Naturalidade: João Pessoa-PB
Nascimento: 4 de março de 1814
Francisco João de Azevedo foi um padre e inventor paraibano de origem humilde, que nasceu no dia 4 de março de 1814, em João Pessoa, Paraíba. Mais tarde, em João Pessoa, seu pai, um marinheiro, tipógrafo e topógrafo português de mesmo nome, faleceu à época em que o filho completava 9 anos.
Desconhece-se o nome da mãe. Sabe-se que ele teve ao menos duas irmãs e um irmão, José Jerônimo de Azevedo Cirne, que se tornou professor de música. Esse irmão era também hábil em mecânica, sendo capaz de “consertar pianos, realejos e, sobretudo, relógios de toda a qualidade”.
Órfão de pai ainda menino, João de Azevedo passou a maior parte da mocidade na pobreza; a educação que recebeu teve de ser custeada por amigos do pai falecido. Francisco tirou o melhor proveito do curso primário. Como não existisse curso secundário em sua terra natal, chegou à adolescência ocupado em trabalhos serviçais, de onde retirava recursos minguados para a subsistência.
Em 1832, aos 17 anos, foi um dos primeiros a matricular-se no primeiro curso se secundário implantado na Paraíba. Numa visita pastoral do bispo da Diocese, Azevedo convenceu-o de sua inclinação religiosa, obtendo matrícula no Seminário de Olinda. Aos 21 anos, o jovem conseguiu matricular-se no Seminário de Olinda, em Pernambuco e, após três anos de estudos, foi ordenado presbítero secular no dia 18 de dezembro de 1838, transferindo-se para Recife, onde se consagrou a intensa atividade apostólica, ao magistério e às invenções.
Em 1841, fundou a Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais. A instituição seria, mais tarde, reconhecida de utilidade pública pelo Governo Imperial, atraindo ajuda oficial. O Imperador Pedro II visitou as instalações, doando à obra um conto de réis. Retornou a João Pessoa e aí permaneceu até 1843, quando começou a dedicar-se ao problema da mecanografia, isto é, a escrita mecânica.
As atenções do sacerdote estavam voltadas, obsessivamente, à difusão de conhecimentos profissionais em todas as camadas da população, de modo a acabar com a aversão de muitos, notadamente nas classes mais abastadas, pelos trabalhos manuais. Nesse afã, o estabelecimento introduziu o ensaio das ciências aplicadas às artes, incentivando jovens que não possuíam vocação para as carreiras liberais e que para elas eram conduzidos por modismo, comodismo, vontade paterna, a que se ocupassem de adestramento profissional compatível com seus reais pendores.
Procurou também colocar sob permanente foco de interesse a importância do trabalho mecânico, como instrumento de ajuda ao homem na conquista de conforto e bem-estar. Responsável, ele próprio, pelas cadeiras de geometria e desenho, Azevedo ministrava aulas práticas que lhe valeram, rapidamente, justo renome nos círculos estudantis, em que pese a glacial indiferença, quando não escancarada hostilidade, que a sua ação de educador provocava junto a setores ortodoxos do magistério e lideranças políticas.
A proposta de ensino que apresentava como alternativa aos moços de Pernambuco seria enriquecida, adiante, com aulas de mecânica que atraiam alunos de todas as classes. O padre foi também professor no Arsenal de Guerra de Pernambuco, no Ginásio Pernambucano e no Colégio das Artes, que funcionava anexo à Faculdade de Direito de Recife.
Ao tempo em que atuou no Arsenal de Guerra, revelou sua condição de inventor. O historiador Miguel Milano assinala que algumas das invenções foram consideradas, na época, notáveis feitos. Mas nem todos os inventos, lamentavelmente, chegaram inteiros ao conhecimento público. Existem referências vagas, com base em fragmentos de informações, a três realizações que exercitaram febrilmente a imaginação criadora do sacerdote: um veículo para o mar, “acionado pela força das ondas”. “Um veículo para a terra,” movido pelas correntes aéreas. Uma máquina para traçar elipses, que obteve medalha de prata na exposição provincial de 1876.
Inventou a máquina de escrever há mais de 160 anos, o produto foi patenteado por uma empresa estrangeira, a máquina de escrever foi criada pelo padre paraibano que realizou modificações na máquina taquigráfica, transformando-a numa máquina de escrever.
Em 1861, o padre expôs sua criação na Exposição Nacional, no Rio de Janeiro. Seu invento surpreendeu e foi medalha de ouro. O padre foi convencido a enviar sua máquina de escrever para o exterior em 1872. A promessa é que haveria interessados em produzi-la. Isso nunca aconteceu.
Um ano depois, Christopher Latham Sholes apresentou como seu um modelo praticamente idêntico à máquina brasileira para os armeiros Remington, que a industrializaram. Ele patenteou a ideia e disse que era dele. Mas a gente sabe quem inventou de verdade e dá reconhecimento a esse paraibano à frente do seu tempo.
De origem humilde, Francisco João de Azevedo nasceu em Paraíba, mais tarde João Pessoa, a 4 de março de 1814. O pai, um marinheiro português, faleceu à época em que o filho completava 9 anos. Francisco tirou o melhor proveito do curso primário.
Invenções
Interessado em criar uma máquina que permitisse registrar um discurso de maneira quase concomitante ao pronunciamento, Francisco João de Azevedo se inspirou no funcionamento dos pianos para desenvolver a estampa da máquina taquigráfica, sendo o responsável pela invenção da primeira máquina de escrever, publicada no livro Recordações da Exposição Nacional (1862):
“Se tocarmos uma só tecla em um piano para produzir um som, é inegável que o podemos fazer ao mesmo tempo que pronunciamos um a ou um b ou mesmo uma sílaba qualquer; e se tocarmos duas, três, quatro teclas, &c., não sucessiva, mas simultaneamente, levaremos o mesmo tempo que gastamos em tocar uma só. Se esse piano constasse somente de dezesseis teclas, teríamos dezesseis sons diferentes; se tomássemos duas a duas, teríamos em combinações binárias pouco mais ou menos 120 acordos; em combinação trinária aumentaríamos esse número, e se continuássemos por combinações quaternárias e seguintes, o número de acordos seria mais que suficiente para exceder o número de sílabas em qualquer idioma.”
Em 23 de novembro de 1861, saiu publicado no Jornal de Recife: Expositor o Pe FRANCISCO JOÃO D’AZEVEDO No 67 – “Uma machina para escrever. Foi o mais procurado dos objetos da exposição, e certamente merece pelo engenho com que está organizada. Eis aqui a sua descripção resumidamente: Representa e tem a configuração de uma espécie de piano pequenino, com um teclado contendo 16 teclas, oito à esquerda e 8 à direita.
Logo que se comprime uma dessas teclas que representam pequenas alavancas, ergue-se na extremidade dela uma delgada hastea que tem na ponta superior uma lettra esculpida em metal igual esculpida em baixo relevo em uma chapa metálica fixa em cima dessas hasteas.
Uma tira de papel da largura de três dedos pouco mais ou menos e de um comprimento indefinido, passando por um movimento contínuo entre estas chapas e as hasteas das letras, é por ella comprimida e recebe a impressão destas ultimas que conserva inalterável. As letras que compõem uma syllaba sahem impressas no papel em uma mesma linha horizontal, ora juntas ora apartadas uma das outras, e o decifrador não tem outro trabalho mais do que ajuntar as diferentes syllabas para formar as palavras.
Ao ser finalizada, a máquina, de fato, aparentava um piano e possuía dezesseis teclas: A, B, C, D, E, F, I, L, l, O, P, R, r, s, T, ~. As demais letras do alfabeto e sinais ortográficos obtinham-se por combinações dessas teclas. Um pedal provocava a mudança da linha no papel. O aparelho, denominado máquina taquigráfica” , foi exposto na Primeira Exposição Nacional, realizada de 2 de dezembro de 1861 a 16 de janeiro de 1862 no Rio de Janeiro.
Um repórter do Jornal do Commercio registrou as impressões que teve do aparelho:
“A invenção é, a nosso ver, extremamente engenhosa: mas, como facilmente se depreende, só a prática é que poderá demonstrar a sua eficácia para o fim a que o autor quis atingir, isto é, maior rapidez do que aquela que se tem conseguido alcançar pelos sistemas conhecidos de taquigrafia que os nossos práticos empregam no apanhamento dos debates dos corpos legislativos, dos tribunais judiciários, etc. Infelizmente, porém, nem o próprio autor de tão engenhoso invento possui ainda, segundo ele mesmo confessa, a indispensável destreza para fazê-lo funcionar de modo que não reste dúvida a respeito da sua superioridade em relação aos meios conhecidos para fixar no papel as palavras de um orador à medida que forem sendo pronunciadas: e assim podemos dizer que nos falta ainda o essencial para em tal assunto pronunciarmos um juízo definitivo.”
O ato solene de premiação dos expositores julgados dignos de distinção pelo Júri Geral ocorreu no Paço Imperial em 14 de março de 1862. Pela invenção da máquina de estenografar, Azevedo foi premiado com uma medalha de ouro, entregue pelo próprio imperador d. Pedro II. Dos 1.136 expositores, que exibiam um total de 9.962 objetos, somente nove tiveram tal honraria.
De 14 a 29 de outubro de 1866, Azevedo participou da Exposição dos Produtos Agrícolas, Industriais e Obras d’Arte em Pernambuco, que teve lugar no Recife. Nesse evento, ele apresentou um elipsógrafo, com o qual ganhou a medalha de prata.
No dia 6 de setembro de 1875, Azevedo escreveu uma carta ao Jornal do Recife desabafando a frustração que sentia por não haver conseguido até então industrializar nenhum dos inventos que ideara, e revelava possuir duas outras invenções: um carro movido a energia eólica e um barco movido a energia marítima. Escreveu ele:
“O seu Jornal, e outro depois dele, deu notícia de uma invenção que se fez em Pelotas de um carro, cujo motor não é o a vapor, e nem a força animal. Na mesma ocasião se refere que no Rio de Janeiro, alguém requereu privilégio para fabricar carros semelhantes, parecendo hesitar em decidir a quem deve pertencer a palma de uma invenção idêntica. Sem saber a quem pertencerá a primazia, eu digo que é bem possível que a mesma ideia ocorresse a mais de uma pessoa em tempo e lugar diferentes; porque eu próprio me julgo com direito à paternidade de uma invenção idêntica. Há mais de 20 anos, meditando eu sobre um projeto de estabelecimento de veículos econômicos entre esta cidade e a de Olinda, cheguei ao resultado de inventar carros que se movessem sem o auxílio da tração animal ou do vapor. Naquele tempo cheguei a completar a minha invenção, e a comuniquei a diversas pessoas que podem dar hoje testemunho da veracidade da minha asseveração; como também, que naquele tempo eu trazia em ebulição um projeto para a navegação marítima, servindo de motor o movimento das ondas. O primeiro projeto eu considero problema resolvido; o segundo precisa ainda ser revisto e aperfeiçoado. A minha invenção dos carros não me aproveitou, porque me faltam os meios e os jeitos para encarecer e fazer valer os meus descobrimentos. Houve um, em que gastei muito tempo, e algum dinheiro que me tem feito muita falta, o qual foi julgado competentemente coisa proveitosa, e que perdeu-se nos meandros da minha pobreza, e nos da indiferença geral: falo da minha máquina taquigráfica, que mereceu menção honrosa na exposição desta província de 1860, e que, na [de] 1861, no Rio de Janeiro, teve a medalha de ouro, e foi escolhida para figurar na Exposição de Londres, para onde eu não a pude acompanhar, por falta de meios, para explicar o seu sistema praticamente. O mau êxito de todas as minhas invenções fizeram-me desanimar, e guardar na minha gaveta o projeto dos carros. Agora que vejo anunciar-se projetos, senão idênticos, semelhantes, não quero mais guardar silêncio. E já que as minhas descobertas não me são de utilidade alguma, quero que o sejam, ao menos, para o meu país. E assim publicando hoje que o motor dos carros que inventei é o vento, julgo que o faço com direito, e sem prejuízo dos inventores do sul. E acrescento: Os tais carros podem mover-se com a mesma velocidade em todos os sentidos, ainda contra o vento, e podem mesmo ter um movimento circular; e devem ser muito úteis nas paragens em que as brisas são constantes. Agora apareça um empreendedor consciencioso que queira aplicar este sistema a alguma empresa de reconhecida utilidade, e deve contar que eu com todo o desinteresse não farei mistério da minha invenção. Recife, 6 de setembro de 1875. Padre Francisco João de Azevedo. ”
No dia 19 de agosto de 1879, achando-se mudo e paralítico do lado direito, Francisco João de Azevedo se retirou para a Paraíba à procura de tratamento. Ele faleceu no dia 26 de julho de 1880, aos 66 anos de idade, sendo sepultado numa catacumba da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia no Cemitério da Boa Sentença, no bairro do Varadouro, em João Pessoa (PB). O último invento feito por ele consistiu num modelo de engenho de espremer canas de açúcar, que economizava mais de 50% de energia em relação aos congêneres, e que pretendia patentear. Com a morte dele, o protótipo passou a uma parenta, Raymunda da Costa Leite.
Israela Ramos
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Jo%C3%A3o_de_Azevedo
https://revistapesquisa.fapesp.br/140-anos-de-uma-injustica/
https://diariodocomercio.com.br/economia/padre-azevedo-um-sabio/