Texto: Débora Luz
Naturalidade: João Pessoa – PB
Nascimento: 30 de setembro de 1998
Atividades artístico-culturais e profissionais: escritor, fotógrafo, artista visual e modelo
Formação acadêmica: Graduando em Letras Português, Universidade Federal da Paraíba
Instagram: @tornadocley
Contato: cleydsonanderson2011@hotmail.com
Cley Tornado emerge no cenário literário paraibano, com uma perspectiva artística enraizada nas suas vivências pessoais e na busca por liberdade através da arte.
Seu desejo de se expressar através da escrita começou ainda na infância, quando ocupava-se escrevendo canções e criando histórias em quadrinhos. Na adolescência, sua paixão pela poesia ganhou forma, inspirando-se em grandes nomes como Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade, o jovem poeta compartilhava suas criações com amigos em mesas de bar. Durante um período difícil da sua vida, Cley descobriu na poesia marginal, nas batalhas de rap, na arte e nos palcos não só uma maneira de aliviar-se, mas também encontrou uma nova identidade artística. “Comecei a escrever poesia marginal para recitar nas batalhas de rap… Escrevia aquilo que eu sentia. A poesia marginal é um grito de revolta contra o sistema, contra a covardia do mundo… É o grito em busca da liberdade”, afirma o autor.
Contudo, Cley Tornado rejeita a ideia de se limitar a uma única identidade artística. Sua escrita transcende fronteiras estilísticas, explorando diversas formas de expressões literárias. “De toda forma sou poeta marginal, mas também sou só poeta, além, escritor”, disse ele.
Com referências artísticas transitando por ícones da música como Cícero Rosa Lins, Giovanni Cidreira, Céu, Luedji Luna, Liniker e grandes nomes da literatura, como Conceição Evaristo, Miriam Alves, Ariano Suassuna e Augusto dos Anjos, Cley Tornado equilibra diferentes narrativas, histórias reais se encontram com elementos míticos na sua obra, deixando evidente sua conexão com “o outro lado”. Utilizando recurso das metáforas, sua escrita proporciona inquietação ao leitor, que se questiona o que o eu-lírico está dizendo nas suas entrelinhas.
O primeiro livro publicado do autor, “Sou Eu Lírico”, é uma coletânea de 45 poemas, abordando temas que vão desde experiências pessoais, sonhos, amor, e temas mais profundos, como racismo sistêmico e a violência no ambiente doméstico. A obra foi impressa através do Prêmio Literário José Lins do Rego, experiência transformadora na jornada do escritor. A parceria com a Editora União foi fundamental; a abordagem e suporte da empresa proporcionaram-lhe confiança e liberdade criativa ao deparar-se com a publicação do seu trabalho. Cada exemplar vendido não representava apenas uma conquista pessoal, mas também um reconhecimento que incitou em Cley a esperança e a determinação de continuar compartilhando sua voz e história através de novas produções
Sua mais recente obra, “Da Morte à Marte”, é um livro dividido em três capítulos temáticos: A Morte, Amar-te e À Marte. Quando questionado sobre a interconexão de cada módulo, Cley afirmou: “Quando comecei a escrevê-lo pensei numa estrutura macro e micro pro livro que foi se desenvolvendo. Eu queria um livro de poesia que, à medida em que o leitor vá lendo, reconhecesse essas estruturas temáticas centrais. Mas também que ele pudesse se conectar um poema com outro. Havia um certo desejo de progressão da leitura e expansão dos sentidos das histórias. Como se as histórias complementassem-se, mesmo não tendo ligações diretas.” Para o livro, primeiro nasceu o eu-lírico “Pretinho” (título de um dos poemas do primeiro livro), que representa a criança interior de Cley Tornado, após um sonho do autor com seu personagem viajando para o planeta vermelho. Cada tópico permuta entre temáticas que abordam sonhos, amor e morte.
Movido pela emoção do que quer dizer, Cley pretende deixar legado contando aquilo que sente da sua história, evidenciando suas memórias e cicatrizes no que escreve. Seus planos futuros envolvem concluir sua graduação, que foi interrompida pela pandemia do Covid-19, conquistar cada vez mais trabalhos com a escrita e publicar não só “Da Morte à Marte”, mas também outras produções literárias que está trabalhando, saindo do eixo de poesia. “Também estou trabalhando em um romance de ficção científica. E estou trabalhando na co-roteirização de um desenho animado. Por isso gosto de ser lembrado, não só como poeta marginal, mas sim como escritor”, afirma Tornado.
Poema da obra “Da Morte à Marte”
PRETINHO 2
Que felicidade, o menino nasceu!
Dentre tapas e sonhos desconfiados
Pretinho, desconfiado, choroso
Sonhos regado a prantos seu, nasceu!
Por um momento sonhou em ser
Apenas ser, não sabia o que queria
Não sabia o que seria
Mas sonhava, entre prantos, em ser
Certo dia, sonhou em ser astronauta
Pegou uma caixa, um sonho e uma cola
Amontoou tudo, antes de ir à escola
Abriu a pequenina porta de papelão
Sentou-se em seu foguete
Com as mãos cruzadas e os olhos fechados
Poderia ser o que quisesse ali
Estrelas, luzes distantes
Três, dois, um… decolar!
Através das nuvens gigantes
Avançar!
Céu não há, escuridão vazio
Bola azul e vermelha no espaço:
Marte: planeta fogo
Planeta terra: planeta mar.
Amor à marte
À marte, a morte
Ah mar!
Amor-te.
Era preciso sonhar
Hora de ir à escola
Fonte: Entrevista com Cley Tornado realizada por Débora Luz em fevereiro de 2024.