Pesquisa e texto: Jonas do Nascimento dos Santos
Naturalidade: São Paulo-SP // Radicado em João Pessoa – PB
Nascimento: 27 de dezembro de 1981
Atividade artístico-cultural: Artista Plástico
Formação Acadêmica: Graduação em Pedagogia pela UFPB; Mestrado em Artes Visuais pela UFPB
Facebook: Guto Oca
Instagram: @guto.oca
Augusto César dos Santos, conhecido artisticamente como Guto Oca, é um artista plástico paulista radicado na Paraíba há mais de 10 anos. Atuando também como pintor e professor de artes, foi na capital paraibana que iniciou sua carreira artística profissionalmente. Guto é graduado em Pedagogia e também mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal da Paraíba. Sendo um artista multimídia, também já trabalhou na área de arte educação na Escola de Educação Básica da UFPB, e atuou como educador no âmbito da educação especial na Associação Amigos do Autista da Paraíba.
A Paraíba tem forte influência no desabrochar artístico de Guto, pois ao se mudar para João Pessoa adquiriu uma ampliação no campo de atuação dentro da pintura, buscando temas do cotidiano, da cidade e das pessoas segundo palavras do próprio artista. Foi em João Pessoa que Guto produziu dois dos seus principais trabalhos: “Nunca serei cinza” e “Cor que não vejo”. A sua relação com a pintura em solo paraibano se deu através das relações que estabeleceu, principalmente em território urbano, assim deu início à série de pinturas.
O objetivo era justamente abordar através de pinturas de pessoas coloridas, questionamentos acerca das relações cinzentas dos grandes centros urbanos. Aproveitando de memórias e experiências voltadas para as suas vivências em São Paulo, de encontro com a sensação de cor que obteve ao morar na Paraíba. Para Guto Oca, o cinza representa as relações automatizadas, do sistema ‘trabalho – ônibus – casa’, sistema esse que o torna parte da paisagem cinzenta, onde essa era a experiência que vivenciava em São Paulo. Em João Pessoa, “escapou da engrenagem e encontrou calor humano” que tanto almejava. Conta que o “urbanizado de João Pessoa tem mais cor”.
Ele utiliza materiais encontrados nas ruas, como gavetas, placas, papelões e realiza pinturas nesses objetos ao invés das telas convencionais. Placas de eucatex, madeiras, mdf e plástico, que são encontradas descartadas nas ruas dos bairros do Castelo Branco, Miramar, Bancários e outros bairros por onde transitou, tornam-se matéria prima do artista. Nessa busca pelos materiais, ele estabelece relação com os transeuntes na rua e, inspirado neles, cria e reinventa personagens do cotidiano pessoense que “nunca serão cinza”. Não se trata de ‘devolver as cores às pessoas’, como se elas agora fossem cinzas, mas de percebê-las, resgatá-las e representá-las através das pinturas.
Guto é daltônico, por conta disso, sua relação com a cor sempre foi singular. O cinza, ele enxerga rosa e, às vezes, até mesmo verde. O artista transforma sua capacidade reduzida de enxergar cores em uma metáfora, então a utiliza como crítica social. Essa sua percepção diferenciada em relação às cores o possibilitou a outras investigações em relação à cor. Assim, passou a utilizar em seu trabalho artístico a metáfora da “cor que não vejo”, levando o conceito do “daltonismo racial” para o seu trabalho. Em seu processo artístico, ele investiga questões ligadas ao racismo através de experiências pessoais e coletivas.
Processo que passou a experimentar novos suportes, como tecidos diversos, e a utilização de cabelo, onde os transformo em dreadlocks, justamente para abordar a questão voltada para as identidades negras e conceitos de padrões de beleza impostos na sociedade que visam as alterações de tais identidades pretas em função de aceitação mercadológica, social e em outros tecidos. Durante a pandemia de Covid-19, já em quarentena, Guto intensificou sua pesquisa através da criação de trabalhos que foram desde pinturas à instalações com cabelos e outros materiais que remetem a resistência da população negra, através das suas experiências enquanto sujeito racializado.
Fontes:
https://www.ufpb.br/pinacoteca/contents/material/colecao-pinacoteca-ufpb/guto-holanda