Pesquisa e texto: Jonas do Nascimento dos Santos
Naturalidade: Campina Grande-PB
Nascimento: 1966
Atividade artístico-cultural: escritora
Atividade Profissional: Socióloga, Antropóloga, pesquisadora e Professora Universitária
Formação Acadêmica: Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Goiás (1994); Mestrado (1998) e Doutorado (2003) em Sociologia pela Universidade de Brasília
Premiações: Prêmio Direitos Humanos, na categoria Igualdade de Gênero (2011)
Publicações: A reinvenção do corpo: gênero e sexualidade na experiência transexual (2006); O que é transexualidade (Coleção Primeiros Passos) (2008); Homem não tece dor: queixas e perplexidades masculinas (2013); Estrangeira: uma paraíba em Nova Iorque (2016); Transviad@s: gênero, sexualidade e direitos humanos (2017); Sexualidades, gêneros e violência: estudos sociológicos (2019)
Exposições: Viagem aos Campos de Refugiados Saharauis (2020); Palestina, Meu Amor (2021)
Produções Audiovisuais: Documentário: SAHARAUI: Memória e Exílio (2020)
Site Oficial: https://berenicebento.com/
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Berenice Bento é uma socióloga e escritora natural de Campina Grande, na Paraíba, além de atuar como professora na Universidade de Brasília. Sua atividade de pesquisa concentra-se em temas relacionados a gênero, sexualidade e direitos humanos. Foi considerada “uma referência incontornável para os estudos recentes de gênero no campo das ciências sociais”. Lecionou na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2009-2017), onde coordenou o Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Diversidade Sexual, Gêneros e Direitos Humanos (2010-2013), desde 2017 é docente da Universidade de Brasília. Suas atividades de ensino, pesquisa e extensão estão articuladas com sua inserção no debate político nacional e internacional em torno dos Direitos Humanos, numa perspectiva interseccional.
É membro do corpo editorial e articulista de várias revistas acadêmicas. É também colaboradora da revista Cult, desde 2015. Foi Secretária Geral da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura – ABEH (2008) e Coordenadora Geral do I Seminário Internacional Desfazendo Gênero (2013). Berenice Bento utiliza-se do conceito de dispositivo da sexualidade de Foucault para problematizar a estrutura do discurso médico sobre transexualidade. Além de abordar como o dispositivo da transexualidade se organiza teoricamente a partir de estudos biologizantes e psicanalíticos, a autora realizou pesquisa de campo com pessoas transexuais no contexto hospitalar que demandavam a cirurgia de transgenitalização para analisar a operacionalidade desse dispositivo. Bento concluiu que o dispositivo da transexualidade explicita a heteronormatividade como matriz de inteligibilidade de gênero, classificando a experiência transexual como uma doença por meio do poder do discurso médico, respaldado por práticas jurídicas e por algumas concepções psicanalíticas.
A socióloga entende que a transexualidade é um conflito identitário que contraria as normas de gênero e que a patologização da transexualidade se insere no campo da medicalização das condutas sexuais, em uma estratégia concebida por ela como assepsia de gênero, que intenciona assegurar a prática da heterossexualidade como norma. A pesquisadora discute o conceito de heteroterrorismo, ao relatar o processo de socialização de crianças e adolescentes e mostrar que a escola é um espaço de replicação e monitoramento das normas de gênero. A ordem reproduzida nas escolas, segundo Bento (2011), enquadra-se na norma de gênero heterossexual, que de acordo com a autora é alcançada por meio da prática do heteroterrorismo. Para Bento, o heteroterrorismo não se limita aos espaços escolares, ela permeia, primeiramente, todo o ambiente domiciliar, desde o momento em que o gênero da criança é anunciado e se começa a ser reforçadas expressões como: “isso é coisa de menina” ou “meninos não choram”. Todos esses atos heteroterroristas têm continuidade no espaço escolar. A formação subjetiva, portanto, não pode ser analisada sem considerar que os sujeitos são produzidos a partir do medo sistemático de serem reconhecidos ou confundidos como gays ou lésbicas.
Sua análise da violência contra a população trans no Brasil redefine o conceito de feminicídio, que se originou de reflexões sobre o assassinato sistemático de mulheres cisgênero no México. Bento aponta que, com base em relatos de violência contra pessoas LGBTQI+ documentados no Brasil, percebe-se que as pessoas gays com performances mais femininas são mais propensas a serem alvo de algum tipo de ataque do que os gays não femininos, mostrando assim que a finalidade da violência é, antes de tudo, contra qualquer atribuição entendida pela sociedade como expressão da feminilidade. Além disso, há o sentimento de abjeção direcionado às identidades vistas como desviantes de gênero pela sociedade heteronormativa, ressaltando uma violência intensa sobre os corpos trans femininos. O transfeminicídio é descrito, portanto, como uma política disseminada, proposital e sistemática motivada pelo ódio e nojo à população de mulheres trans, travestis e/ou transexuais. Ao mesmo tempo, a sociológica aponta níveis de continuidade e comunicação sistêmica entre a violência contra as mulheres cis e as mulheres trans.
Em 2011, foi agraciada com o Prêmio Direitos Humanos, considerado “a mais alta condecoração do governo brasileiro a pessoas e entidades que se destacaram na defesa, na promoção e no enfrentamento e combate às violações dos Direitos Humanos no País”. Recebeu o prêmio na categoria Igualdade de Gênero da presidenta Dilma Rousseff. A premiação de 2011 está associada à contribuição de Bento na compreensão e afirmação da transexualidade. Sobre essa temática, a socióloga afirmou: “Gênero e sexualidade são dimensões constitutivas das subjetividades e que são hegemonicamente naturalizadas. Acredito que este campo de estudos/ativismos tem contribuído para a desconstrução desta aparente natureza anistórica, mediante análises das configurações discursivas de determinadas épocas”.
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Berenice_Bento