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Data de publicação do verbete: 27/11/2023

Ambrosina Magalhães Carneiro da Cunha

Cronista e poetisa, membro de entidades de cunho feministas.
Data de publicação: novembro 27, 2023

Naturalidade: Paraíba

Nascimento: 1860

Atividade artístico-cultural: cronista e poetisa, membro de entidades de cunho feministas

Atividade exercício-profissional: médica, colaboradora de jornal

A autora nasceu em 1860, na Paraíba, em uma família de posses, que pode oferecer-lhe uma educação esmerada, numa época em que ler e escrever eram ações reservadas aos homens, e quando muito, àquelas mulheres pertencentes à aristocracia. Com o passar dos anos Ambrosina passou a questionar a desigualdade de direitos entre gêneros impostos pelo sistema patriarcal, de modo que ela foi se identificando com os ideais transgressores, na busca de uma vida com mais participação e funções sociais pautadas na cidadania e direitos mais justos conferidos às mulheres, sendo uma das fundadoras de uma sede de apoio a mulheres no solo paraibano, em defesa de uma vida mais digna e democrática, com mais liberdade de expressão no universo de vivências femininas. Além da militância com os movimentos em prol dos direitos das mulheres, Ambrosina exercia a função de colaboradora do Jornal Liberal Parahybano, onde ela escreveu, aos 20 anos, a crônica “Nas margens do Capibaribe”. Diante desta descrição, ficou evidente a relação da referida autora com o primeiro momento do feminismo no Brasil, o qual teve representações na Paraíba, incentivados e promovidos por aquelas que tinham inquietações convergentes com a de Ambrosina, o que as localizam num lugar de importante participação.

Esta disposição para a luta em favor de um amparo mais democrático em torno da condição reservada às mulheres, somada à falta de aceitação de que a sua rotina  fosse delimitada no espaço da casa, voltada às prendas domésticas, enquadram essas militantes na classe das subversivas, estreitando o enfrentamento ao sistema regido pelo abuso de poder masculino. 

Sob o domínio de alguns dogmas patriarcais, Ambrosina não pode se recusar ao casamento, consumado quando ela ainda era muito jovem, com o então militar Francisco Antônio Carneiro da Cunha, de quem ela ganhou os dois últimos sobrenomes. Aos 21 anos, Ambrosina acompanhou seu marido nas atividades da profissão dele, passando a morar no estado do Rio de Janeiro, estado em que inaugurou a primeira escola de ensino superior mista, na qual Ambrosina se matriculou como aluna da primeira turma de Medicina, tendo como professora Rita Lobo. 

Neste ínterim, Francisco Antônio sofreu um acidente em suas atividades como militar, e, consequentemente, foi impedido de continuar tal exercício, o que lhe conferiu uma nova atividade: a de docência, tanto na escola militar, quanto na escola técnica, dividindo também seu tempo com a arte, para a qual ele tinha aptidão, pois tocava instrumentos musicais e escrevia versos, muitos dos quais em homenagem a sua esposa.  Depois de um longo tratamento, restabeleceu-se, ficando, porém, com algumas sequelas, inclusive, a perda do olfato, tendo sido, em 1871, reformado por incapacidade física, recebendo honras de major. Dedicou-se ao magistério civil e militar, lecionando, através de concurso, nas Escolas Militar e Politécnica. Tocava piano e clarineta; compunha sonetos, muitos, dedicados à esposa. Devido a razões não informadas este casal não deixou descendentes, e Ambrosina, então, passou a ser viúva nos anos de 1897, quando ela contava com 37 anos de idade. Mesmo diante das multifacetadas funções exercidas por Ambrosina: médica, colaboradora de jornal, membro de entidades de cunho feministas e autora de crônica e de poema, não há nenhuma publicação em livro das produções desta mulher paraibana, o que nós temos como informação é a crônica “Nas margens do Capibaribe” e sua produção mais famosa, o poema em Soneto “Noetivago”, este que confere à Ambrosina aproximação com a estética simbolista, do qual encontramos o quarteto seguinte: 

 

“Já vai bem alta à noite .E sobre o lago manso,  

Finíssimo lençol de gaze cor de poeta 

Vão dois cisnes boiando um suave remanso 

Enquanto vai passando a doce serenata”. 

 

Logo, desde muito cedo, Ambrosina Magalhães Carneiro da Cunha demonstrou uma orientação e identificação com o feminismo, revelando-se, também, como poeta e representante das Letras, além de médica, a qual recebia apoio dos pais em relação à sua carreira profissional na Medicina, quando não era comum formação básica e escolarização superior destinada às mulheres. Apesar de toda essa participação percorrida desde o mundo exterior ao doméstico e, mesmo diante da influência que exercia perante a sociedade, ao comprovar competência e multifaces, Ambrosina não deixou nenhum livro publicado, ela e outras mulheres contemporâneas a ela representavam “mulheres mudas” que “quebravam” o silêncio e falavam através da poesia, dos diários, dos manifestos, enfim, de escritos literários e políticos, que, muitas vezes, apresentavam diálogos solitários com uma literatura e uma visão de mundo tomadas para si. 

Sandra da Costa Vasconcelos

Fontes:

http://www.aplpb.com.br/academia/academicos/cadeiras-11-a-20/175-n16-patrono-francisco-antonio-carneiro-da-cunha

https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/20692/1/AnaPatr%C3%ADciaFredericoSilveira_Tese.pdf

 

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