Naturalidade: João Pessoa – PB
Nascimento: 20 de fevereiro de 1948 / Falecimento: 16 de abril de 2005
Atividades artístico-culturais: Poeta, escritor e compositor
Formação: Ciências Jurídicas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Publicações: Lado Que Cavo / Que Covas (1982); As Lãs da Insônia (1991); Perdidos Astrolábios (1999); Histórias Flutuantes (2000).
Lúcio Sérgio Ferreira Lins ou, simplesmente, Lúcio Lins foi um poeta cujas características mais marcantes de suas obras eram a criatividade e o apurado senso de humor. Era bacharel em Direito pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), instituição da qual também foi funcionário.
O poeta foi o segundo filho de José Correia Lins e Beatriz Ferreira Lins. Teve mais cinco irmãos, Marcus Vinicius, a também escritora Valquíria Lins, Valéria, Ângela e Vânia. Viveu a infância no Sítio Acais, do município de Alhandra. Desde criança era brincalhão e bem humorado.
Em 1975, iniciou sua vida como escritor publicando poemas em suplementos literários como o paraibano Correio das Artes, do jornal A União, e o mineiro Suplemento de Minas. Suas atividades fotográficas também serviam de inspiração para os seus versos.
Ainda nos anos de 1970, integrou o movimento de vanguarda artístico cultural paraibano chamado de Jaguaribe Carne, ao lado de Pedro Osmar, Paulo Ró, Águia Mendes e outros. Na década de 1980, abriu o Bar Travessia, que se tornou ponto de encontro para artistas e professores universitários.
Na música, teve parcerias gravadas com Adeildo Vieira, Eleonora Falcone, Byaya, Zé Wagner, Mestre Fubá, Xisto Medeiros, Salvador Alcântara, Chico Viola, Paulo Ró, Pedro Osmar, Kennedy Costa, Erivan Araújo e Chico César.
Em 1982, Lúcio Lins venceu o II Festival Norte-Nordeste da Música Popular Brasileira, em parceria com Byaya, ganhando o prêmio de Melhor Letra com a música “Voo Livre”.
No ano de 1984, o paraibano participou do Movimento dos Escritores Independentes (MEI), concebido por Pedro Osmar, Totonho, Josildo Dias, Maria Augusta, Chico César e outros expoentes da prosa e da poesia.
Lúcio Lins ajudou a criar, em João Pessoa, a Revista Ler, em 1990, juntamente com os escritores Wellington Pereira, Hildelberto Barbosa e Edônio Alves. Seus rabiscos de mesa de bar serviram de capa para a revista, na edição de número 10.
Em 1982, publicou o seu primeiro livro, “Lado Que Cavo/Que Covas”. Quase dez anos depois, ressurgiu em nova edição, com “As Lãs da Insônia”, de 1991. Em seguida, lançou “Perdidos Astrolábios”, em 1999 e, “Histórias Flutuantes”, de 2000.
Lúcio Lins era um poeta conectado com as coisas de João Pessoa. Recitava, em tom de poesia, tudo que via e sentia na cidade. A Praça da Paz, nos Bancários, o Ponto de Cem Réis e a pracinha do CCHLA da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) eram paradas constantes do escritor.
Segundo o poeta Sérgio de Castro Pinto, “mais racional do que instintivo, Lúcio Lins trabalhava o poema com acuidade, deixando-o meio lúdico, envolvendo-o numa atmosfera que mais sugere do que diz, como é o caso de Lado que cavas/que covas”, ressaltou.
Para Hildeberto Barbosa Filho, crítico literário, escritor, poeta e jornalista que prefaciou o livro “Todas as Águas”, a simplicidade da linguagem era outra característica de Lúcio Lins. “As palavras do poeta são as palavras de todos, fazem parte do universo da coloquialidade, transitam facilmente pelas ruas e avenidas da fala de qualquer um e, sobretudo, articulam-se, organizam-se, arrumam-se, acariciam-se, atritam-se, interpenetram-se, sem que violem o princípio fundante da funcionalidade poética”, explicou.
Por tantas referências a uma mesma temática, a das águas, Lúcio Lins se tornou conhecido popularmente como o “Poeta do Mar”. É possível identificar essa relação em dois momentos do livro “Perdidos Astrolábios”, onde se encontram dez náufragos e, no monólogo para a prostituta Maria das Águas.
Para o poeta paraibano Antônio Mariano, o escritor tinha fixação pelo tema marítimo. “Creio que era o projeto literário dele, um diálogo com o outro lado, o atlântico com o pacífico, Brasil-Portugal, Camões, Pessoa. Lúcio era um poeta-nauta no melhor sentido da palavra, sabia combinar perfeitamente o conteúdo dos poemas com o campo semântico da seleção vocabular. Lúcio falava de Portugal com a intimidade de um patrício. Estrelas são guias dos antigos viajantes e Lúcio resgata essa visão”, observou.
Lúcio Lins faleceu no dia 16 de abril de 2005, aos 56 anos de idade, em decorrência de um câncer. Entre as cerimônias de despedidas ao escritor, jornalistas, intelectuais e formadores de opinião se encontraram numa vigília que teve como resultado análises e concepções a respeito de sua obra.
Pouco antes da sua morte foi inaugurada, em 25 de fevereiro do mesmo ano, a Casa de Cultura Lúcio Lins. A Prefeitura Municipal de João Pessoa também o homenageou dando o nome do poeta ao anfiteatro da Praça da Paz, onde ainda há uma escultura em metal do paraibano.
Lúcio Lins é, em larga escala, o poeta paraibano contemporâneo mais lembrado em sua terra natal. Ainda em 2003, um grupo de artistas do estado criou o projeto e troféu Solidarizarte, que tinha como objetivo homenagear em vida e anualmente uma personalidade das artes da Paraíba. São mais de 200 mil endereços eletrônicos que fazem referência ao escritor. Depoimentos pela internet circulam até hoje para perpetuar e popularizar o seu legado artístico.
Maria das Águas
eu sou
Maria das Águas
nome e fado
que a mim
me foram dados
pelo movimento
dos barcos
eu sou
Maria das Águas
desde Maria menina
quando só Maria
e ainda
pelo mangue
sob os céus
brincava
de transportar nuvens
em barcos de papel
dos meus nada sei
salvo o talvez
tenham ido
nos barcos de antes
e tenho
uma vaga
na lembrança
que ainda de laços
sargaços e tranças
já tentava esse mar
sem ser de mais dadas
a cada maré que vinha
Maria eu ia
tomando corpo
e o cais tomando gosto
pelos prazeres Maria
que ao porto fui servindo
antes do vinho
da primeira sangria
e foram tantos
quantos os barcos
que a mim me chegaram
com suas almas
nos mastros hasteadas
e foram tantos
quantos os barcos
que em mim me deixaram
sem velas
e com enjôo dos mares
me chegavam
com suas falas diferentes
com seus falos urgentes
e me vestiam a rigor
para suas fantasias
eu me despia
eu me vestia
eu me trocava
(enquanto suas mãos
em meu corpo faziam cruzeiros
eu contava as estrelas)
onde sou lodo
fui veludo
leito de tantos deleites
pelos quatro cantos
do porto
para os quatro cantos
do mundo
confesso que vivi
confesso que bebi
goles e goles de mar
até o mar derradeiro
até saber-me sozinha
até beber-me Maria
garrafa sem mensagem
de mim
todos os barcos já partiram
e sou só ruínas
de um corpo antigo
onde marujos saciaram
suas sedes
aos beijos no gargalo
de minha boca
resta em mim
o que esqueceram
em mim
as marcas de mastros e dentes
a ferrugem das âncoras tatuadas
um iceberg no copo d’água
e o endereço de um mar
veio de mim
esse mar
que hoje bebe
veio de mim
esse mar
de amar sobejo
veio de mim
ser de Maria
Maria das Águas
Maria que canto
com olhos
que olhos d’água
e quando rio
eu rio doce
orvalho na lágrima
(Lúcio Lins)
Memória das Águas
sei do mar
do seu sal
suas palavras naus
e toda paisagem
uma vista de Portugal
sei do mar
do seu longe
sua história mangue
e o mergulho das ondas
numa linguagem lusitana
sei do mar
que o mar
ainda é um silêncio
e a palavra mar
um oceano de palavras
(Lúcio Lins)
Fontes:
http://www.germinaliteratura.com.br/llins.htm
https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%BAcio_Lins
http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/apaga-se+uma+chama+do+vulcao+cultural+paraibano
http://cd-artes.blog.uol.com.br/arch2006-02-01_2006-02-28.html
http://www.joaopessoa.pb.gov.br/poeta-lucio-lins-e-homenageado-no-projeto-varal-poetico/
http://geovaniaestevam.blogspot.com.br/2009/03/todas-as-aguas-de-lucio-lins.html
Pesquisador: José Paulo Ribeiro, e-mail: zepaulocordel@gmail.com.