Falecimento: 01 de fevereiro de 2020
Atividade artístico-cultural: Mestre em Capoeira
Atividade exercício-profissional: Professora e enfermeira
No dia 01 de fevereiro o universo da capoeira perdeu de forma trágica na cidade de Campina Grande (PB), uma grande referência da capoeira feminina no estado da Paraíba, a capoeirista Cristiana Soares de Farias, conhecida carinhosamente como Cris Nagô, contramestra do Grupo Capoeira Nagô.
Mulher, nordestina, negra, lésbica, professora, enfermeira, teve uma vida comprometida e dedicada à educação, à arte e à cultura, através da capoeira.
Na década de 90, a capoeira era uma atividade majoritariamente ocupada por homens e a presença feminina nas rodas de capoeira era ínfima tornando-se, assim, exemplo para inúmeras outras mulheres.
Cris Nagô foi umas das notáveis capoeiristas paraibanas que participou da primeira roda feminina de capoeira, realizada no Ponto de Cem Réis, na cidade de João Pessoa (PB), juntamente com a mestra Malu Farias, a contramestra Luciana Gomes, contramestra Fabrícia Moreira, Sílvia Sousa, entre outras.
A perseverança de Cris, a sua doação, disciplina e compromisso com a arte da capoeira, em um espaço bastante preconceituoso, exigia que ela se sobressaísse, já que “naturalmente” insistem em não reconhecer o valor de uma mulher capoeirista.
Cris Nagô, venceu todas as barreiras existentes para a mulher na capoeira e com isso marcou gerações de meninas-mulheres. Ela nos faz acreditar que, apesar do preconceito de gênero, orientação sexual e classe social, a capoeira também é um espaço para nós, para nos afirmarmos como mulher e que devemos lutar para conquistá-lo, principalmente, a partir da conscientização, solidariedade e união entre nós.
Como um de seus objetivos, a contramestra Cris, sempre lutou pela presença e o protagonismo da mulher na capoeira, ao exercer o seu papel de liderança. Recentemente, deu início a institucionalização de um Movimento Estadual Feminino de Capoeira, chamado Maria de Camboatá.
Em um dos seus últimos depoimentos, horas antes do seu assassinato, afirmou que o objetivo do movimento é “unir mulheres, para mostrar os nossos valores de várias formas, mostrando vários estilos de capoeira, danças, para que a mulher tenha uma posição na capoeira paraibana realmente de valor.
A capoeirista Thais Munholi (Grupo Capoeira Brasil), afirmou que “quando morre uma mulher desta forma, morre um pouquinho de todas nós e, na capoeira, que historicamente é um espaço mais masculino do que feminino, é mais significativo ainda”.
A Contramestra Cris, deixa um legado de dedicação, cuidado, força, amor, solidariedade, compromisso e luta, principalmente, na busca pela inserção, permanência e protagonismo da mulher na capoeira. Diante disso, sabemos e sentimos a ausência, mas também teremos o compromisso e responsabilidade para com a continuidade da capoeira feminina da Paraíba.
Os seus esforços não foram e não serão em vão.
Sandra da Costa Vasconcelos
Fontes:
https://www.anf.org.br/capoeirista-paraibana-inspira-mulheres-na-luta-contra-o-feminicidio/