O maior conteúdo digital de cultura regional do Brasil
Registro das artes e culturas da Paraíba
O maior conteúdo digital de cultura regional do país
Registro das artes e culturas da Paraíba
Data de publicação do verbete: 03/01/2017

Lúcio Lins

Poeta, escritor e compositor. Integrou o movimento de vanguarda paraibano Jaguaribe Carne, foi um dos criadores da Revista Ler e dono do Bar Travessia. Ficou conhecido como o Poeta do Mar.
Data de publicação: janeiro 3, 2017

Naturalidade: João Pessoa – PB

Nascimento: 20 de fevereiro de 1948 / Falecimento: 16 de abril de 2005

Atividades artístico-culturais: Poeta, escritor e compositor

Formação: Ciências Jurídicas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Publicações: Lado Que Cavo / Que Covas (1982); As Lãs da Insônia (1991); Perdidos Astrolábios (1999); Histórias Flutuantes (2000).

Lúcio Sérgio Ferreira Lins ou, simplesmente, Lúcio Lins foi um poeta cujas características mais marcantes de suas obras eram a criatividade e o apurado senso de humor. Era bacharel em Direito pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), instituição da qual também foi funcionário.

O poeta foi o segundo filho de José Correia Lins e Beatriz Ferreira Lins. Teve mais cinco irmãos, Marcus Vinicius, a também escritora Valquíria Lins, Valéria, Ângela e Vânia. Viveu a infância no Sítio Acais, do município de Alhandra. Desde criança era brincalhão e bem humorado.

Em 1975, iniciou sua vida como escritor publicando poemas em suplementos literários como o paraibano Correio das Artes, do jornal A União, e o mineiro Suplemento de Minas. Suas atividades fotográficas também serviam de inspiração para os seus versos.

Ainda nos anos de 1970, integrou o movimento de vanguarda artístico cultural paraibano chamado de Jaguaribe Carne, ao lado de Pedro Osmar, Paulo Ró, Águia Mendes e outros. Na década de 1980, abriu o Bar Travessia, que se tornou ponto de encontro para artistas e professores universitários.

Na música, teve parcerias gravadas com Adeildo Vieira, Eleonora Falcone, Byaya, Zé Wagner, Mestre Fubá, Xisto Medeiros, Salvador Alcântara, Chico Viola, Paulo Ró, Pedro Osmar, Kennedy Costa, Erivan Araújo e Chico César.

Em 1982, Lúcio Lins venceu o II Festival Norte-Nordeste da Música Popular Brasileira, em parceria com Byaya, ganhando o prêmio de Melhor Letra com a música “Voo Livre”.

No ano de 1984, o paraibano participou do Movimento dos Escritores Independentes (MEI), concebido por Pedro Osmar, Totonho, Josildo Dias, Maria Augusta, Chico César e outros expoentes da prosa e da poesia.

Lúcio Lins ajudou a criar, em João Pessoa, a Revista Ler, em 1990, juntamente com os escritores Wellington Pereira, Hildelberto Barbosa e Edônio Alves. Seus rabiscos de mesa de bar serviram de capa para a revista, na edição de número 10.

Em 1982, publicou o seu primeiro livro, “Lado Que Cavo/Que Covas”. Quase dez anos depois, ressurgiu em nova edição, com “As Lãs da Insônia”, de 1991. Em seguida, lançou “Perdidos Astrolábios”, em 1999 e, “Histórias Flutuantes”, de 2000.

Lúcio Lins era um poeta conectado com as coisas de João Pessoa. Recitava, em tom de poesia, tudo que via e sentia na cidade. A Praça da Paz, nos Bancários, o Ponto de Cem Réis e a pracinha do CCHLA da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) eram paradas constantes do escritor.

Segundo o poeta Sérgio de Castro Pinto, “mais racional do que instintivo, Lúcio Lins trabalhava o poema com acuidade, deixando-o meio lúdico, envolvendo-o numa atmosfera que mais sugere do que diz, como é o caso de Lado que cavas/que covas”, ressaltou.

Para Hildeberto Barbosa Filho, crítico literário, escritor, poeta e jornalista que prefaciou o livro “Todas as Águas”, a simplicidade da linguagem era outra característica de Lúcio Lins. “As palavras do poeta são as palavras de todos, fazem parte do universo da coloquialidade, transitam facilmente pelas ruas e avenidas da fala de qualquer um e, sobretudo, articulam-se, organizam-se, arrumam-se, acariciam-se, atritam-se, interpenetram-se, sem que violem o princípio fundante da funcionalidade poética”, explicou.

Por tantas referências a uma mesma temática, a das águas, Lúcio Lins se tornou conhecido popularmente como o “Poeta do Mar”. É possível identificar essa relação em dois momentos do livro “Perdidos Astrolábios”, onde se encontram dez náufragos e, no monólogo para a prostituta Maria das Águas.

Para o poeta paraibano Antônio Mariano, o escritor tinha fixação pelo tema marítimo. “Creio que era o projeto literário dele, um diálogo com o outro lado, o atlântico com o pacífico, Brasil-Portugal, Camões, Pessoa. Lúcio era um poeta-nauta no melhor sentido da palavra, sabia combinar perfeitamente o conteúdo dos poemas com o campo semântico da seleção vocabular. Lúcio falava de Portugal com a intimidade de um patrício. Estrelas são guias dos antigos viajantes e Lúcio resgata essa visão”, observou.

Lúcio Lins faleceu no dia 16 de abril de 2005, aos 56 anos de idade, em decorrência de um câncer. Entre as cerimônias de despedidas ao escritor, jornalistas, intelectuais e formadores de opinião se encontraram numa vigília que teve como resultado análises e concepções a respeito de sua obra.

Pouco antes da sua morte foi inaugurada, em 25 de fevereiro do mesmo ano, a Casa de Cultura Lúcio Lins. A Prefeitura Municipal de João Pessoa também o homenageou dando o nome do poeta ao anfiteatro da Praça da Paz, onde ainda há uma escultura em metal do paraibano.

Lúcio Lins é, em larga escala, o poeta paraibano contemporâneo mais lembrado em sua terra natal. Ainda em 2003, um grupo de artistas do estado criou o projeto e troféu Solidarizarte, que tinha como objetivo homenagear em vida e anualmente uma personalidade das artes da Paraíba. São mais de 200 mil endereços eletrônicos que fazem referência ao escritor. Depoimentos pela internet circulam até hoje para perpetuar e popularizar o seu legado artístico.

Maria das Águas

eu sou

Maria das Águas

nome e fado

que a mim

me foram dados

pelo movimento

dos barcos

eu sou

Maria das Águas

desde Maria menina

quando só Maria

e ainda

pelo mangue

sob os céus

brincava

de transportar nuvens

em barcos de papel

dos meus nada sei

salvo o talvez

tenham ido

nos barcos de antes

e tenho

uma vaga

na lembrança

que ainda de laços

sargaços e tranças

já tentava esse mar

sem ser de mais dadas

a cada maré que vinha

Maria eu ia

tomando corpo

e o cais tomando gosto

pelos prazeres Maria

que ao porto fui servindo

antes do vinho

da primeira sangria

e foram tantos

quantos os barcos

que a mim me chegaram

com suas almas

nos mastros hasteadas

e foram tantos

quantos os barcos

que em mim me deixaram

sem velas

e com enjôo dos mares

me chegavam

com suas falas diferentes

com seus falos urgentes

e me vestiam a rigor

para suas fantasias

eu me despia

eu me vestia

eu me trocava

(enquanto suas mãos

em meu corpo faziam cruzeiros

eu contava as estrelas)

onde sou lodo

fui veludo

leito de tantos deleites

pelos quatro cantos

do porto

para os quatro cantos

do mundo

confesso que vivi

confesso que bebi

goles e goles de mar

até o mar derradeiro

até saber-me sozinha

até beber-me Maria

garrafa sem mensagem

de mim

todos os barcos já partiram

e sou só ruínas

de um corpo antigo

onde marujos saciaram

suas sedes

aos beijos no gargalo

de minha boca

resta em mim

o que esqueceram

em mim

as marcas de mastros e dentes

a ferrugem das âncoras tatuadas

um iceberg no copo d’água

e o endereço de um mar

veio de mim

esse mar

que hoje bebe

veio de mim

esse mar

de amar sobejo

veio de mim

ser de Maria

Maria das Águas

Maria que canto

com olhos

que olhos d’água

e quando rio

eu rio doce

orvalho na lágrima

(Lúcio Lins)

Memória das Águas

sei do mar

do seu sal

suas palavras naus

e toda paisagem

uma vista de Portugal

sei do mar

do seu longe

sua história mangue

e o mergulho das ondas

numa linguagem lusitana

sei do mar

que o mar

ainda é um silêncio

e a palavra mar

um oceano de palavras

(Lúcio Lins)

Fontes:

http://www.germinaliteratura.com.br/llins.htm

https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%BAcio_Lins

http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/apaga-se+uma+chama+do+vulcao+cultural+paraibano

http://cd-artes.blog.uol.com.br/arch2006-02-01_2006-02-28.html

http://www.joaopessoa.pb.gov.br/poeta-lucio-lins-e-homenageado-no-projeto-varal-poetico/

http://geovaniaestevam.blogspot.com.br/2009/03/todas-as-aguas-de-lucio-lins.html

http://www.insite.pro.br/2005/04-Lucio%20Lins%20e%20a%20poesia%20na%20perspectiva%20da%20criatividade.pdf

Pesquisador: José Paulo Ribeiro, e-mail: zepaulocordel@gmail.com.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *