Naturalidade: Recife – PE / Radicado na Paraíba
Nascimento: 8 de abril de 1937
Atividades artístico-culturais: Escritor, poeta, ator, diretor, cineasta, crítico de cinema e de música
Formação Profissional: Filosofia pela Universidade do Recife (UFPE).
Livros publicados: Contradições do homem brasileiro (1964); Do Modernismo à Bossa Nova (1966), Vanguarda e Retaguarda da Cultura Brasileira; Bordel Brasilírico Bordel: Antropologia Ficcional de Nós Mesmos; Terceira Aquarela do Brasil; Atentados Poéticos; Contradições do Homem Brasileiro; Encontros – Jomard Muniz de Britto; Outros Orfeus; dentre outras parcerias.
Jomard Muniz de Britto é filho da pernambucana Maria Celeste Amorim Silva com o paraibano José Muniz de Britto. Ele nasceu na Rua Imperial, Bairro de São José, em 1937. O artista declara “Eu Sou híbrido de nascença, mas errante por opção antiprovincial. Mas foi o escritor José Rafael de Menezes que me levou a ser professor titular da UFPB”. (Em entrevista ao Jornal do Commércio).
O artista foi professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e é cidadão pessoense e natalense. E Ocupou vários cargos públicos na área cultural, entre os quais diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco e diretor da Fundação de Cultura da Cidade do Recife (PE). Integrou a equipe inicial do Sistema Paulo Freire de Educação de Adultos, mas foi aposentado pelo regime de 1964.
Cineclubista e intelectual engajado, Irônico paladino das vanguardas, “o famigerado JMB ou o ETC do amor cortês” (como se auto-intitula) é autor de dez livros, algumas peças de teatro e mais de 30 filmes e vídeos.
Foi na mais poética Rua do Recife, em março de 1964, que Jomard Muniz lançou, Contradições do homem brasileiro (Editora Tempo Brasileiro), seu primeiro livro. Na época, ele integrava a equipe do professor Paulo Freire, onde lecionava sobre “Dinâmica de Cultura”. “Fiz esse ensaio entre 1962 e 1963 e foi Paulo Freire quem leu, pela primeira vez, os originais do que veio a se tornar o livro, no Hotel Nacional, em Brasília, quando estávamos trabalhando”. Para o lançamento da publicação, Jomard recorreu, como de costume, a algo longe do convencional. “Eu não quis lançar esse livro numa livraria ou num lugar fechado. Quis que fosse, realmente, na Rua da Aurora”.
O livro “Contradições do homem brasileiro” chegou a ser retirado intempestivamente das prateleiras por um batalhão militar, em 1964. Com uma história intensa, o livro faz referências ao poeta João Cabral de Melo Neto, que, não por acaso, tem uma estátua sua na Rua da Aurora, Recife. Com o AI-5, foi aposentado das universidades de Pernambuco e da Paraíba (por esta, foi ainda acusado de “manipular mentes juvenis”). Certa vez, uma palestra sobre o amor condenou-o a um inquérito policial. Confinado na mesma cela de Gregório Bezerra, Jomard tentou ensinar-lhe francês.
Durante seu afastamento, lecionou na Escola Superior de Relações Públicas do Recife, entidade privada, e coordenou treinamentos sobre comunicação e criatividade em corporações públicas e privadas.
Em 1966, Glauber escreveu o prefácio do livro “Do Modernismo à Bossa-Nova”, de Jomard Muniz de Britto. Nele, o cineasta conta que os dois tornaram-se amigos através da paixão comum pelo cinema e que, ao longo da amizade, Jomard foi revelando-se palmo a palmo, mostrando que “o crítico de cinema era professor de filosofia, o teórico de poesia era entendido de teatro, o esteta rigoroso era jornalista, o jornalista era professor e o professor, sambista, outra vez no teatro!”.
O escritor e Glauber Rocha trocavam longas correspondências; em uma delas, Glauber sugeriu que Jomard fizesse um filme sobre Lampião e que representasse, ele mesmo, o papel do Cangaceiro. Quando questionado sobre a razão do filme nunca ter saído, Jomard diz que “ninguém seguia, ao pé da letra, os delírios mínimos de Glauber”.
Com a anistia em 1984, Jomard Britto recuperou seu posto universitário. Representante das movimentações tropicalistas no Nordeste, redigiu manifestos do movimento: “Porque somos e não somos tropicalistas” (com Aristides Guimarães e Celso Marconi; “Jornal do Commércio”, abril de 1968) e “Inventário do nosso feudalismo cultural”, que teve entre seus signatários (além daquele primeiro trio e outros nomes), Caetano Veloso e Gilberto Gil.
O autor é cultor da incontinente arte da conversa, fala expandida. Nos tais “atentados poéticos” (originais poemas em glosa), distribuídos por e-mail ou em panfletagem mão-a-mão, Jomard alia erudição e alusão a irreverência e provocação, criticando o panorama provinciano das mentalidades acomodadas em preconceitos e atrasos. A dura busca da equação entre invenção e intervenção.
O CD “Pop filosofia”, nas entrelinhas dos filmes em super-8 das décadas de 1970/1980, representou um trabalho de criação coletiva através de textos que prenunciavam os “atentados poéticos”. Aglutinando os compositores, intérpretes, instrumentistas numa produção amadorística de apenas dois mil exemplares. O que fazer?
O atentado de Jomard é visual, auditivo e como mais ele conseguir expressar. Em tempos em que a vida e a função do CD estão em questão, ele fez o que é mais recomendado para compreender essa história. Gravou um, junto com a Banda Comuna, e disponibilizou inteiro na Internet. Seguiu com a história. Abriu uma conta no MySpace e no Youtube. Uma metáfora perfeita para avisar que Jomard Muniz de Britto abriu as portas de sua produção, para todos aqueles que estejam interessados em também descobri-lo.
Para Rubens Machado Jr. pesquisador e professor de cinema na USP “Jomard sintetiza em sua própria figura este trajeto moderno e um tanto impossível, arlequinal, que nos leva de Paulo Freire a Zé Simão, passando por Sartre, Glauber e o tropicalismo”.
“Jomard esbanja exuberância intelectual e entusiasmo. Como um dândi elegante e galante a flanar sobre a sordidez e o imprevisto, circula pelas ruas do Recife onde é “popular” entre artistas, estudantes e figuras noturnas do lúmpen. Mito carismático, demasiado humano, afeito a contrafacções e contradicções, e aberto à disposição gozosa pelas coisas da vida.” Diz Rubens Machado.
Do fundo escuro do coração solar do hemisfério sul, no Nordeste da ilha Brasil, Jomard Muniz de Britto continua fazendo um bem enorme à nossa cultura, desafinando o coro dos contentes, agredindo com inteligência o mundo pacato do cidadão de bem e, de certa forma, trabalhando para ajudar os que “estão no mundo e perderam a viagem”. Multimídia, multifacetado, multicultural, multisexual, de volta à jaula dos rótulos, Jomard é tantos como esse Brasil de todos os santos, protegido pelas rugas e cabelos brancos, continua no exercício orgulhoso da mar-gi-na-li-da-de.
“Sobrevivemos pelo desencantamento do mundo e reencantamento das linguagens”. Assim diz o poeta franco-atirador, filósofo pop, cineasta super-oitista, agitador cultural, artista de colagens e bricolagens, performer almost full time. Assim, múltiplo e plural, pode se dizer de Jomard Muniz de Britto. (Revista Trópicos – Lições do Inconformismo, Carlos Adriano, Recife, 1937).
O representante da tropicália nordestina, Jomard Muniz utiliza uma expressão saborosa (termo usado por ele), de José Miguel Wisnik, podemos confirmar que a poesia continua sendo sem padecer nem orgulhar-se uma “pérola para poucos”.
Laboratório de Sensibilidade
Entre o fruto e o dente
qual o lugar do inconsciente?
Mais vale uma banana no inciso
que duas maçãs no paraíso.
Entre o prazer e o dever
como o libido satisfazer?
Mais vale uma fruta na mão
que três desejos em não.
Entre memória e esquecimento
qual o mais gozar do sofrimento?
Entre razão e com-paixão
existe o devir-povo-da-nação.
Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/pernambuco/jomard_muniz_dbritto.html
http://www.correioims.com.br/perfil/jomard-muniz-de-britto/
http://www.revistatropico.com.br/tropico/html/textos/2604,1.shl
http://revistaogrito.ne10.uol.com.br/page/blog/2008/09/16/jomard-muniz-de-britto/
http://www.overmundo.com.br/overblog/os-atentados-de-jomard-muniz-de-brito
Uma resposta
Genial mestre da Comunicação, professor brilhante em estímulos visuais formidáveis para seus alunos e de uma criatividade inesgotável. Fui sua aluna e admiradora até hoje e tudo que aprendi em comunicação eu devo ao Prof. Jomard e que também me ensinou a amar o colorido das suas camisas modernissimas para 1971 em Recife.