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Data de publicação do verbete: 17/08/2022

Churrascaria Bambu

Churrascaria Bambu: o ponto de encontro boêmio da intelectualidade pessoense.
Data de publicação: agosto 17, 2022

Fundação: 1960

Demolição: 1973

Localização: Lagoa (atual Parque Sólon de Lucena) Centro, João Pessoa-PB

É muito comum estigmatizar a figura do boêmio. A primeira imagem é a de alguém que leva um estilo de vida voltado para a farra, vagando pelos bares, aproveitando ao máximo os prazeres da noite. Pejorativamente procura-se classificar a boemia como comportamento de vadiagem, mas sabemos que não é bem assim, a vida boêmia promove a vida sociocultural de qualquer cidade. Seus pontos de encontro, oferecem a oportunidade democrática de convivência doa mais diversos segmentos da sociedade. Neles promovem-se animados bate-papos em que tudo se discute. As mesas de bares ou restaurantes, são locais onde se debatem política, cultura, filosofia, futebol. Seus frequentadores, os chamados “boêmios “, alimentam as ideias que constroem a cultura intelectual de uma comunidade, revelando talentos nas artes e na literatura.

Em João Pessoa, nos anos 1960, as opções de lazer principalmente à noite, eram poucas. A cidade não havia ainda se espalhado até a orla, onde hoje se encontra a sua vida noturna, os pontos de convivência social eram os bares e restaurantes, quase todos localizados no centro da cidade, as únicas exceções eram Elite Bar, no bairro de Tambaú e o Luzeirinho, em Jaguaribe.

O “point “, era portanto, a famosa Churrascaria Bambu, na Lagoa. Lá podia se encontrar as mais diversas e conhecidas figuras do universo político, empresarial e intelectual de João Pessoa. Era um ambiente majoritariamente frequentado por homens, mulheres geralmente só apareciam ao lado de seus maridos ou namorados. Mas na madrugada de 21 de novembro de 1971, um terrível crime marcaria para sempre a história da ilustre Churrascaria Bambu, cinco jovens de classe média alta pessoense se envolveram no assassinato do taxista Francisco Delfino Sobrinho.

Por um razões fúteis, os jovens Luciano Bernardo, Fernando Milanês (filho de um importante deputado da época), Aristóteles, Tibério e Ronaldo Aragão, assassinaram Francisco que na ocasião estava aguardando passageiros frequentadores da churrascaria, quando os cinco rapazes chegaram no local, em um horário bastante tarde, começaram a beber e após estarem muito embriagados, solicitaram o serviço do taxista, porém ele havia legado que tinha reservado o táxi para um pessoal de Natal-RN, inconformados com a resposta, eles começaram a chutar e amassar o veículo, e ainda tentaram retirar os passageiros a força, mas o taxista havia partido para levá-los ao seu destino. Após deixá-los, Francisco retornou a churrascaria para cobrar dos jovens o prejuízo causado por eles, já que o veículo era alugado. Segundo relato de testemunhas presentes, os rapazes não aceitando a cobrança, passaram a agredi-lo, estando um deles armado e deferindo dois disparos, sendo que um atingiu o tórax e o outro na cabeça, Francisco morreu no local. A vítima havia se casado a apenas 5 meses, o crime revoltou a classe dos taxistas exigindo a prisão dos cinco rapazes envolvidos no homicídio covarde.

Por fim, dos cinco, três foram presos, e apenas Luciano foi levado a júri popular, mas acabou sendo absolvido por cinco votos a dois, já que o réu contava com bons advogados. Em 1973, o então prefeito de João Pessoa, Dorgival Terceiro Neto, ordenou a demolição da Churrascaria Bambu, como se quisesse apagar da memória da população pessoense indignada, o crime impune. Porém a cidade perderia um lugar com um valor histórico-cultural. A churrascaria foi um dos lugares favoritos para programas de fins de semana.

                      Jonas do Nascimento

Fontes:                                                                                                                                                                                                                

https://www.carlosromero.com.br/2021/02/roteiro-da-boemia-nos-anos-60.html

https://amp.polemicaparaiba.com.br/paraiba/resgate-da-historia-crime-da-bambu-volta-a-pauta-paraibana-quase-cinco-decadas-depois-quem-matou-o-taxista/