Amanda Cavalcanti*
Conquistas femininas ao longo da história são celebradas no dia 8 de março, conhecido como o Dia Internacional da Mulher. Há avanços notáveis para as mulheres na arte e ela atua como aliada da mulher, como forma de expressar sua visão de mundo, seus sentimentos e seus desejos. Apesar de ainda existirem desafios constantes para as agentes culturais paraibanas, elas continuam produzindo e divulgando sua arte.
Rebeca Fonseca, Bárbara Limeira e Giovanna Veras são artistas com nicho e estilo próprios de produzir conteúdo artístico. Elas trilham sua própria história e compartilham um pouco da sua rotina com a arte.
A artesã
Rebeca Fonseca é apaixonada por todas as formas artísticas. Com 20 anos e natural de João Pessoa, ela trilha seu caminho no crochê, no desenho digital, na pintura, na música, na poesia e, principalmente, na Moda.
Começou a crochetar com a produção de amigurumis (bonecos de crochê) e, hoje, é tecnóloga em Design de Moda pela Unipê, especializada em desenho estilístico pelo Instituto Burgo. Atualmente, também faz pós-graduação em Modelagem de Vestuário na mesma faculdade na qual se graduou.
Ela conta que o despertar para a arte veio de família: “na minha família sempre houve um lado de Artes. Minha avó fazia de tudo: costurava, bordava, fazia ponto-cruz, pintava, fazia crochê… absolutamente tudo. Apesar de eu não ter aprendido nada com ela por não ter tido tanto contato, creio que minha paixão pelas artes tenha vindo daí. Minha mãe também ama essa área, ela pinta divinamente e também ama design. Acho que o início pode ter vindo dessa herança”.
Apesar das conquistas da Moda, Rebeca diz que as mulheres, muitas vezes, são vistas como superficiais e fúteis por estarem nesse meio. Toda a formação de identidade e de expressão que existe na Moda é reduzida a estereótipos de vaidade.
As mulheres que a rodeiam ensinaram lições valiosas.”A primeira pessoa que me inspira é com certeza minha mãe, não apenas por ter um senso de estilo nato, mas, principalmente, por ter me mostrado como a mulher pode ser guerreira, passar por tanto e ainda assim erguer a cabeça, sorrir e ser amável”, conta.
A bailarina
Bárbara Limeira tem 23 anos e é natural de Santa Rita. Formada em biologia pela Universidade Federal Paraíba (UFPB), adora a natureza e os animais, mas sua paixão artística é voltada para o balé. Ela começou a praticar com 15 anos e também gosta de outras vertentes como a dança do ventre e a dança contemporânea.
Bárbara conta que ser bailarina é um desafio diário, pois é muito cansativo e exige muita resistência física, competência e atenção. São horas treinando e cursos de ponta, além de outras especializações. Mesmo sendo difícil conciliar, ela diz amar o balé e, por isso, quer sempre estar dançando.
“Quando se dança no palco é uma emoção muito grande, porque é como se você não enxergasse nada. Não enxerga a plateia, não enxerga ninguém. O coração vai a mil, é incomparável quando você está no ensaio e no palco. Quando você está apresentando tudo que ensaiou, é um frio na barriga que você quer sentir de novo sempre”, relata.
Apesar da elegância do balé, há problemas de acessibilidade, pois as coreografias exigem figurinos caros, tempo e dinheiro, além das mensalidades custosas, o que torna o balé uma arte elitizada. Bárbara afirma que muitos alunos não conseguem se apresentar por causa dos custos, então estudam e praticam, mas não conseguem ter a tão emocionante experiência do palco.
Embora haja dificuldades, a bailarina deixa claro sua motivação: “quando você faz algo que ama, o esforço acaba sendo mínimo comparado à recompensa que se tem e isso é sua história e ficará nela para sempre”.
A tatuadora
Giovanna Veras reside em Cajazeiras, no Alto Sertão da Paraíba, tem 19 anos e trabalha principalmente como tatuadora. Apesar disso, também produz murais, telas e artes em aquarela.
Começou a tatuar durante a pandemia de Covid-19. À época, tinha 17 anos e, como já era artista, treinou por meses e fez cursos para abrir um pequeno estúdio. Mas, por causa da pandemia, teve dificuldades de manter o estúdio aberto e começou a atender em casa e continua assim até hoje.
Ela diz que, por estar no interior do estado, seu estilo de tatuagem é um pouco difícil de definir, mas, desde que iniciou na profissão, seu objetivo sempre foi trabalhar com artes autorais.
Elementos da natureza, animais e plantas, principalmente os da Caatinga, fazem parte do cotidiano da tatuadora. Segundo Giovanna, é assim que as artes parecem mais orgânicas no corpo e é possível fazer vários encaixes diferentes e que fluem melhor.
Por ser um mercado tradicionalmente masculino, Giovanna conta que há pessoas que não confiam no trabalho de mulheres tatuadoras, justamente por ser um meio desigual. A quantidade de homens cisgênero e heterossexuais que procuram o trabalho dela é baixíssima e onde ela reside existem apenas duas tatuadoras; ela e outra pessoa.
Um dos inúmeros desafios que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho é a desigualdade salarial existente. Ocupando os mesmos cargos e tendo as mesmas qualificações (e, muitas vezes, até um nível de escolaridade maior), as mulheres chegam a ganhar 34% menos que os homens, de acordo com dados de 2021 da empresa especializada em classificados de emprego, Catho. Além da diferença salarial, elas ainda enfrentam dupla jornada com a maternidade, a objetificação e o descrédito por seu trabalho.
Ainda que desigual o mercado seja desigual, a tatuadora reforça: “eu gosto do barulho da máquina, de sentir a variação da vibração, sentir a tinta entrando na pele. É muito massa! Uma experiência que você só sabe se tentar fazer alguma vez. E saber que aquela pessoa vai carregar com ela uma arte sua para onde for, para sempre, deixa tudo melhor”.
Para aqueles que buscam esse meio, Giovanna aconselha: “se permita viver a experiência que é ser artista”.
*Com supervisão de Carol Cassoli