Entrevista e texto: Laura Moura
Naturalidade: João Pessoa – PB
Nascimento: 15 de outubro de 1990
Formação Acadêmica: Arte e Mídia – UFCG
Atividades artístico-culturais: ator e cantor
Instagram: @lucastruta
Natural de João Pessoa, Lucas Truta Fio é cantor e ator. Pessoense com o coração em Campina Grande, o músico vai se descobrindo no meio artístico através da influência de sua família e amigos. Desde a infância inserido na cena cultural campinense, ele cresce e se forma em Arte e Mídia, entretanto sua alma ainda cultivava a paixão pela música, se apresentando vez ou outra pelos palcos campinenses.
Sempre envolvido em todos os eventos artísticos, escolares e também extra escolares, ele participava de peças no colégio, corais, entre outras atividades que o fizeram crescer e aprender cada vez mais sobre esse universo. Truta também tinha uma relação muito forte com a música, devido a influência de sua família repleta de violeiros e cantores casuais. Apesar dessas paixões e inspirações, seus parentes não queriam que ele trabalhasse com arte, justamente por saberem a dificuldade dessa área. Entretanto, esse já não era apenas o início de um sonho para o pequeno Lucas, era parte da sua essência.
“Meus avós paternos e meu pai tocam violão muito bem, cantam bem e tal, sempre foi muito musical, havia muito bolero e meu tio até hoje trabalha com arte, ele é produtor musical, produtor cultural, é DJ, guitarrista, um ótimo guitarrista e quando eu era criança eu lembro de passar tempos ouvindo ele ensaiar […] eu cantava junto com eles mais então o meu lado artista foi muito estimulado desde pequeno, apesar de não ser profissionalmente falando, né?”, comenta o cantor.
Com o tempo suas apresentações diminuíram, mas o encantamento das pessoas permanecia o mesmo toda vez que ele subia aos palcos. Foi somente em 2013, quando já estava na universidade, com um concurso de talentos voltado para o canto (realizado pela TV Itararé, emissora afiliada a TV Cultura), que decidiu soltar a voz e colocar todo o seu potencial para fora. Após alcançar o terceiro lugar, ele percebeu que este poderia ser seu futuro. Logo o artista começou a fazer algumas performances pela cidade e se tornou o vocalista da banda “Universo de Bolsa”, na qual eles faziam festivais de inverno.
Enquanto estava na faculdade, ele aproveitou para estudar algumas disciplinas voltadas para o teatro e a interpretação. Foi um período proveitoso para o artista enquanto concluía o curso. Formado, ele decidiu tentar viver de sua arte e se aventurar em São Paulo, local em que pretendia aprender mais e desenvolver experiências na área. A partir de então, começou a publicar suas músicas e fazer diversos shows.
Seu primeiro lançamento foi o single ‘Água Doce’, em 2019, uma obra repleta de ritmo e animação, com letras envolventes e encantadoras. Logo em seguida, nasceu ‘Tanta (2019)’, com um estilo mais reflexivo e apaixonante, e ‘Abrigo (2019)’, mais melancólico e profundo que os anteriores. Por fim, em 2020, ele publicou seu single mais recente e animado. Uma de suas canções ainda foi premiada como uma das melhores de 2019 pelo MECA.
Quanto a sua experiência no teatro, durante a pandemia, Kleber Montanheiro, diretor de teatro de São Paulo, convidou o artista a participar do projeto de comemoração dos 25 anos da ‘Cia da Revista’, uma companhia de teatro de São Paulo, com um projeto que era Conexão São Paulo – Pernambuco. O intuito do projeto era apresentar algumas obras do universo pernambucano por lá. E Truta foi convidado para participar do processo da peça de teatro musical ‘Tatuagem’.
Tatuagem (2013) é uma adaptação do filme de Wilton Lacerda de mesmo nome. Já conhecido por Truta e familiarizado com a trilha sonora da discografia das baías e a cozinha mineira, ele aceitou o convite sem pestanejar. A encenação foi um sucesso, com diversos prêmios como o Bibi Ferreira além de uma indicação ao prêmio Shell, o mais prestigiado do teatro brasileiro.
“Acredito que esse tenha sido o trabalho, o projeto mais relevante dentro da área do teatro que eu tenha participado. Foi o meu projeto de estreia, né? E foi muita sorte porque de cara eu encontrei doze outros atores bem mais experientes do que eu, mas uma turma maravilhosa muito acolhedora que todo mundo se amou e a gente viveu como uma família durante 2022 inteiro”, explica Truta.
Foi a partir desse momento que Truta mergulhou no universo do teatro. A repetição, maturação e todo o processo vivido durante a peça, apesar de difícil – explica, proporcionou uma experiência única na sua vida artística. Assim, seu coração passou a transitar entre as suas artes: música e teatro. “Então sem dúvida foi algo que me fez apaixonar e querer mais fazer esse negócio, né? De fazer teatro”, comenta.
Na música, ele explica, que sempre foi algo mais orgânico e mais espontâneo, devido a influência de sua família. Para ele, seu estilo musical é “como um pop alternativo regional”, pois traz três elementos melódicos e harmônicos que são próprios do nordeste, próprios da nossa música. Ele complementa dizendo que, como filho dos anos 90, viveu o ápice da globalização, ao mesmo tempo que escutava Elba Ramalho, Caetano, entre outros, ouvia também Christina Aguilera. Para ele era inevitável trazer essa diversidade em suas composições, pois era um reflexo de sua essência, vivências e histórias, sua autenticidade.
“Não é que eu estou fazendo música nordestina. Não é que eu estou chegando em São Paulo para representar o meu estado. Eu estou nem representando. É por ser quem eu sou. Eu sou paraibano, sou nordeste de Minas, sou L, sou tudo isso, sabe? E trago isso em cada coisa que eu faça, artisticamente falando. E principalmente por causa disso também encontra dificuldades, né?”, fala o ator.
Truta ainda comenta sobre as dificuldades dessas barreiras no Nordeste, mais especificamente sobre o “preconceito” com novos estilos musicais que fogem da tradição. Para ele, muitas vezes não há abertura para esses novos artistas, que acabam se refugiando em outras localidades.
“É difícil as pessoas lá (Nordeste) quererem ouvir você fazendo algo diferente do esperado, né? Que é uma música mais tradicional nordestina, que tem uma sanfona ali no meio, tem um espaço que já é reservado para eles e que não dá pra dividir ou que não é fácil de dividir. Da mesma forma que voltar pra cá depois de muito tempo também é complicado, pois as pessoas acham que você já não tem o hype que deveria ter, porque você já não é tão paraibano quanto já foi ou porque você não representa mais. Eu num tô aqui pra representar ninguém, né? Acho que fala por mim. Tô aqui pra me representar e encontrar talvez luzes parecidas com as minhas por onde eu passo”, ele explica.
Além disso, ele comenta das dificuldades do processo de trabalhar com música, principalmente em um projeto solo. A questão financeira é complicada, mas ele segue firme com suas produções e projetos futuros para serem lançados em breve. Truta continua acreditando na arte e se esforçando ao máximo para marcar as pessoas por onde passa.
“Tem que ter amor em primeiro lugar. Tem que ter amor pelo que faz, tem que aprender que não é porque você não é reconhecido, que você não é bom. Tem que aprender que, se você espera viver de arte, você precisa ser muito mais estratégico do que qualquer outra coisa porque não é só sobre você ser bom ou sobre você amar o que faz, mas é sobre convencer as pessoas certas que você é bom […] É difícil porque o mundo faz você querer matar tudo que há de bom, né? Dentro de você e com relação aos outros. Mas só através desse acolhimento, desse respeito, desse amor pelo próximo e pelo que você faz, que as coisas podem ser possíveis, né? E que o sucesso nacional, não é a prova do seu talento. Então é isso, muito amor, muita resistência, muita estratégia e muito respeito pelo trabalho dos outros”, finaliza Truta.
Fonte:
Entrevista cedida à Laura Moura em 12/12/2023.