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Data de publicação do verbete: 16/12/2023

Catarina de Moura Amstein

Advogada e educadora.
Data de publicação: dezembro 16, 2023

Naturalidade: Paraíba do Norte (atual João Pessoa)

Nascimento: 20 de dezembro de 1882

Atividade Profissional: advogada e educadora

Catarina foi uma mulher avançada para sua época. Advogada, escreveu vários artigos em defesa da mulher e de seus direitos. Ela era natural de Paraíba do Norte, hoje cidade de João Pessoa. 

Foram seus pais Misael do Rêgo Moura e Francisca Rodrigues Chaves Moura, tendo Catarina feito seus estudos primários e secundários na Escola Normal Oficial, onde recebeu o diploma de professora normalista, em 1902. No Liceu Paraibano, matriculou-se em 1908, na Faculdade de Direito do Recife, de onde saiu formada e laureada, em 1912, obtendo também o prêmio de viagem à Europa. Como quartanista de Direito, advogou no crime, na cidade de Pau d’alho, em Pernambuco. Em 1913, no Governo Castro Pinto, fez conferências públicas, no Teatro Santa Rosa, sobre “Direitos da Mulher” e escreveu, no Jornal A União, uma crônica assinada com o pseudônimo de Paraguaçu. Na Escola Normal desta Capital ensinou como professora, as cadeiras de Português, Desenho, Francês, e História da Civilização, sendo, em 1917, nomeada professora efetiva da cadeira de Português. 

O discurso feminista da advogada e educadora Catharina Moura, propagado na 8ª conferência de título “Os direitos da mulher” na Parahyba do Norte no Teatro Santa Rosa em 30 de março de 1913 teve o objetivo de  dialogar com a análise de discursos sobre as práticas educacionais, e o papel da mulher através de impressos dos jornais, precisamente o jornal da União (órgão oficial do estado). A fim de compreender como a partir desses informes foram construídos os “modelos” de formação das identidades de gênero, a educação da mulher, as políticas educacionais, os processos educacionais, bem como os episódios sobre a educação da mulher na sociedade paraibana naquela época. Para tal, foi feita uma pesquisa bibliográfica, seguida de análise dos dados coletados.

Em meio a um cenário (final do século XIX e início do século XX), no qual a nível nacional e mundial os debates sobre os direitos civis e políticos da mulher ganhavam forma, aqui na Parahyba ainda era muito forte o modelo de sociedade patriarcal, a qual não aceitava a presença da mulher nos espaços públicos, limitando-a à esfera privada do lar. Dessa forma, Catharina desafiava a sociedade local, ao dizer que lugar de mulher era participando da vida pública junto com os homens. Este foi o foco do seu discurso durante os 50 minutos em que esteve como conferencista. Catharina iniciou o seu discurso falando sobre as lutas das feministas, deixando claro o quanto admirava as sufragistas que se arriscaram pela emancipação das mulheres. Ela defendeu em seu discurso a mulher como um sujeito político que, assim como o homem, também tem o direito de participar da vida política e de escolher seus representantes através do voto e  ressaltou ainda que a mulher era considerada pela sociedade como sexo frágil, mas que ela é altamente inteligente e se por acaso o cérebro dela está atrofiado é porque ela não fez parte das discussões acerca do espaço público, estando resignada apenas a cumprir as tarefas de mãe, esposa e filha, dentro de um lar. Criticou fortemente a condição inferior da mulher, afirmando que era uma teoria ideológica colocada como verdade incontestável por entidades religiosas, a exemplo da igreja católica, de que a mulher era símbolo de pecado e inferioridade ao sexo masculino. Dessa forma, não via outro meio de emancipação, a não ser pela educação, como condição primordial para a liberdade da mulher. Catharina antecipou em sua conferência questões que, posteriormente, especificamente em 1922, a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino empunhou, como o direito ao voto e o acesso à educação como imprescindível para a emancipação feminina. É curioso que ela não apenas critica os homens no pensamento retrógrado em relação à mulher, mas tece críticas ferrenhas àquelas mulheres que se recusaram a lutar contra a opressão, não possuindo consciência histórica acerca da sua condição atual. Catharina vai além em seu discurso e aponta diretamente a instituição família, ao falar que é exatamente o casamento que propaga as desigualdades entre homens e mulheres, quando dá ao homem o poder de cuidar dos negócios e fazer parte da vida pública, e à mulher o dever de cuidar das lides domésticas, restringindo-a à esfera privada. Catharina conclui o seu discurso, acreditando na igualdade entre homens e mulheres como fator importantíssimo para fortalecer a instituição família. As repercussões da conferência geraram comentários e críticas a respeito do pensamento emancipador que Catharina Moura trazia em seu discurso. Confirmando cada vez mais o que ela enuncia em sua fala, que homens e mulheres precisavam urgentemente repensar seus papéis na sociedade. O fato é que a conferência de Catharina Moura abriu espaços para que discussões acerca dos direitos da mulher aconteçam com frequência nas esferas públicas paraibanas. Sem dúvida, Catharina foi uma mulher muito ousada e que lutava bravamente para que a sua classe pudesse ter visibilidade. Mesmo sem ter tantas informações acerca dela, é inegável seu legado na história da educação paraibana, especificamente, na história da educação das mulheres.

Sandra da Costa Vasconcelos

Fontes:

https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/21728/1/TCC%20MICHELLINE%20MENDES.pdf

https://academiaparnaibanadeletras.wordpress.com/2019/03/07/professor-amstein/

https://www.uece.br/eduece/wp-content/uploads/sites/88/2023/10/Educa%C3%A7%C3%A3o-e-educadoras-na-Para%C3%ADba-do-s%C3%A9culo-XX.pdf

 

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