Pesquisa e texto: Jonas do Nascimento dos Santos
Naturalidade: Monteiro-PB
Nascimento: 1939 // Falecimento: 2019
Atividade artístico-cultural: Escritora e poetisa
Nº de Publicações: 12
Formação Acadêmica: Bacharelado em Filosofia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Janice Japiassu nasceu em Monteiro, na Paraíba, em 1939. Janice, a quem Ariano se referia como Musa Sertaneja do Movimento Armorial, conjugou os predicados de poeta, artista plástica e compositora. Integrante da Geração 65, grupo de poetas escritores com grande influência no campo literário local e nacional, teve 12 livros publicados. Com predileção pela métrica nordestina tradicional, do cordel ao soneto, destacou-se pela utilização criativa e flexível do ritmo, da rima e das paisagens recifenses, que, assumidamente, serviram-lhe de inspiração e cenário infalíveis. Para entender Janice e a profundidade de sua obra, é necessário remeter às suas origens, seu pai era um vendedor de joias viajante, trazia-lhe vários exemplares. Assim, desde muito cedo, Janice pôde dedicar-se a ler e conhecer um pouco de tudo. Dos clássicos à literatura de cordel, nada escapava aos seus olhos de leitora ávida.
Quando veio para o Recife estudar filosofia, trouxe consigo esse vasto repertório de sonhos literários e um coração de poeta incipiente. Na UFPE, encontrou-se pela primeira vez com Ariano Suassuna, que era então professor da cadeira de estética, e dele se tornou próximo. Mercê dos seus incentivos, conseguiu publicar seu primeiro livro: Canto Amargo. Ariano ficou tão encantado que chegou a dizer, “meio de brincadeira, meio falando sério”, que Janice arruinara sua vida como poeta, porquanto dizia em seus versos exatamente tudo o que ele pretendia dizer. A partir dessa elogiosa estreia, Janice começou a integrar a linha de frente da poesia armorial. Com a amiga Deborah Brennand, passou a ser enaltecida pelos líderes do movimento, que só ganharia corpo, de fato, nos anos 1970. Ao longo da vida, Janice percorreu várias fases poéticas. Ela mesma sempre dizia que a beleza dos rios e pontes do Recife transformou sua forma de fazer poesia. Se nos primeiros livros preponderavam temas lúgubres e tristes, seus versos foram ficando mais luminosos no decorrer da caminhada.
O carnaval e as praias do Recife e Olinda, por exemplo, passaram a dar um toque de leveza ao seu texto. Além disso, o soneto e outros ritmos tradicionais do sertão, como o galope, foram sendo tomadas pelas redondilhas e ao verso de fácil assobio. Era a poeta fundindo poesia e música. Versos e acordes se mesclavam em seus poemas. Sempre avessa aos ritos sociais, Janice chegou a recusar o convite para integrar a Academia Pernambucana de Letras. “Vou fazer o que lá? Eu quero é fazer poesia, cantar e dançar”, dizia. “Dá muito trabalho”, brincava. Não se furtava, entretanto, a levar seus versos e livros aos cantos mais populares do estado. Era figurinha fácil na Rua do Bom Jesus. Lá, vendia seus poemas, desenhos, pinturas e mandalas. Incansável na criatividade, vendia até um tarô com poemas e desenhos laboriosamente criados para cada carta.
Janice também não se recusava a ir onde os jovens estavam. Ao lado dos estudantes, ela sentia-se em casa. Discorria sobre arte e poesia com a alegria de uma menina. Durante a XXI Semana de Estudos Linguísticos e Literários da Unicap, realizada em maio de 2018, numa de suas últimas aparições em público, Janice, com um largo sorriso, sentenciou: “vamos lutar pela poesia e pela arte até o fim”. Os estudantes presentes, emocionados, aplaudiram-na de pé. Ao final do evento, recitou o “Soneto ao Amor”, cujos versos, no entender de Ariano Suassuna, eram os mais belos versos já escritos por alguém em língua portuguesa. A Universidade Católica de Pernambuco teve a honra de sediar, em maio de 2018, um evento em sua homenagem. A XXI Semana de Estudos Linguísticos e Literários da Unicap foi dedicada à obra da artista. Houve uma mesa na qual alunos e professores, juntamente com a própria Janice, discutiram seus textos, sua história e a importância de fortalecer os valores da cultura local.
Janice veio a falecer em 2019, aos 79 anos de idade, no dia 12 de março de 2022, a Prefeitura do Recife inaugurou uma estátua em homenagem a Janice a terceira mulher a compor o Circuito da Poesia, que celebra as vozes femininas que contam a história da literatura feita na capital pernambucana, sendo a 19ª estátua do circuito.
Fontes:
https://circuitodapoesia.recife.pe.gov.br/janice-japiassu/
https://www1.unicap.br/assecom1/janice-japiassu-a-musa-sertaneja-do-movimento-armorial/