enorme depósito de experiências e, colaboram no processo de transformação social e cultural.
A fé do nordestino sempre esteve inserida em seus costumes. O sertanejo agraciado por crenças, valores e sabedoria, sobrevive movido por “deuses e demônios”, por princípios supremos, infinitos e perfeitos, acima da natureza, por forças e estímulos interiores e exteriores, que excitam e conturbam. Padrões comportamentais movidos por ideologias, convicções e crenças, mostram que a expectativa de salvação influencia a ação social dos indivíduos. A fé é parte da construção social. Segundo Tomás de Aquino, “Existe algo que é, para todos os outros entes, causa de ser, de bondade e de toda a perfeição: nós o chamamos Deus”
“A convicção religiosa impulsiona as pessoas a um agir preso a uma certa moral, enquanto conduta. Os rituais religiosos traduzem um certo sentido para o existir humano, mesmo quando penetrados pela fantasia ou pelo mágico. ” Roger Bastide, Sociólogo.
Não tão distante dessa realidade esteve a realidade do sertanejo que tantas vezes fez adivinhação para saber o tempo certo de fazer o plantio e não ter prejuízo. Que tentou ler os sinais da natureza como busca por respostas e previsões climáticas, fazendo experiências místicas a partir da observação de plantas, animais, ventos, nuvens. Os povos nordestinos assim como os povos egípcios sempre guardaram e transmitiram conhecimentos adquiridos dos antepassados. Essas práticas religiosas, enraizadas na cultura nordestina, são transmitidas através de conversas, cordéis e canções de geração em geração.
A formação católica do povo nordestino representa um viés importante na religiosidade popular, aliada ao fato de que o semiárido brasileiro é caracterizado climaticamente pela baixa umidade e distribuição irregular de chuvas, com períodos secos e possibilidade de sucessivos anos de estiagem, realidade esta que favoreceu uma forte crença nos santos para socorrer os que estão na terra. Sertão adentro, homens e mulheres sempre rezaram dias e noites pedindo chuva. O dia que para alguns é ‘feio’, para o nordestino é esperança e, de tão bonito, diz-se: está bonito para chover!
Turismo Religioso
Os costumes de rezar romarias como pedido ou como agradecimento em homenagem aos santos fez as datas comemorativas dos santos se tornarem eventos tradicionais da nossa cultura. Em sua experiência e sabedoria popular, o agricultor vivenciou os homens tardando em apresentar soluções, políticas públicas eficazes. Portanto, lhe restou, dirigir preces ao céu para que derrame água com abundância e melhore a vida na terra, esperando que as divindades o atendesse.
O sagrado e o profano andam juntos quando se fala das festas tradicionais. As festas juninas do Nordeste são o macro do que as festas de padroeiros nas cidades de interior sempre representaram. A fé do nordestino também tem sua importância evidenciada quando falamos de política, como não falar das influências de Padre Cícero Romão, Frei Damião e até a figura de Lampião ter sido aliada ao caráter religioso. Se até o destemido Robin Hood da caatinga se valia de fé para ter sua força, sim, podemos dizer que a fé foi é uma característica marcante do nordestino.
De acordo com os dados do IBGE, a procura por viagens religiosas cresceu 61% nos últimos 10 anos. A demanda crescente fez com que as empresas criassem novos serviços, como por exemplo os aplicativos “Fala Peregrino” e o “Passaporte da Fé” da operadora Turismo da Fé. A encenação da Paixão de Cristo, por exemplo, é uma das viagens mais buscadas por quem deseja fazer turismo religioso.
A festa junina é uma tradicional festividade popular que acontece durante o mês de junho, é uma comemoração comum em todas as regiões do Brasil, mas, especialmente no Nordeste, e foi trazida para o Brasil por influência dos portugueses no século XVI. Inicialmente, a festa possuía uma conotação estritamente religiosa e era realizada em homenagem a santos como São João e Santo Antônio. Essas festas eram realizadas como forma de afastar os maus espíritos e qualquer praga que pudesse atingir a colheita. O solstício de verão no hemisfério norte acontece exatamente no mês de junho.
Israela Ramos