Laura Moura
Com arranjos eletrizantes e letra reflexiva, a banda Azul Turquesa lança o single ‘CID 10 F19.5’, nesta sexta-feira (13), em todas as plataformas de streaming. O duo mais uma vez se destaca com a mistura de diversas melodias e ritmos, criando seu próprio estilo musical à medida em que constrói um cenário hostil à mente dos ouvintes. Com o intuito de romper com padrões musicais do Metal, o grupo surge com uma nova proposta artística, na qual desfrutam da liberdade e criatividade em suas composições.
Formado por Mailton Lemos -“Soturna Cröstä” (vocais, guitarras, baixo e teclados) e Tamyres Meireles – “Efêmera” (baterias), a Azul Turquesa é conhecida por transitar entre estilos como o Doom e Black Metal. Entretanto, em suas últimas produções o duo tem se aventurado em estilos diversificados, no que eles caracterizam como uma sonoridade mais excêntrica com leitura profunda do inconsciente do eu-lírico. A dualidade musical, marca registrada desses gêneros, permanece, mas agora com toques mais pessoais e reflexivos da banda.
Além disso, o single carrega inúmeros significados, desenvolvendo narrativas cativantes por meio da conexão entre instrumentais e vozes. Enfatizando a inocência na música, o duo permite que o ouvinte “visualize” esse mesmo sentimento ser sufocado pela escuridão dos “monstros” ao redor, ambientalizando a cena e tornando o espectador parte da obra.
“Arranjos pesados são explorados não só pela distorção pesada, mas pelo som limpo, melódico e trêmula do vibrato. As baterias tribais servem para um culto ao próprio ego. Os vocais tornam-se ainda mais lamuriosos e destoantes, soturnos e densos, em camadas para casar-se com a letra”, conta o duo.
Com foco na construção da própria identidade do grupo, Soturna explica que a banda já se dedicava à composição de epopeias anteriormente. Assim, o CID 10 F19.5 nasceu a muito tempo a partir de clássicos da literatura, filmes e telas de horror, principais inspirações do duo, desenvolvidas através de sua paixão por músicas de horror de jogos antigos. Eles explicam que os lançamentos não seguem uma ordem cronológica, havendo mais de 20 outras composições anteriores ao single, as quais serão publicadas posteriormente.
Como artistas independentes, o duo acredita no “faça você mesmo” e produz em casa, no próprio Home Studio construído com seus esforços e apoio de amigos e familiares. Logo o que começou baseado no Doom/Black Metal, cresceu ampliando suas referências e atuações na área. Atualmente, eles compartilham características de bandas do estilo Depressive Suicidal Black Metal – DSBM, vertente do Black Metal, como Psychonaut 4, Lifelover e Lamúria Abissal, entretanto não se classificam como uma DSBM.
Apesar da evolução do grupo em suas composições e produções nos seus quase dois anos de existência, as dificuldades persistem, acompanhando-os desde a produção até simplesmente a ausência de espaços para maior divulgação e reconhecimento dos artistas locais. Mesmo diante disso, eles batalham diariamente contra os monstros da produção musical.
“Produzir a si mesmo é sempre um desafio. Eu, Soturna, entro com os vocais, guitarras, teclas e baixo, enquanto a Efêmera entra com a bateria. Enquanto não temos uma bateria em casa ou não conseguimos gravar, programamos a bateria que ela (Efêmera) vem compor. Gravar os próprios vocais é um pouco desgastante: olhar o medidor de ganho, dar play no programa, monitorar o áudio… Erro? Repete. Acaba dando um cansaço e você pode errar algum detalhe que acaba passando despercebido. Mas é assim que extraímos o nosso melhor”, comentam.
Analisando o cenário cultural do Metal Paraibano, a Azul Turquesa reconhece que esse meio tem crescido cada vez mais no estado, com nomes como Headspawn, Melancholic Wine, Label Music Obsession, entre outros, cada vez mais fortes. Contudo, revela a necessidade de incentivo do Estado, por formas tanto diretas quanto indiretas, através da reforma do centro, mobilização do transporte coletivo ao fim da noite e madrugada, entre outras maneiras. Assim, a banda segue com suas produções, buscando não só fazer arte, mas também provocar reflexões tanto existenciais quanto político-sociais.
“A música extrema precisa do seu espaço e não no mainstream onde tudo se faz de forma abusiva e predatória, mas num underground forte, coerente e inclusivo para os excluídos pelo sistema. […] Acreditamos que um projeto musical num meio como metal, punk ou gótico se alavanca através da cooperação mútua da cena que ele está inserido e para isso, desejamos a evolução e prosperidade da nossa cena paraibana como um todo. Não se faz carreira sozinho”, concluem.