Montagem: Agitada Gang.
Texto: Altimar Pimentel.
Direção: Eliézer Rolim.
Elenco: Edilson Alves, Madalena Accioly, Dadá Venceslau.
Classificação: livre
Estreia: 1997
A peça “Como Nasce um Cabra da Peste”, com de texto de Altimar Pimentel é baseada na obra etnográfica de Mário Souto Maior.
Centrado nos preparativos e procedimentos populares para o nascimento de uma criança no sertão nordestino, o espetáculo faz uma viagem às crendices, superstições, costumes e medicinas mágicas utilizadas no interior rural do Brasil. Com bom humor e respeito à cultura nordestina, os atores encenam, em uma espécie de ritual, como mais um ser vem ao mundo árido, hostil e pobre do sertão nas mãos de uma parteira, misto de santa e médica, temida e respeitada.
A peça dirigida por Eliézer Filho conta a história de uma família nordestina que está prestes a ter o seu segundo filho, mostrando o seu cotidiano, as suas dificuldades, tendo por base que muitas dessas famílias não têm uma renda que possa mantê-los por um mês completo, necessitando que haja economia e até mesmo algumas situações que apesar de engraçadas, é o retrato daqueles que vivem nessas condições.
Helena é dona de casa, parturiente, que vive cheia de engulhos e desejos exóticos e que, para realizar seus “caprichos”, quase leva à loucura a família: o marido Joaquim e o filho mais velho, Zezinho.
A história fica ainda mais engraçada com a participação da “cumadre” Joana, uma mulher bastante exótica, que vive se intrometendo na vida do casal e nos cuidados para a chegada da criança, além da figura marcante de D. Jerusa, uma parteira cheia de crendices que ajuda a vir ao mundo o tão esperado cabra da peste.
A comicidade, entretanto, não encobre a precariedade das condições de vida desses personagens. Para que o segundo filho nasça o primeiro precisa ir embora de casa, com uma trouxinha de roupa, ainda criança, continuando a trajetória dos pais, de andarilhos do sertão, vagando de cidade em cidade, tentando sobreviver.
Por detrás da linha cômica que mantém a encenação distante da dor dos personagens interpretados por Dadá Venceslau, Edílson Alves e Madalena Acciolly, existe um sertão real, não romantizado, nem fixado na miséria, nem na cultura local. Um olhar nada carregado de estigmas que o posicionamento crítico de quem não viveu no sertão produz. A Agitada Gang, companhia responsável pela montagem, traz a imagem do sertão vista de dentro, o que proporciona um excelente exercício comparativo entre o que eles vêem e o que nos contam. Entre o que é e o que imaginamos ser.
Em 2011 o espetáculo que foi contemplado com o prêmio de Teatro Miriam Muniz da Funarte fez uma temporada comemorativa aos seus 15 anos com apresentações na Paraíba, Amapá, Piauí, Goiás e Minas Gerais.
O espetáculo que já percorreu mais de 70% dos estados brasileiros, além de passar por Portugal e países da África completou 22 anos em 2019, com o mesmo elenco desde sua estreia. “Como Nasce um Cabra da Peste” carrega 42 prêmios na bagagem, que foram conquistados em festivais e mostras nacionais de teatro.
Walmarques Júnior
Fontes:
http://www.jornaldamanhamarilia.com.br/exibe.php?id=6293