Naturalidade: Cabedelo – PB
Nascimento: 1 de março de 1931 // Falecimento: 19 de abril de 2020
Atividade exercício-profissional: Jogador de futebol
Mais conhecido como Índio, Aluísio Francisco da Luz foi um futebolista paraibano que atuava como atacante. Por volta de meados de 1938, em função da morte do pai na então Vila de Cabedelo, litoral norte da Paraíba, ainda criança, Índio e sua família mudaram de cidade e foram morar no Rio de Janeiro, onde já residia seu irmão mais velho. A partir da sua chegada ao Rio de Janeiro, ele inicia o interesse pelo futebol ainda na escola pública. Vem dessa época também, o apelido pelo qual ele ficaria conhecido por toda sua vida: Índio.
No final dos anos 1940, ele já atuava como juvenil no time da zona oeste do Rio de Janeiro chamado Aliados do Bangu, quando foi descoberto por Togo Renan Soares conhecido como “Kanela”, então técnico do time de futebol do Flamengo e anos mais tarde, um também vitorioso técnico de basquete (dez vezes campeão carioca) pelo clube e pela Seleção Brasileira (bi campeão mundial). Kanela, também era paraibano de João Pessoa e tio do humorista e apresentador Jô Soares. No primeiro ano de Flamengo ainda como juvenil, Índio pôde desfrutar da amizade e da companhia no dia a dia do clube com o craque Zizinho eleito em 1950 como o melhor jogador da Copa no Brasil. Zizinho inclusive, dividiu com Índio que estaria de saída do Flamengo e que ele lhe confiaria a importante missão de ser o novo craque e artilheiro do time naquele momento.
A saída de Zizinho do rubro negro na época, foi envolta de muito polêmica e através de negócios entre os presidentes dos clubes: Do Flamengo Dário de Melo Pinto, do Bangu Guilherme da Silveira Filho com o então ministro da fazenda, Manoel Guilherme da Silveira Filho. Anos mais tarde Índio e Zizinho se tornaram grandes amigos. O Flamengo do início dos anos 1950 era um time desacreditado e vinha de uma seca de títulos. Com a chegada de Índio e de outros grandes craques como: Evaristo de Macedo, Zagallo, Benitez, Esquerdinha, Rubens entre outros, o time conseguiu formar um grupo vencedor que ficou marcado na história como “esquadrão imortal” e o seu ataque o qual Índio era o centroavante titular, conhecido como “rolo compressor”. Já em 1951, o Flamengo realiza a sua primeira turnê na Europa. Índio é destaque e um dos artilheiros, premiado na Suécia, um dos dez países da turnê, como melhor jogador. Ao todo, foram dez jogos e dez vitórias. Zé Lins do Rego torcedor fanático do clube e que exercia cargo na diretoria rubro negra, chegou a declarar sobre essa primeira excursão a Europa: “Só Santos Dumont havia feito tanto sucesso na Europa antes dos rapazes do Flamengo”. Em maio de 1952, o Flamengo fez em João Pessoa, no estádio do Esporte Clube Cabo Branco, seu primeiro jogo na Paraíba contra um combinado entre os times do Botafogo da Paraíba local conhecido como “Belo” e o Auto Esporte Clube.
Índio teria assim a chance de voltar a sua terra Cabedelo distante 20 quilômetros de João Pessoa, a qual estava distante havia 15 anos. Ele pede dispensa dessa partida para rever parentes e amigos em Cabedelo, decisão que deixou profundamente irritado os torcedores conterrâneos que queriam ver o artilheiro jogar. O Flamengo perdeu a partida por 3×2 e os torcedores chateados, espalham a noticia que o time rubro negro havia perdido “com Índio e tudo”. 1953 é o ano de mudanças para o Flamengo e do início da fase vitoriosa da carreira de Índio. O Flamengo finalmente conquista o campeonato carioca após nove anos e Índio, com 41 gols, é o artilheiro da temporada. Seus gols no Flamengo em 1953, sua postura inteligente e inovadora de jogar, imposta pelo “El Bruxo” Fleitas Solich, técnico paraguaio recém contratado pelo o então presidente Gilberto Ferreira Cardoso, fizeram Índio chegar a Seleção Brasileira em 1954 para a disputa da Copa da Suíça, a primeira Copa após a segunda grande guerra, tornando-o assim o primeiro paraibano a vestir a camisa da seleção brasileira e a disputar uma Copa do Mundo.
Índio também fica marcado como o terceiro nordestino na Seleção, sendo Ademir Menezes “o queixada”, natural de Recife, Pernambuco, o primeiro nordestino na seleção brasileira. Índio disputa nessa Copa, a partida emblemática entre Brasil x Hungria, mais tarde eternizada como “a batalha de Berna” e segundo a FIFA, uma das dez maiores partidas de todas as Copas. A partida foi marcada desde o início por muita rivalidade e disputa entre as duas seleções. O Capitão brasileiro Bauer entra em campo com uma imagem de Nossa Senhora a fim de provocar os adversários ditos “comunistas”. A Hungria ainda havia feito parte da aliança com a Alemanha na segunda grande guerra, e os efeitos dessa atitude ainda ecoavam no mundo e no futebol. Antes das partidas da Copa de 1954, cartolas gritavam aos jogadores no vestiário, palavras de ódio e “vingança aos mortos na segunda guerra”, o que fez do clima entre os jogadores nesta Copa, sempre muito tenso.
No dia 27 de Junho de 1954, o Brasil perde a partida contra a Hungria por 4×2, Índio sofre um pênalti e ainda mete uma bola na trave. Após o apito final do juiz inglês Arthur Ellis, a confusão foi geral. Briga generalizada entre jogadores, jornalistas e cartolas. Índio declarou na entrevista à Fundação Getúlio Vargas, que “apenas observou tudo de longe”. Índio jamais foi expulso de uma partida de futebol. O Flamengo com as bênçãos do flamenguista Padre Góes, sagrou-se com Índio tricampeão carioca de 1953 a 1955 e ninguém fez mais gols que ele nesse período, gols que o ajudaram a ficar marcado na história do clube rubro negro como o décimo maior artilheiro, sendo Zico o primeiro dessa lista. Índio foi um torcedor apaixonado pelo Flamengo desde a sua infância no Rio de Janeiro. Ele foi muitas vezes festejado no Maracanã pela torcida e pela imprensa carioca, desde a sua chegada no time profissional em 1951 quando por exemplo, fez o gol que quebrou uma sequência de 20 jogos em que o Clube de Regatas Vasco da Gama e seu Expresso da Vitória vencia o Flamengo. Índio ainda fez os gols dos títulos cariocas de 1953 e 1954.
No início de abril de 2020, no Rio de Janeiro onde morava com a família, Índio deu entrada no hospital passando mal e foi internado. Na sequência, foi possivelmente infectado no próprio hospital pelo vírus da covid 19. Era o início da pandemia e não sabia quase nada sobre a doença. Índio faleceu no dia 19 de abril de 2020, aos 89 anos. Curiosamente, o dia 19 de abril é conhecido como “o Dia do Índio”.
Suzana Sousa
Fontes: