Naturalidade: Princesa Isabel – PB
Nascimento: 9 de março de 1926// Falecimento: 24 de abril de 2008, Paulista – PE
Atividade artístico-cultural: instrumentista
Número de canções de sua autoria: 80
Discos Lançados: Único Amor (1968), Um violão direito nas mãos do Canhoto (1974), Violão brasileiro tocado pelo avesso (1977), Fantasia nordestina volume dois (1990), Pisando na brasa (1990), Canhoto da Paraíba e Zimbo Trio (1993), Com Mais de Mil (1997).
Por ser canhoto, Francisco Soares de Araújo, ficou conhecido pelo nome artístico de Canhoto da Paraíba. Nascido em Princesa Isabel, no sertão paraibano, tocava com o violão invertido, mas sem inverter as cordas, pois precisava compartilhar o mesmo violão com seus irmãos, que eram destros. Nasceu de uma família de músicos, seu avô era clarinetista, o pai tocava violão, os seus irmãos, nove ao todo, se revezavam entre outros instrumentos. Canhoto da Paraíba é considerado por expoentes musicais brasileiros como Pixinguinha, Luperce Miranda, Dilermando Reis, Jacob do Bandolim, Radamés Gnatalli, Paulinho da Viola, entre outros, como sendo um violonista de “primeira grandeza”. Esse reconhecimento deve-se ao seu talento e à sua técnica de tocar o violão num estilo contrário ao da escola de violão convencional: do lado esquerdo, sem precisar inverter as cordas. Aliás, ele adotou essa técnica quando tinha apenas 12 anos.
O curioso é que para escrever ele usava a mão direita; para chutar bola, o pé direito, mas para realizar qualquer outro serviço utilizava a mão esquerda, inclusive para tocar violão, cavaquinho e bandolim. Sua trajetória musical iniciou-se em 1948, com 22 anos, quando viajou para o Recife para participar de um programa na Rádio Clube de Pernambuco. Em 1953, assinou contrato com uma rádio da Paraíba. Nessa época, já havia formado um conjunto musical. Em 1958, mudou-se para o Recife e, no ano seguinte, numa excursão de músicos nordestinos, viajou para o Rio de Janeiro. Lá, ele participou de um sarau na famosa casa de Jacob do Bandolim, onde estava presente a nata do choro carioca. Canhoto da Paraíba tocou violão magistralmente e despertou o entusiasmo e a admiração de todos.
Reza a lenda, que no primeiro sarau em que se apresentaram para a nata dos músicos brasileiros, Radamés Ganttali ficou tão impressionado que gritou um palavrão e jogou seu copo de cerveja no teto. Para recordar o momento, Jacob nunca limpou a mancha no teto. Considerando o temperamento explosivo de Radamés e o virtuosismo de Canhoto. O fato é que esta reunião foi tão impactante, que um moleque que a assistiu, filho de um dos músicos participantes, resolveu por causa disso aprender música. Hoje ele é conhecido como Paulinho da Viola.
Estabelecido em Recife, desde 1958, somente dez anos depois, Canhoto da Paraíba conseguiu gravar seu segundo disco, “Único Amor” pela finada gravadora Rozenblit. Este disco que foi relançado em CD, com apoio de João Florentino, dono da rede de lojas Aky Discos e do selo Polysom. Entre tantos ótimos violonistas na cidade na época, Canhoto surpreendeu na escolha de quem iria acompanhá-lo. Escolheu o jovem Henrique Annes, de 22 anos e formação clássica. Canhoto sabia das coisas. Henrique veio a se tornar um dos maiores violonistas brasileiros, e fez parte de alguns dos mais interessantes projetos instrumentais, como a Orquestra de Cordas Dedilhadas de Pernambuco (que tem um maravilhoso disco relançado em CD) e lidera o grupo Oficina de Cordas, o maestro Nelson Ferreira foi o produtor musical do disco.
Canhoto veio a gravar em 1977, “Violão brasileiro tocado pelo avesso“. Em 1997, gravou seu último disco, “Com Mais de Mil”, com as participações especiais de Rafael Rabello e Paulinho da Viola. Também saiu em CD sua entrevista para o programa Ensaio da TV Cultura. Em 1998, Canhoto da Paraíba sofreu uma isquemia cerebral que paralisou o braço esquerdo e o impediu de tocar. No mês de maio deste mesmo ano, vários dos grandes nomes do chorinho e do samba realizaram um show beneficente no Teatro Guararapes, Recife, para ajudá-lo a cobrir as despesas médicas e de tratamento intensivo. Ele já foi agraciado com o título de “Patrimônio Vivo de Pernambuco”, através da Lei estadual de Pernambuco nº 12.196 de 2 de maio de 2002.
Em 2004, foi criada a Lei nº 7.694, que ficou conhecida como “Lei Canhoto da Paraíba”, visando proteger e valorizar os conhecimentos, fazeres e expressões das culturas tradicionais do Estado da Paraíba. Através do Registro no Livro de Mestre das Artes (REMA), pessoas que contribuam há mais de 20 anos com atividades culturais na Paraíba, nas áreas de dança, brincadeiras, músicas, folguedos, artes visuais e outras atividades que por tradição oral receberam e repassam para as novas gerações, recebem o título de “Mestres e Mestras” ao terem suas artes reconhecidas. Canhoto da Paraíba faleceu em 24 de abril de 2008, vítima de um infarto aos 82 anos.
Jonas dos Santos
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Canhoto_da_Para%C3%ADba
https://acervoparaiba.blogspot.com/2012/05/canhoto-da-paraiba-o-violao-brasileiro.html
https://paraiba.pb.gov.br/diretas/secretaria-da-cultura/programas/lei-canhoto-da-paraiba-2013-rema