Naturalidade: Mamanguape – PB
Nascimento: 19 de fevereiro de 1885
Falecimento: 5 de outubro de 1952
Atividades: jornalista, advogado, professor, escritor e tribuno
Obras Literárias: Ensaios da Crítica Estética (1920), Revelações do Eu (1920), Ensaios da Crítica (1924), Nas Vésperas da Revo lução (1932), Educação Profissional (1946) e Augusto dos Anjos e Outros Ensaios (1946)
Um dos fatos mais marcantes da História da Paraíba foi o assassinato de João Pessoa, em 26 de julho de 1930, um estopim que determinou os rumos políticos do País, inclusive com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, a partir da chamada Revolução de 30. Na Paraíba, com a morte de João Pessoa, quem assumiu o governo foi precisa mente Álvaro Pereira de Carvalho. E este é apenas um dos muitos fatos que enriquecem a notável biografia do jornalista, advogado, professor, escritor e tribuno Álvaro Pereira de Carvalho, um dos fundadores da Academia Paraibana de Letras, um homem culto e versado nos clássicos da literatura universal, com proficiência em português, inglês, francesa e italiana. Álvaro nasceu na cidade de Mamanguape, em 19 de fevereiro de 1885, filho de Manuel Pereira de Carvalho e de Francisca Leopoldina de Carvalho.
O Vale do Mamanguape era, naquele período, uma região economicamente importante, a partir, especialmente, das usinas de cana-de-açúcar. Era comum os senhores de engenho, mas não apenas eles, enviarem seus filhos para estudar no Recife ou até no exterior. E assim, vários filhos da terra foram governadores do Estado. Não foi exatamente o caso de Álvaro de Carvalho. Seu pai era barbeiro, mas conseguiu, com seu ofício, financiar os estudos do filho. Após se transferir para a Capital do Estado, Álvaro estudou no Lyceu Paraibano e, já aos dezoito anos, passou a exercer a militância no jornalismo como secretário de redação do Jornal do Comércio, dirigido então por Artur Aquiles, jornalista da Paraíba. Concluídos seus estudos, passou a lecionar italiano no Lyceu Paraibano e, posteriormente, francês e inglês. Então, em 1916, já em Recife, formou-se pela Faculdade de Direito de Pernambuco e foi nomeado por Francisco Camilo de Holanda, então presidente da Paraíba, como diretor do mesmo Lyceu Paraibano.
No governo de Sólon Barbosa de Lucena (1920-1924), Álvaro foi nomeado ao cargo de Secretário-Geral do Estado. E seguiu sua carreira no serviço público sempre em ascendência. No governo seguinte de João Suassuna (1924-1928), teve sob a sua responsabilidade o estudo da reforma para o ensino público, missão que o levou a realizar várias viagens por diversos países da América do Sul, para colher subsídios e confeccionar as diretrizes do ensino na Paraíba. Ainda nos anos 20, Álvaro disputou cadeira na Câmara Federal e foi eleito para a legislatura de 1927 a 1929. Mas, em 1928, renunciou ao mandato, após ter sido eleito vice-presidente da Província da Paraíba, na chapa encabeçada por João Pessoa, sobrinho de Epitácio Pessoa. Álvaro chegou a assumir o governo, em várias oportunidades, durante a campanha eleitoral da Aliança Liberal. Como se sabe, João Pessoa foi candidato a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas contra Júlio Prestes, numa campanha das mais acirradas no País.
Então, em 26 de julho de 1930, Álvaro, que não tinha participação efetiva no movimento revolucionário, assumiu de forma definitiva o comando da Província, com o assassinato de João Pessoa, tornando-se o 16º presidente da Província da Paraíba. Uma de suas decisões foi manter José Américo na Secretaria de Segurança, com o objetivo de manter a ordem, especialmente na Capital, antes toda a comoção pública sequente ao assassinato de João Pessoa. Como de amplo conhecimento público, José Américo era o único secretário em quem João Pessoa confiava, respeitava e ouvia. Era, portanto, de sua confiança. A cidade estava convulsionada, com a população saqueando e queimando estabelecimentos comerciais e residências dos opositores do líder assassinado. José Américo tinha a autorida de para lidar com o momento delicado, já que Álvaro não era um revolucionário, sequer participou do movimento. Era, na verdade, antirrevolucionário.
No final dos anos 1920, a título de ilustração, havia um clima especial na Província, em decorrência, seja da fadiga para com a política oligárquica vigente na Paraíba, depois, porque se estabeleceu uma revolta de parte da oligarquia contra a quebra das regras estabelecidas da chamada política do café-com-leite, com a Presidência do País alternando-se entre lideranças de São Paulo e Minas Gerais. Por fim, havia um crescente movimento militar. O curto governo de Álvaro caracterizou-se, no entanto, pela ousadia e coragem como tomava as decisões, apesar de, muitas vezes, ser reprovado pelo povo. Sempre insistia que, como governante, não poderia agir com demagogia, e suas decisões deveriam ser sempre por convicção.
Foi esse torvelinho de circunstâncias que marcou o turbulento período de Álvaro como presidente da Paraíba, enfrentando, inclusive, a Rebelião de Princesa, um movimento sedicioso liderado pelo coronel Zé Pereira (José Pereira Lima), que fazia ferrenha oposição ao seu governo, como, aliás, já fazia a João Pessoa. Em agosto daquele ano, a pedido do governo federal, o general Alberto Lavanère Wanderley, comandante da 7ª Região Militar (Pernambuco), praticamente à revelia de Álvaro, assumiu a linha de frente, integrando-se às forças locais e conseguiu pacificar a Província, sufocando o movimento de Princesa. No mês seguinte, Álvaro até relutou, mas diante da enorme pressão política e popular, catapultada pelos jornais Norte e Correio da Manhã, ele decidiu sancionar projeto de lei aprovada pela Assembleia Legislativa, que renomeava João Pessoa como o novo nome oficial da Capital.
Contudo, em 9 de setembro daquele ano, houve um episódio significativo que certamente contribuiu para determinar o futuro de Álvaro no governo: o deputado estadual Generino Maciel apresentou um projeto de lei mudando também a bandeira da Paraíba, para as cores vermelha e preta, com o dístico “Nego”, que era uma referência ao nego de João Pessoa à candidatura de Júlio Prestes, mas o projeto foi vetado por Álvaro de Carvalho. Na sequência, os deputados estaduais desconheceram seus argumentos e derrubaram o veto do presidente e ficou estabelecida a fragilidade de sua autoridade política naquele momento. Fato digno de registro foi a mensagem que Álvaro de Carvalho, ainda na condição de vice-presidente, havia apresentado à Assembleia em 26 de junho, em que faz uma prestação de contas do governo, mas também justifica a negativa de João Pessoa apoiar a candidatura de Prestes.
Na madrugada de 3 de outubro de 1930, um grupo de civis, envergando fardas do Exército, invadiu o quartel do 22º Batalhão, em Cruz das Armas (João Pessoa). Na troca de tiros, o general Lavanère foi morto. Os chamados revolucionários, então, seguiram para o centro da cidade. Oradores se revezaram num comício, dentre eles, José Américo e Adhemar Vidal que, em seguida, foram à casa de Álvaro dar conta da Revolução. José Américo de Almeida, como um dos líderes do movimento no País, assumiu o chamado comando civil do Norte, que incluía Rio Grande do Norte e Paraíba, e então, por sua ordem, Álvaro de Carvalho, apesar de não ter sido oficialmente deposto, viu-se na contingência de deixar o cargo no dia 4 e foi logo substituído, segundo determinação das lideranças revolucionárias, pelo próprio José Américo. Estava selado o destino de Álvaro de Carvalho. Álvaro, como já dito, apesar de seu alinhamento administrativo com João Pessoa, não era um “revolucionário” e fazia parte do chamado grupo dos epitacistas (adeptos de Epitácio Pessoa), além do mais, após a morte de João Pessoa, trabalhou pela pacificação da Província, sendo, por isso mesmo, acusado pelos “revolucionários” de traidor, por manter entendimentos com o governo Federal.
A Revolução de 30 foi um marco e também significou o final da chamada República Velha, Primeira República, República das Oligarquias ou República dos Coronéis, que se havia iniciado com o golpe militar encabeçado por Deodoro da Fonseca, em 1889, quando derrubou a Monarquia e estabeleceu a Proclamação da República no País. A propósito da Revolução de 30, Álvaro escreveu “Nas Vésperas da Revolução”, livro em que narra os episódios que marcaram seu curto mandato e aborda, dentre outras, a questão dos planos “revolucionários”, do seu governo, por seus auxiliares, enquanto trabalhava tentando manter a ordem na Província.
A partir de 1930 e, ao deixar o governo, estava selado o destino de Álvaro, que passou a se dedicar com mais afinco ao magistério, como professor de Literatura, e também à advocacia. Logo depois, ele decidiu se transferir para Santos (SP), onde morou durante sete anos, lecionando inglês, literatura e italiano em colégios particulares, acumulando este ofício com o trabalho na advocacia. Mas, ao mesmo tempo, Álvaro passou a integrar a plêiade de intelectuais, dentre eles, José Américo, Ademar Vidal e João Lélis, que se dedicaram, com grande competência, à escritura de textos abordando a temática da Revolução de 30, sobretudo porque foram atores protagonistas e vivenciaram, de perto, as tramas e conflitos políticos daquela conjuntura histórica. E, a partir desses textos, é possível compreender a Paraíba que emergia daqueles acontecimentos marcantes. Também passou a escrever ensaios e textos de crítica literária. Um de seus livros sempre citados é “Augusto dos Anjos e outros ensaios”, em que afirma de forma corajosa, contra certa corrente literária vigente, que o poeta “não formou escola” e sequer “abriu caminho para o futuro”. Estas observações mereceram reparos de vários críticos literários, como Martins Filho.
É igualmente importante registrar sua militância, na área jornalística, como redator do jornal O Combate e como diretor de O Comércio. No campo literário, participou ativamente da fundação da Academia Paraibana de Letras, em 14 de setembro de 1941, sendo um de seus membros mais ativos. Dentre as obras de Álvaro Pereira de Carvalho, constam “Ensaios da Crítica Estética” (1920), “Revelações do Eu” (1920), “Ensaios da Crítica” (1924), “Nas Vésperas da Revolução” (1932), “Educação Profissional” (1946) e “Augusto dos Anjos e Outros Ensaios” (1946), além de outros publicados nas Revistas da Academia Paraibana de Letras. Álvaro foi casado com Luiza Gonzaga dos Santos, com quem teve sete filhos: Stélio, Glaura, Stela, Nerina, Dalva, Vilma e Clóvis. Em 1947, após ficar viúvo, casou-se, pela segunda vez, com Francisca Marques da Rocha. Faleceu a 5 de outubro de 1952, em João Pessoa.
Jonas do Nascimento
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_Pereira_de_Carvalho
https://www.camara.leg.br/deputados/4387/biografia