Gustavo D. e Laura Moura
Hoje (05), a cidade de João Pessoa completa 438 anos. A capital paraibana traz uma história rica de pluralidade e cultura, consagrada como terceira capital mais antiga do país e como o ponto de extremo oriental das Américas.
Apesar de fundada pelos portugueses em 1585, com o nome de Nossa Senhora das Neves, a cidade sofreu influências de diversos povos durante os anos. Indígenas, espanhóis e franceses tiveram uma grande participação na formação do pessoense, expressada nas manifestações culturais do município e nos diversos nomes que já teve: Filipéia, Filipéia de Nossa Senhora das Neves, Frederica, entre outros.
O nome ‘João Pessoa’, em vigor até hoje, foi instaurado em 1930 pela Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB). A ideia era homenagear o político paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, que governou o estado da Paraíba por dois anos e foi um dos principais nomes da política nacional na época, sendo candidato à vice-presidente pela Aliança Liberal e se opondo à candidatura de Júlio Prestes, representante do sistema vigente do café com leite. Seu assassinato é considerado o estopim para a Revolução de 1930, movimento armado que marcou uma nova fase na República Brasileira.
Resquícios dessas influências de povos podem ser vistas nos eventos culturais da cidade, como a Festa das Neves, festividade criada pelos portugueses e que dura até hoje. A edição deste ano encerra hoje, com passeio de carros antigos e shows de Vinícius Mendes e Peninha.
Nessa semana de celebração, os eventos estão borbulhando na cidade. Além da Festa das Neves, o Espaço Cultural também realizará sua própria festa de comemoração com barracas de artesanato e apresentações musicais, como um concerto da Orquestra Sinfônica da Paraíba com participação de Santanna.
Espaços culturais trazem à João Pessoa maior visibilidade à cultura local
“Onde o Sol Nasce Primeiro”, “Porta do Sol” ou, para os mais íntimos, “Jampa”. A cidade mais iluminada das Américas conquista o coração de qualquer um com sua beleza natural, coração valente e grandeza cultural.
João Pessoa é dona de ruas repletas de artes e referências culturais que marcam a história do município. Desde o Teatro Santa Roza até o Centro Histórico e a Casa do Artista Popular, as memórias transpassam os muros desses lugares, tocando as almas pessoenses e transmitindo um pouco da essência paraibana.
Mesmo com esses tesouros, a cultura da capital paraibana segue sem receber o devido valor, sendo esquecida e apagada de seu próprio mapa. Esse caso quase se perpetuou no Museu da Cidade de João Pessoa, espaço que guarda o passado da metrópole e visibiliza os artistas da região.
Construído entre 1924 e 1925, a casa foi projetada pelo engenheiro Souto Barcellos para servir de moradia a Tranquilino Monteiro, rico comerciante de algodão. Foi apenas em 1929, após a falência do seu proprietário, que o imóvel foi alugado como residência e local de trabalho ao então Presidente João Pessoa, em razão de reformas no Palácio da Redenção, sede do Governo do Estado. Após a morte do ex-governador, a casa foi vendida para a família Ribeiro Coutinho e em seguida ao Estado, que implantou diversos órgãos públicos. Em 1980 o local foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP), através do Decreto no 8.634. Todavia, entre essas idas e vindas de organizações, a casa sofreu diversas modificações internas, resultando numa má conservação da residência. No início dos anos 2000 a edificação se encontrava desocupada e, em razão de sua privatização, o imóvel passou a ser de propriedade do Banco Real. Em 2002, foram feitas gestões junto à diretoria do Banco para que a casa fosse doada ao Governo do Estado com uma proposta de adequação dessa edificação e abrigar ali um museu. Porém foi somente em 2021, após uma reforma, que foi aberto ao público, voltando a brilhar nas ruas da cidade.
Apesar das dificuldades enfrentadas para sua abertura, a existência do Museu da Cidade de João Pessoa é essencial para a valorização da história da cidade.
“O museu preserva a memória local, contando a trajetória da cidade e seus desafios ao longo do tempo, o que ajuda a conectar as gerações e a promover o entendimento da identidade cultural da região”, conta Dyogenes Chaves, diretor do Museu.
O diretor afirma ainda que, embora o atual cenário artístico da capital seja desafiador, as suas expectativas são positivas. Para ele, com investimentos contínuos e o engajamento da população, haverá melhorias e uma maior valorização da cultura não só local, mas também de todo o estado. Além disso, com o aniversário de João Pessoa se aproximando, Dyogenes enxerga um potencial desenvolvimento e reconhecimento desse tema no município, como chance de investir e conhecer cada vez mais iniciativas culturais, artistas locais e eventos que celebrem suas tradições.
“Além de visitar o Museu da Cidade, convido todos a explorarem outros pontos culturais, como galerias de arte, museus disponíveis, teatros e eventos locais. Ao participar dessas atividades, a população contribui para enriquecer a cena cultural e consolidar a identidade cultural única da cidade e do estado”, conclui Dyogenes.
Por fim, a cultura vai além daquilo que se pode ver ou tocar, é uma conexão com as nossas raízes, um reflexo do jeitinho pessoense. Para os que desejam estar por dentro da cena artística de João Pessoa e de todo o estado, basta acompanhar o Paraíba Criativa pelo site e suas redes sociais, em que sempre compartilhamos matérias sobre eventos, pessoas e locais que são destaque cultural na região.