Ana Paula dos Anjos e Fernanda Heloísa
Resgatar e celebrar as raízes. É com esse objetivo que o projeto Sankrota revisita lugares históricos de João Pessoa e de outras cidades paraibanas. Desenvolvido por Bárbara Tenório, estudante de Turismo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e pesquisadora do Afroturismo, o Sankrota realiza caminhadas que explicam e valorizam a história e a cultura negra na Paraíba, conscientizando assim os turistas sobre o racismo estrutural e pautas antirracistas.
O afroturismo, como sugere o nome, é uma forma de turismo que se concentra em promover a cultura negra, destacando a história, as tradições, a gastronomia, a arte e outros aspectos dessas comunidades. É uma maneira de incentivar a valorização e a preservação da herança cultural africana, bem como de apoiar economicamente as comunidades que muitas vezes são marginalizadas no setor turístico.
“Nossas ações estimulam os participantes a refletir sobre a discriminação racial, a diversidade étnica, segregacionismo, criando debates, além de apresentar valores, comportamento de respeito e solidariedade com todos os povos e culturas”, afirma Bárbara.
O afroturismo, ajuda, ainda, a desconstruir estereótipos negativos sobre as comunidades de origem africana, combate à desinformação e dá visibilidade às rotas não exploradas pelo turismo convencional.
O Sankrota
O afroturismo já era objeto de estudo de Bárbara Tenório, que atualmente está no processo de conclusão do curso de Turismo na Universidade Federal da Paraíba. Durante suas pesquisas, Bárbara teve contato com a retomada de rotas negras em outros lugares, mas não encontrou o mesmo exemplo aqui na Paraíba.
Foi assim que percebeu a necessidade de implementar a iniciativa. Ela conta que a ideia surgiu pela urgência de se ter uma representação autêntica e respeitosa dos bens culturais de origem africana, já que tais grupos muitas vezes sofrem com a falta de visibilidade e têm sua identidade esvaziada ou ocultada.
O nome do projeto também se liga com a ideia do afroturismo, já que “Sankrota” vem da junção das palavras Sank (Sankofa), que significa olhar para o passado para aprender e construir um futuro mais justo, e “rota”, que vem de caminho.
O Sankrota realiza caminhadas que explicam e valorizam a história e a cultura negra na Paraíba, conscientizando assim os turistas sobre o racismo estrutural e pautas antirracistas.
Uma vez por mês, ocorre a Caminhada Jampa Negra. Conduzida pela própria Bárbara, o roteiro é conduzido no centro de João Pessoa e traça uma linha do tempo que abrange desde o século XVI até os dias atuais. Começando no Ponto de Cem Réis, onde é contada a história da Igreja do Rosário dos Homens Pretos – que foi demolida em 1923 – e chega até a Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia e a Praça Barão de Rio Branco.
Em Alhandra, terra da Jurema Sagrada, acontece a Vivência Jurema Sagrada, com o intuito de promover a religião constituída por indígenas e pessoas pretas, além de combater a intolerância religiosa que atinge as religiões de matriz africana.
A pesquisadora informou que em breve serão construídas novas rotas afroturísticas, a exemplo do coco de roda ao pôr do sol em Barra de Mamanguape. Outros locais que possivelmente farão parte desses roteiros incluem a Comunidade Quilombola do Bonfim na cidade de Areia e o Complexo de Quilombola no Conde, que engloba as comunidades de Mituaçu, Ipiranga e Gurugi.