Pesquisa e texto: Débora Luz
Criador: Antonio Modesto
Localização: Itaporanga-PB
Inauguração: 9 de janeiro de 2019
Em meio às constantes falhas no fornecimento de energia elétrica, Antônio Modesto, de 51 anos, morador da zona rural de Itaporanga, no Sertão da Paraíba, encontrou uma solução criativa e grandiosa: a construção do maior candeeiro do mundo. Com 2,1 metros de altura e capacidade para 1.080 litros de querosene, a obra não só ilumina uma vasta área de até 800 metros quadrados, como também alimenta uma tradição sertaneja que resiste ao tempo. O candeeiro é um elemento profundamente enraizado na cultura sertaneja, utilizado há décadas para iluminar ambientes antes da chegada da energia elétrica. Apesar do progresso, muitas comunidades rurais ainda preservam o uso do candeeiro, valorizando a tradição e buscando economizar.
A ideia surgiu como uma resposta às frequentes interrupções no fornecimento de energia. Em apenas 15 dias, Modesto transformou folhas de zinco em um impressionante candeeiro, que agora se ergue como um marco na comunidade do Sítio Jenipapo. O processo envolveu a ajuda de seu filho, que na época era estudante de Engenharia Civil, que não só colaborou na construção, mas também na medição da área de alcance da iluminação.
A obra tem atraído a atenção de cerca de 10 visitantes diários, curiosos para ver de perto e registrar em fotos essa impressionante criação. “Eu compro poucas quantidades de querosene e acendo ele em algumas noites, mas não por muito tempo, pra não perder a graça”, comentou Antônio, sobre o uso moderado do candeeiro.
Antônio e seu filho consideram a construção como o maior recorde mundial da categoria, já que, até então, não há registro de outro monumento igual de porte semelhante.
A inauguração oficial do candeeiro gigante foi realizada no dia 9 de janeiro de 2019, coincidindo com o aniversário da cidade de Itaporanga. Para celebrar, Antônio organizou um evento único: uma competição de luta feminina sob a iluminação do candeeiro. O evento contou com 10 competidoras, e houve prêmios para as três melhores colocadas: R$ 700 para a campeã, uma cesta básica e uma bicicleta para a segunda colocada, e R$ 300 para a terceira.
Em homenagem ao candeeiro, o poeta cordelista Neto Ferreira, natural de Livramento, no Cariri paraibano, lançou no dia 28 de junho de 2019 o cordel intitulado “O Maior Candeeiro do Mundo”. O evento de lançamento foi realizado no próprio Sítio Jenipapo, com a presença de convidados e transmitido pelo canal de YouTube do poeta. O cordel celebra a essência da história do candeeiro, associando valores e fatos sobre a invenção que já ganhou destaque nacional e se tornou ponto turístico em Itaporanga.
O candeeiro gigante de Antônio Modesto não é apenas uma solução prática para os problemas de energia, mas também um tributo à resiliência e à criatividade do povo sertanejo, iluminando tanto o passado quanto o futuro da região.
Trecho do cordel “O Maior Candeeiro do Mundo”, de Neto Ferreira:
Peço inspiração poética
Ao cristo de padre Zé Pra descrever em cordel
A memória, o povo a fé Que há na Pedra Bonita
E falar pra quem acredita
O candeeiro o que é.
Quando não tinha energia
No tempo de antigamente
Era a luz do candeeiro
Que clareava o vivente
Trazia mais esperança
Para o velho e a criança
Com o seu clarão ardente.
No sertão paraibano
Naquele tempo passado
Não existia energia
E o povo era vidrado
No dilema da discórdia
Na Antiga Misericórdia
O candeeiro é criado.
E o pai da invenção
Traz a modéstia no nome
Grande Antônio Modesto
Um inventor de renome
Que não há quem o espante
O candeeiro gigante
É seu e não tem quem tome.
É na princesa do vale
Que ele se localiza
Lá no sitio Jenipapo
Sua chama se eterniza
E o projeto de Modesto
Para o povo aqui atesto
É real, se concretiza.
Antônio foi consagrado
Com a graça do divino
Quanto veio a sua mente
Por mania do destino
Fez o projeto em caneta
E colocou na prancheta
Aguçando assim seu tino.
O candeeiro gigante
Traz a chama da verdade
Mil litros de querosene
É sua capacidade
800 metros de luz
Atesto até por Jesus
Essa é sua claridade.
O seu pavio é graúdo
Que pra ter compensação
São apenas 20 quilos
De vigoroso algodão
E sua chama clareia
O vivente que vagueia
Pelas brenhas do sertão.
Inaugurado em janeiro
De dois mil e dezenove
Itaporanga fez marco
Pois a cultura promove
Teve festa, animação e luz com grande amplidão, que viu a cena comove!
Itaporanga parou
Dia nove de janeiro
Modesto fez grande festa
Com a chama do Candeeiro
E o sertão se fez presente
Meu Deus era tanta gente
Estava o Brasil inteiro.
Paralelo ao grande evento
Houve outra atração
Grande luta de mulheres
Disputa, soco e ação
Aqui pra o povo falo que Cida de Zé do galo
Venceu a competição.