Naturalidade: Sapé – PB
Nascimento: 27 de julho de 1927 // Falecimento: 24 de agosto de 2021
Atividades artístico-culturais: Cordelista, poeta, xilógrafo, autor, editor e ilustrador do Almanaque Popular Paraibano.
Principais Obras: A Carta misteriosa do Padre Cícero Romão Batista, O dicionário do amor, Os dez mandamentos, O Pai Nosso, Eduardo e Alzira, discussão de José Costa com Manuel Vicente, O rapaz que virou bode, ABC do beijo, Flora brasileira, Flora medicinal, Passeio a São Saruê; Verdadeira riqueza, o Credo dos cachaceiros, entre outras publicações.
José Costa Leite nasceu em 27 de julho de 1927, em Sapé, Paraíba. De origem muito simples, começou a trabalhar nos canaviais ainda criança, sem frequentar a escola, aprendeu a ler soletrando folhetos de cordel, nas plantações de cana-de-açúcar e fez seus primeiros versos. Foi agricultor, pescador, vendedor ambulante e de jogo do bicho, antes de improvisar-se poeta, editor e xilógrafo, vendendo seus folhetos nas feiras do Nordeste. É Considerado um dos nomes mais conhecidos da literatura de cordel do Nordeste brasileiro.
Em 1938, mudou-se com sua família fixando residência em Condado, município da Zona da Mata de Pernambuco, cidade onde mora até hoje. Em 1947, começa a vender folhetos nas feiras do interior e, em 1949, publica seus primeiros títulos: Eduardo e Alzira e Discussão de José Costa com Manuel Vicente. Logo em seguida, improvisa-se xilógrafo, gravando na madeira a imagem que ilustra seu terceiro título, O rapaz que virou bode. É um dos mais importantes e conceituados xilógrafos ou gravuristas do Brasil, dono de uma técnica apurada e de estilo muito pessoal.
Utilizando a sua quicé ou caxirenguengue (uma faca velha, imprestável e/ou sem cabo) na madeira do cajá – árvore da família das Anacardiáceas (Spondias lútea L), de textura mole, fácil de ser trabalhada e abundante na região nordestina – cria inúmeras xilogravuras, que ilustram as capas dos seus folhetos.Torna-se, assim, um profissional polivalente, exercendo todas as atividades ligadas à literatura popular: é poeta, editor, ilustrador e continua a vender folhetos, de feira em feira.
Obras de arte
Suas xilogravuras ilustram inúmeros folhetos – seus e de outros poetas – e ganharam status de obra de arte a partir dos anos 1960, quando passam a ser publicadas em álbuns e expostas em museus, no Brasil e no exterior.
O antigo Instituto do Açúcar e do Álcool publicou, em 1972, um álbum com 21 xilogravuras de sua autoria, coletadas pelo folclorista Evandro Rabello, alusivas aos mais variados meios de transporte usados na zona canavieira do Nordeste, no passado e no presente: o carro de boi, a charrete, o caminhão, o trem, o cabriolé (espécie de carruagem) que antigamente conduzia a família do senhor de engenho, a rede, o cavalo, o trator.
Autor de clássicos
José Costa Leite começou a escrever poesia popular aos 20 anos, possuindo atualmente mais de 500 folhetos. Sua arte, além de ter sido exposta em diversos estados brasileiros, é também conhecida internacionalmente, através de exposições realizadas em Nova Iorque, nos Estados Unidos e em Santiago, no Chile.
Verseja sobre praticamente todos os temas do cordel, sendo o autor de clássicos como A Carta misteriosa do Padre Cícero Romão Batista, O dicionário do amor e Os dez mandamentos, o Pai Nosso e o Credo dos cachaceiros.
Além das histórias em verso, publica anualmente o Calendário Brasileiro, almanaque astrológico de 16 páginas contendo diversos conselhos práticos, de grande sucesso junto ao público.
Denomina sua folhetaria A Voz da Poesia Nordestina. Em 1976, recebeu o Prêmio Leandro Gomes de Barros, da Universidade Regional do Nordeste (Campina Grande), pelo conjunto de sua obra, talvez a mais extensa da literatura de cordel brasileira, em número de títulos.
Em 2005, José Costa Leite foi convidado especial de uma exposição realizada no Musée du Dessin et de l’Estampe Originale de Gravelines (França), onde também deu ateliês de xilogravura.
Ao completar 80 anos, em 2007, foi homenageado na Paraíba, juntamente com o escritor Ariano Suassuna, e recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, reconhecimento máximo de um artista de múltiplos talentos, que fez da poesia e da beleza a matéria-prima de seu labor.
A Biblioteca Central Blanche Knopf, da Fundação Joaquim Nabuco, possui no seu acervo uma grande coleção de folhetos de sua autoria.
A seguir uma relação alfabética de alguns de seus folhetos de cordel:
. ABC do cachaceiro
. Bandeira sempre ao alto, presença de Pernambuco
. Beijo de mulher bonita e carinho de mulher feia
. A Boa vida do rico e a triste vida do pobre
. O Boi do pé da cajarana
. O Boiadeiro do sertão e a filha do fazendeiro
. A briga de A. Silvino com Lampião no inferno
. A carta misteriosa do Padre Cícero Romão
. O casamento de Camões com a filha do rei
. O conselho da mocidade
. Os dez Mandamentos, o Pai Nosso e o credo dos cachaceiros
. O Diabo e o camponês
. O dicionário do amor
. Discussão de um fiscal com um matuto
. Discussão de Rodolfo Cavalcante com José Costa Leite
. O encontro de Lampião com a negra dum peito só
. A filha que matou o pai por causa de uma pitomba
. O Frei Damião sonhou com o Padre Cícero Romão
. A herança da minha avó (ou o cavalo para gatão)
. História de três amigos ou o poder do dinheiro
. O homem que enricou porque plantava algodão
. Homem que foi se enforcar – com medo da carestia
. Jorge e Luizinha
. Josimar e Anita ou o galo de ouro
. Lampião fazendo o diabo chocar um ovo
. O lubisomem da Paraíba
. O matador de onças
. A mensagem de Jesus ou o Sermão da Montanha
. A moça que “pisou” Santo Antônio no pilão prá casar com o boiadeiro
. A moça que virou porca em Rio Tinto
. Mulher bonita e cheirosa deixa o homem arrepiado
. Mulher é como café quanto mais quente melhor
. A mulher que engoliu um par de tamancos com ciúme do marido
. A mulher que quebrou as “gaias” do marido com uma mão de pilão
. Não há quem saiba entender o coração da mulher
. Nascimento,vida e morte de Antonio Silvino
. Um passeio a São Saruê
. Peleja de Geraldo Mousinho com Cachimbinho
. Peleja de José Costa com Ana Rôxinha
. Peleja de José Costa com José Jeronimo
. Peleja de José Costa com a Sabiá do Sertão
. Peleja de José Costa Leite com Maria Quixabeira
. Um pequeno agricultor que se tornou fazendeiro
. O pobre homem caipora e o Doutor Sabe-Tudo
. A pobreza morrendo de fome, no golpe da carestia
. Os quatro conselhos do fazendeiro Adriano
. Quem gosta da corrução só quer morar em Campina
. O rapaz que beijou o pai da moça enganado
. O rapaz que virou bode porque profanou de Frei Damião
. A santificação, a oração e a profecia do Padre Cícero Romão
. Satanás na gafieira
. O satanaz reclamando a corrução de hoje em dia
. Sertão, folclore e cordel: a boiada sertaneja
. Os sinais do fim do mundo e as três pedras de carvão
. As travessuras de Pedro Malazarte
. Vassourinhas e sua tradição
. A véia debaixo da cama e a perna cabeluda
. A verdadeira riqueza
. A vida de João Malazarte
. A vida de Lampião e Maria Bonita
. A Voz de Frei Damião
O acervo pessoal de José Costa Leite é constituído por 645 matrizes de xilogravura que serviram para ilustrar folhetos de cordel, livros, álbuns e estampas independentes. São blocos de madeira de diferentes dimensões, onde está gravado o extenso e diversificado repertório do poeta e xilógrafo que construiu, ao longo de mais de sete décadas de trabalho, uma das obras mais extensas e importantes da Literatura de Cordel.
Aos 93 anos, o poeta, editor e xilógrafo de cordel José Costa Leite ainda esbanjava vitalidade. Com 73 anos de atividades, mais de mil cordéis publicados e um acervo pessoal de quase 650 matrizes de xilogravura, além de inúmeras outras espalhadas pelo Brasil e o mundo, que fazem dele um dos mais importantes artistas vivos do Nordeste.
“Isso dá um trabalho tão grande”, conta ele que, mesmo com toda experiência, leva dias para terminar gravuras de grandes dimensões. E vai talhando a madeira com a mão hábil, fixando as alegrias, adversidades e desejos de sua gente, do Nordeste, do Brasil. O traço é sempre leve, a composição é sempre harmônica, mesmo quando a vida não é.
A sua obra contém inúmeras referências à cultura nordestina e brasileira: personagens (Saci, Curupira, Comadre Fulôzinha, Jeca-Tatu, entre tantos outros), cenários (o sertão onipresente, mas também o litoral nordestino e suas praias), autos e festas (Bumba-meu-Boi, Cururu, Maracatu, forró) e mais uma infinidade de temas.
Encontramos também imagens que ilustraram inúmeros folhetos de cordel de José Costa Leite, com diferentes histórias, muitas vezes cômicas, como “O rapaz que enjeitou a noiva no dia do casamento” ou “Dicionário dos cornos”.
O cordelista paraibano José Costa Leite, aos 94 anos, morreu em Condado, na Zona da Mata de Pernambuco, na manhã de 24 de agosto de 2021.
Por Israela Ramos
Fonte: https://benfeitoria.com/josecostaleite
http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/JoseCostaLeite/joseCostaLeite_biografia.html#
As informações sobre José Costa Leite constam em entrevistas dadas a Everardo Ramos nos anos de 2000, 2005 e 2008.