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Data de publicação do verbete: 30/09/2024

Mestra Malu

Mestra de capoeira.
Data de publicação: setembro 30, 2024

Pesquisa e texto: Jielida Carla

Nascimento: 20 de agosto de 1970

Atividade artístico – cultural: Mestra de capoeira

Formação acadêmica: Bacharelado em Comunicação Social e Mestrado em Educação pela Universidade Federal da Paraíba

Instagram: @mestramalu

Maria de Lourdes Farias Lima, a Mestra Malu, iniciou sua trajetória no jornalismo na década de 90, inspirada por um trabalho sobre cultura proposto pelo professor João de Lima. Junto a outras alunas, produziu uma matéria sobre capoeira, o que a fez se identificar profundamente com essa expressão cultural. Naquela época, a presença feminina na roda de capoeira não era valorizada, e ela enfrentou desafios como mulher negra de pele clara, filha de uma mãe branca e um pai preto. A capoeira se tornou um espaço de empoderamento, permitindo que ela superasse sua timidez e se conectasse com a força da história do povo negro.

Formada pelos mestres Nô Moreira de Oliveira e Dário, Lázaro e Nô aluna direta do mestre Dário, ela é mestre de capoeira e parte do Grupo Capoeira Angola Palmares, que foi criado em 1998 no final da década de 70, pelo mestre Nô com o objetivo de promover a capoeira de forma acessível na comunidade do Roger, em Salvador. O grupo cresceu,e se espalhou pelo Brasil como para fora do país , em especial em João Pessoa, tornando-se um símbolo de resistência e identidade cultural, formando jovens que utilizam a capoeira como motor para suas trajetórias educacionais e profissionais. Ela destaca a importância de uma perspectiva emancipatória, que transforma a visão da periferia e promove o diálogo entre diferentes saberes.

Pesquisadora de capoeira com foco na educação, ela menciona que muitos membros do grupo estão atualmente em pós-graduação, abordando temas como movimento negro e relações ético-raciais. O grupo valoriza a epistemologia do sul global e a filosofia ubuntu, promovendo a interconexão entre experiências individuais e coletivas. Para ela, a capoeira é um meio de visibilizar a cultura negra e discutir identidade e patrimônio.

Ao refletir sobre os 26 anos do grupo, ela ressalta que as conquistas são coletivas, ligadas à resistência iniciada no Bairro do Roger. Destaca também a importância de um salão de penteados africanos na valorização da estética negra e o envolvimento do grupo com outras expressões culturais. O ambiente comunitário do grupo, que não se formaliza como uma ONG, incentiva a inclusão e o respeito, independentemente da origem ou identidade.

Apesar das desigualdades sociais, o grupo busca criar um espaço onde todos se sintam valorizados. A inclusão da comunidade LGBT é um marco importante, evidenciando a evolução das atitudes em relação à diversidade. Ela reconhece que a educação mútua é contínua e que, embora ainda não possuam um CNPJ, a luta por um espaço próprio e por apoio social é constante.

A pandemia trouxe desafios, mas o grupo se adaptou, realizando aulas online e mantendo a conexão com capoeiristas de diferentes partes do mundo. Ela enfatiza a disciplina na capoeira, que ajuda a enfrentar desafios e a expressar-se. A inclusão de diversas identidades é celebrada como parte da evolução do grupo, que se destaca pela união e respeito.

A capoeira é vista como um meio poderoso para autoconhecimento, especialmente para aqueles com identidades complexas. Ela coordena o projeto “Capoeira no Chão da Escola”, promovendo uma educação antirracista e popular, valorizando a diversidade. O Encontro Nordeste Capoeira Angola-Palmares é um espaço de troca que reforça a ancestralidade e a interação entre gerações.

A capoeira também fortalece a identidade cultural em festas populares e serve como uma vitrine para a cultura negra. Ela expressa seu amor pela capoeira, que a conecta com seus ancestrais e se torna parte fundamental de sua vida. Com um pai analfabeto e uma mãe que estudou até o quarto ano, ela valoriza suas raízes e se prepara para iniciar um doutorado em homenagem ao pai.

Ela vê a roda de capoeira como um espaço de autenticidade, onde todos podem ser si mesmos, independentemente da aparência. A capoeira traz alegria e conexão, oferecendo um refúgio da pressão do dia a dia. Finalmente, destaca que a capoeira nos convida a refletir sobre as escolhas que fazemos na vida, celebrando a flexibilidade e a leveza dessa arte.

Fontes:

Entrevista concedida por Mestra Malu a Ester Souza e Laura Moura no dia 15 de Agosto de 2024

https://www.escavador.com/sobre/1331489/maria-de-lourdes-farias-lima

Fotos: Túlio Cordeiro

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