Naturalidade: Pombal – PB.
Nascimento: 26 de dezembro de 1894 / Falecimento: 20 de março de 1982.
Atividades artístico-culturais: Poeta, cantador e repentista.
Belarmino Fernandes de França nasceu em Pombal, no sítio Várzea da Serra, no antigo distrito de Paulista (o qual foi elevada à categoria de cidade em 1961), era filho de Vicente Manoel de França e Maria Benvinda Fernandes.
Seu Belo, como era carinhosamente conhecido, veio de uma família simples, como ele mesmo dizia em seus versos: “Lá em casa uns tinham rede / Outros dormiam no chão / Ou numa cama de varas / Sem coberta nem colchão / Mas ali ninguém ouvia / Nem reclamação… Mesa lá não existia / na hora da refeição / Todos ao redor da panela / Sentado em cepo ou no chão / Botava o prato entre as pernas / Comia à satisfação…”.
Até aos 12 anos de idade nunca tinha ouvido falar em estudos, durante esse tempo dedicou-se somente ao trabalho no campo. Devido à um convite de um tio, passou 26 dias estudando com um professor particular, e só vindo estudar novamente com 22 anos, estudou num período de 19 dias, totalizando 45 dias de estudos formais, o resto aprendeu sozinho.
Era detentor de uma memória fotográfica singular, tudo que lia ficava em sua mente, quando terminou o seu segundo período de estudos procurou ler de tudo: jornais, revistas, livros, cordéis, enfim tudo que tivesse letras. Descobriu os seus dotes para a poesia aos 13 anos de idade, surgido meio que por acaso, quando era dia de feira, ele sempre que tinha que tomar conta da casa, e preparando a comida, razão pela qual estava impedido de acompanhar a família.
Começou sua carreira fazendo versos na feira da cidade. Depois, tornou-se um grande e respeitado poeta, cantador e repentista, vencedor de cantorias e de pelejas. Era ao mesmo tempo admirado e temidos pelos cantadores que com ele duelavam. Com tudo, nunca deixou de lado a sua profissão de lavrador e criador, de onde realmente tirava o sustento da família, já que cantava mais por amor à arte da poesia e do improviso.
Autêntico repentista, imbatível em desafios, tocava viola e sabia cantar e descrever, magistralmente, em versos de improviso, os mais diversos assuntos, numa linguagem espontânea, poética e transparente. Estava sempre alegre e de bem com a vida, improvisando versos e repentes que representava os gritos da sua alma, a memória do seu povo, o ardente amor à natureza, o cotidiano da vida sertaneja, tudo inspirado, cantado e decantado em versos e prosas, legado que ficará para sempre na memória dos amantes da poesia popular nordestina.
Ao longo da vida, como autodidata que era, adquiriu incomensurável cultura, para o que foram indispensáveis sua grande força de vontade, descomunal inteligência e fabulosa memória. E isto fica muito claro ao se ter conhecimento de depoimento seu, quando afirmou: “Tive apenas 45 dias de aulas. E o pouco que aprendi e do muito que hoje sei foi desembestado por conta própria, comigo mesmo. Entendo do Apocalipse, sei da passagem da Divina Comédia de Dante, sirvo-me de Aristóteles, de Cícero e de Péricles. Luís de Camões é gato de casa e Cleópatra a face da beleza que vespertinamente encontro no poente, em nuvens, ensanguentada”.
Aos 83 anos de idade, cinco anos antes de sua morte, sentindo o peso da idade Belarmino improvisou: “Na mocidade sadia / O poeta é um herói / Mas lhe chegando a velhice / Definha e tudo lhe dói / O que a mocidade cria / Sempre a velhice destrói… A velhice nos corrói / Saúde, força e lembrança / O moço a tudo resiste / O velho com tudo se cansa / E é isto que está se dando / Com Belarmino de França”.
Faleceu aos 88 anos de idade, com longevidade para os de sua geração. Morreu satisfeito. Isso por ter amado, sido amado, deixado uma prole, ter aprendido a ler e por ser portador de conhecimentos mil. Por ser poeta, cantador e repentista. Por ter legado ao mundo a sua poesia e o seu saber. E por ter dado sua contribuição à cultura do seu povo. Ou seja, satisfeito pela vida que teve.
Berlarmino de França após uma visita a cidade vizinha de Patos, depois de trinta e um anos que ali estivera (antes de falecer, em 1958). Ele encontrou tudo transformado, compôs o seguinte poema em sextilhas:
Patos, cidade imponente
Do sertão és a Princesa
Por teu majestoso porte
Revestido de beleza
Parece até que a teus pés
Vem curvar-se a natureza.
A contempla-te a grandeza
Surge o sol no horizonte
E a lua branca e formosa
Nívea, casta, sem desconte
Com sua luz prateada;
Vem coroar tua fronte.
Te banhas na mesma fonte
Que emana da cordilheira
Onde rufava o pandeiro
Inácio da Catingueira
Com os acordes da lira
Do Romano do Teixeira.
A ti, cidade altaneira
Quis compor uma epopéia
Por teu gênio literário
Estilo clássico e idéia
És Atenas transportada
As terras da Filipéia.
[…]
Músicas de Belarmino de França em ” Mário de Andrade – Missão de Pesquisas Folclóricas – Música tradicional do norte e nordeste- CD 03: Paraíba”
Fontes:
http://contandosaudade.blogspot.com.br/2011/09/belarmino-fernandes-de-franca-26-de.html
http://www.paulistapb.net/2013/03/belarmino-de-franca-poeta-cantador-e.html
http://omundocomoelee.blogspot.com.br/2013/05/a-poesia-espirituosa-de-belarmino-de.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Usu%C3%A1rio(a)_Discuss%C3%A3o:Jerdivan
http://www.discosdobrasil.com.br/discosdobrasil/consulta/detalhe.php?Id_Disco=DI05559
Pesquisador José Paulo Ribeiro
2 respostas
Morei em Paulista por 10 anos, e sempre me deparei com nome de Belarmino na placa de entrada da cidade, mais foi apenas hoje onde fui conhecer de sua história que, alías, muito interessante, realmente foi uma figura bem talentosa e que merece ter um munício chamado de sua terra.
Muito bom