Pesquisa e texto: Jonas do Nascimento dos Santos
Naturalidade: Bonito de Santa Fé-PB
Nascimento: 24 de fevereiro de 1931 // Falecimento: 18 de julho de 1981
Atividade artístico-cultural: compositor, instrumentista, letrista e produtor musical
Gênero Musical: MPB e Forró
Títulos e Homenagens: patrono da cadeira nº 19 da Academia Paraibana de Música
Composições Gravadas: 36
Formação Acadêmica: Bacharelado em Direito na UFPB (1960-1964)
Luiz Ramalho, nascido no Povoado de Santa Fé, localizado no atual município paraibano de Bonito de Santa Fé, em 1931, foi um compositor, instrumentista, letrista e produtor musical paraibano. Era primo dos consagrados cantores Elba Ramalho e Zé Ramalho, ele passou parte da infância e adolescência em São José de Piranhas, Bonito de Santa Fé e Cajazeiras, concluindo nesta cidade o curso ginasial no Colégio Diocesano Padre Rolim em 1948. Em 1956, aos 25 anos, foi para João Pessoa com a intenção de seguir adiante para o Rio de Janeiro ou São Paulo. Porém, terminou ficando na capital paraibana, alojado na famosa Casa do Estudante, Rua da Areia, 567. Lá construiu muitas amizades duradouras como Luiz Nunes Alves (Severino Sertanejo), Wilson Braga, Abílio Plácido, Dorgival Terceiro Neto, José Belarmino da Nóbrega, entre outros tantos.
Ainda em 1956, conheceu Maria Jayra de Carvalho Lisboa, por quem se apaixonou e que o impulsionou a retomar os estudos. Em 1957, começou o Curso Clássico (atual ensino médio) no célebre Lyceu Paraibano, onde depois tornou-se professor, passando a ensinar “regrinhas de português” como costumava dizer. Fez vestibular e ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba em 1960, tendo se formado em dezembro de 1964. Luiz era um autoditada em música e no violão, aprendeu os primeiros acordes com seu Tio Cefas que também lhe emprestava o único violão a que ele tinha acesso.
Nos anos 60, criou e liderou um grupo musical que tocava em festas dançantes no famoso CEU (Clube dos Estudantes Universitários), no Cassino da Lagoa, em João Pessoa, local que também funcionava como restaurante universitário e servia de espaço para as assembleias de estudantes. Para poder atualizar o repertório e manter o sucesso do grupo, no qual tocava guitarra, Luiz costumava viajar para o Recife para ver filmes e aprender seus temas musicais. Como não tinha gravador, precisava assistir mais de uma sessão para decorar a música. Depois ensaiava com o grupo e na estreia do filme em João Pessoa, uma ou duas semanas depois do Recife, surpreendia o público já tocando o tema do novo filme.
Participou de diversos Festivais de Música Brasileira, muito comuns na época. Aliás, ao longo da vida, sempre valorizou os festivais, pois os considerava “grandes oportunidades para os novos artistas”. Foi finalista dos 3 primeiros “Festivais Paraibanos da MPB” organizados por Expedito Gomes no Teatro Santa Rosa e no Clube Astrea. Obteve o 2º lugar no 1º festival (1967) com a música “Meação”, interpretada por Gilson Reis e o Conjunto de Aldemir Sorrentino; e o 1º lugar no 2º festival (1968) com a música “Tropeiro”, interpretada por Chico Zacarias e o Quarteto Som. Em ambas composições, explorou temáticas sertanejas (situação do meeiro e trabalho do tropeiro), ao mesmo tempo que introduzia harmonias modais e outras sofisticações, seguindo a tendência da bossa nova e do jazz. Ainda nesses festivais, ganhou o prêmio de “composição de ouro” para sua música “Lagoa” feita em homenagem a esse ponto turístico da capital paraibana.
Ainda em 1967, participou do conhecido programa “A Grande Chance”, de Flávio Cavalcanti, na Rede Tupi, com a música romântica “Noite sobre meu riso”. Já em 1968, deu um salto maior, revelador de seu ecletismo, classificando a música “Retiro da Lua” entre as doze finalistas no Festival “O Brasil Canta no Rio” – III Festival Nacional da Música Popular Brasileira (TV Excelsior). A música foi interpretada no Maracanãzinho por Roberto Rabelo, o crooner de sua banda no CEU. Entre os outros finalistas encontravam-se compositores do calibre de Sérgio Bittencourt (Modinha), Ataulfo Alves (Você passa e eu acho graça), Paulo Sérgio Valle e Vítor Martins. Além das atividades no CEU e participação nos festivais, Luiz continuou compondo e mantendo estreitos e boêmicos laços com os músicos locais, mesmo atuando em paralelo como bacharel de direito.
No começo da década de 70, Luiz Ramalho aproximou-se de Luiz Gonzaga e de Genival Lacerda que foram os maiores intérpretes de suas músicas de veia nordestina. Gonzaga gravou composições como “Facilita” (1973), primeiro grande sucesso, “Daquele Jeito” (1974) – capa do disco, “Retrato de um forró” (1974), “Roendo unha” (1976), e “Mangangá” (1978)”. Várias dessas composições foram reinterpretadas por muitos outros artistas (ver abaixo), com destaque para “Roendo Unha” com 13 regravações até o momento. Genival Lacerda gravou uma dezena de composições originais de Luiz, dentre elas: “O homem que tinha três pontinhos” (1977) – capa do disco, “Estalo de Vieira” (1977), Rita Caxeado (1978), “Cabeça Chata” (1978) – capa do disco, “Nêga Zira” (1979) e “Sivuca” (1978), esta última em homenagem a seu amigo e grande músico paraibano. Um destaque também para “Cabeça Chata” por ser uma parceria com seu compadre Luiz Nunes (assinando como “Lula de Ibiapina”). Nas músicas jocosas, boa parte gravada por Genival, preferia usar o pseudônimo Luiz Santa Fé, em referência à cidade onde nasceu, para evitar algum “preconceito contra suas músicas mais sérias”.
Em 1976, Luiz Ramalho teve sua primeira música, “Amor em Jacumã”, gravada no exterior por Dom Um Romão, que atuou como baterista de Frank Sinatra, Milton Nascimento, Baden Powell (músico), Antônio Carlos Jobim entre outros. Para Luiz, este foi um dos seus maiores êxitos, “conseguir que uma música com raízes nordestinas penetrasse em um ambiente onde o jazz predomina foi, realmente, um mérito”. Os amigos Sivuca e Glória Gadelha, que foram fundamentais nos contatos nos EUA , também contribuíram para a gravação de outras composições como “Preço de Cada um” (1977), “Questão de amor” (1981). “Amor em Jacumã” foi regravada diversas vezes com destaque para a cantora Ithamara Koorax, considerada uma das melhores cantoras de jazz dos anos 2000.
Sempre aproveitando as oportunidades abertas pelos festivais, em 1978, Luiz participou com “Veio d’água” da “1ª cantoria da música nordestina” organizado pela Rede Globo. A música, que ficou entre os finalistas, foi interpretada por Marília Serra no Teatro do Parque em Recife, sendo mais tarde regravada pela prima Elba Ramalho no seu primeiro disco. Participou dessa última gravação dividindo o arranjo-base com o primo Zé Ramalho, gravação da qual também participaram Geraldo Azevedo, Sivuca, Jamil Joanes, Elber Bedaque e Robertinho Silva. Embora a grande maioria de suas músicas gravadas na década de 70 fossem de inspiração nordestina (xotes, quadrilhas, baiões, cocos, etc.), continuou fazendo músicas românticas e sambas, mantendo ativo, inclusive, um regional de samba.
Sua consagração como compositor foi alcançada com a música “Foi Deus quem fez você” no Festival da Nova Música Popular Brasileira – MPB 80, promovido pela Rede Globo. Interpretada por Amelinha e entoada por 25.000 pessoas no Maracanãzinho, a música foi classificada em segundo lugar no festival. Apesar de não ter levado o primeiro prêmio, foi a música do festival mais executada, ocupando o primeiro lugar nas FMs e AMs do Brasil inteiro durante meses. O compacto gravado por Amelinha vendeu mais de 1 milhão de cópias, realizando um dos sonhos mais caros de Luiz: “que uma música minha seja cantada por todo o povo brasileiro”.
Em 1979, foi diagnosticado com câncer (leucemia). Fez tratamentos quimioterápicos em João Pessoa, no Hospital Barão de Lucena em Recife, e até no Memorial Hospital em New York (EUA). Mesmo estando doente, Luiz Ramalho não dispensou a música e tornou-se produtor da RCA (Radio Corporation of America) com objetivo de encontrar talentos nordestinos. Produziu, dois compactos simples, lançando os cantores paraibanos Anay e Afrânio Ramalho (seu primo) que gravaram duas de suas composições: “Palavras tatuadas” e “Lances da vida”, respectivamente. Sua saúde teve uma grave recaída, vindo a falecer vítima de leucemia em João Pessoa no Hospital do Grupamento de Engenharia, em 18 de julho de 1981, sábado de manhã, aos 50 anos, deixando mais de 30 músicas gravadas e mais 170 inéditas, além de muitos amigos e admiradores. Seu enterro, ao qual compareceram mais de 3 mil pessoas, foi motivo de comoção em João Pessoa, cidade que adotou como sua.
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