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Data de publicação do verbete: 12/01/2022

Zé de Cila

Zé de Cila, nasceu em 1945, em Cabaceiras-PB e tem uma trajetória no cinema, participando de filmes como "O Auto da Compadecida", "Cinema, Aspirinas e Urubus" e "Canta Maria".
Data de publicação: janeiro 12, 2022

Naturalidade: Cabaceiras-PB

Nascimento: 1945

Atividades artístico-culturais: Artista popular, contador de histórias

José Nunes Neves, conhecido popularmente como Zé de Cila, nasceu em 1945, em Cabaceiras-PB e tem uma trajetória no cinema, participando de filmes como “O Auto da Compadecida”, “Cinema, Aspirinas e Urubus” e “Canta Maria”. Em todos, Zé de Cila participou como ator. Só que o espectador ou não o viu ou nem o percebeu. Ele é um dos 5.710 moradores de Cabaceiras, cidade localizada no interior da Paraíba, região do Cariri, sertão adentro a quase 200 km da capital João Pessoa.

Em “Cinema, Aspirinas e Urubus”, sua participação foi ainda menor do que em “O Auto…”, mas um pouco mais condizente com seu jeito descolado. “Fui convidado para interpretar um burguês que ia aparecer numa cena de cabaré. Imagina só! Ficava vestido de burguês rico, mas tinha só R$15 no bolso”, disse. Sobre a cena em questão, Zé relembra que tinha instruções de “não falar nada e só ficar andando no cabaré, namorando, tomando umas aqui e ali…”. A cena entrou no filme. “Eu não me lembro de ter visto quando assisti. Mas sabe como é, cinema filma muito e depois tem que cortar”, justifica.

Ainda que sequer apareça de corpo inteiro nos filmes que participou, Zé de Cila mantém ânimo invejável. Fez curso de teatro (quando encenou peça inspirada em sua fama de “viuveiro”) e sempre espera um novo convite. Os olhos brilham quando o assunto vem à tona, as histórias se acumulam e a “intimidade” e amizade com Selton Mello, João Miguel, Denise Fraga, Diogo Vilela, Paolla Oliveira e tantos mais parece coisa natural. Como recordação da experiência, Zé tem várias fotos das filmagens, em uma posa ao lado do colega de elenco Paulo Goulart, onde está Zé de Cila em “O Auto da Compadecida”, obra gravada na cidade.

Figura popular da cidade, a bodega dele, uma mercearia pequena, comum em cidades do interior, que está localizada na praça principal, entre o letreiro da “Roliúde Nordestina“, que é como a cidade ficou conhecida após ser cenário de dezenas de produções audiovisuais, e um museu da cidade, se tornou um ponto turístico da cidade. Na venda, ele oferece um pouco de tudo: bebidas, calçados, acessórios de vestuário e também de cozinha, além de contar “causos”, claro. A fachada do negócio, tão alegre quanto o dono, é amarela e tem cactos pintados.

Seu Zé é um personagem irreverente local, um contador de histórias comparado ao personagem Chicó. Abordado frequentemente por turistas em sua loja para tirar fotos, ele prontamente com um sorriso orgulhoso no rosto atende a todos os pedidos, “Guenta mão que eu já volto”, avisa seu Zé e some para um quartinho, voltando apenas depois de caracterizado como o Padre João, interpretado por Rogério Cardoso no Auto da Compadecida, “tá lembrando de mim, não? Eu fui o dublê do padre”, relembrando sua participação no filme.

“Ah, meu outro bom papel aqui na cidade foi ser o terror das viúvas. ‘Fui’ porque hoje não sou mais, se é que você me entende…(sinalizando sobre sua idade) ”. Relembrando sua vida de forma bem feliz. “Aqui o povo acredita muito em assombração. Sabe o que eu fazia? Me escondia atrás da igreja e fazia barulho pra assustar todo mundo. Aí, quando as pessoas saiam correndo de medo de dentro das casas, eu me juntava a elas e perguntava ‘vocês ouviram também?’, fingindo estar amedrontado. Já aprontei demais! Nos bailes, levava pimenta malagueta dentro do bolso e ia deixando cair conforme o rala coxa acontecia. Passava meia hora e ninguém aguentava com o ardor!”, disse Seu Zé.

Na prova do Enem de 2021, Seu Zé foi citado em uma questão do exame, “Me senti muito feliz. Essa notícia foi uma das melhores da minha vida”, disse o paraibano sobre ter sido citado em uma prova feita por milhares de estudantes em todo o país. Na pergunta, mais uma vez ele é comparado a Chicó, pela semelhança no comportamento dos dois.

O texto foi retirado do artigo “Ator por um dia” da professora Doutora Vivian Galdino de Andrade (2009):

“Famoso por ser o encantador de viúvas da cidade de Cabaceiras, na Paraíba, Zé de Cila é um contador de histórias parecido com o personagem Chicó, do Auto da Compadecida. Ele defende veementemente que a oração da avó sustentava mais a chuva. “Quando era pequeno e chovia por aqui, ajudava minha avó colocando os pratos emborcados no terreiro para diminuir o vento. Ela fazia isso e rezava para a chuva durar mais”

E para quem acha que as histórias de seu Zé são fantasiosas demais para serem verdade, ele pondera: “não minto e nem gosto de quem mente”. Com uma vida inteira de aventuras para serem contadas, ele também lembra das suas “pegadinhas” com o povo de Cabaceiras. É que Zé se fantasiava e recriava lendas como a do lobisomem e de fantasmas com o intuito de assombrar a cidade. E conseguia. “Não era por maldade, mas fazia pelo divertimento. Desde pequeno eu gostava de assustar as pessoas e ninguém nem imaginava que era eu ali. A cidade não sabia que eu quem fazia o mal assombrado”, disse.

Cila era a mãe de Zé. Por isso, ele ficou conhecido como Zé de Cila, já que é comum em cidades interioranas se referir a alguém relacionando o nome da pessoa com os dos pais dela. O tempo de passagem por Cabaceiras poderia ser preenchido totalmente com a companhia do simpático e atencioso senhor, que com mais de sete décadas de vida, tem histórias de sobra para contar. E, cada uma delas, narrada com riqueza de detalhes.

Uma delas, lhe rendeu o apelido de “Encantador de Viúvas”. O apelido se deu pelo fato dele sempre acabar se relacionando com uma mulher viúva e mais: sem ser de propósito. “As vezes eu estava conversando e a moça dizia que era dona de uma padaria e viúva. Aí eu caía na risada”, contou.

As histórias da avó, do lobisomem e das viúvas são apenas algumas das infinitas contadas por seu Zé, que além da sua própria vida, contam também a história de um povo criativo, engraçado e multifacetado, assim como ele. “Quero que todos os paraibanos venham aqui para que possa contar tudo a vocês. Chegando aqui, vocês estão em casa” e é assim mesmo: ouvir Zé de Cila traz, sobretudo, o sentimento de pertencimento.

Israela Ramos

Fontes:

https://novosparanos.com.br/post/171283862026/z%C3%A9-de-cila-%C3%A9-um-sujeito-que-tem-muita-hist%C3%B3ria-pra 

https://g1.globo.com/pb/paraiba/la-vem-o-enem/2021/noticia/2021/11/22/paraibano-ze-de-cila-e-citado-em-questao-do-enem-2021-me-senti-muito-feliz.ghtml 

https://www.otempo.com.br/diversao/magazine/bem-vindo-a-roliude-1.313914 

https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pb/cabaceiras/panorama

 

 

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