Naturalidade: Guarabira – PB
Nascimento: 09 de junho de 1905 / Falecimento: 08 de abril 1987
Atividades artístico-culturais: Cantador violeiro, poeta popular, tipógrafo, xilógrafo, horoscopista, escritor e editor.
Publicações: Primeiros folhetos: O Romance de Abel com Margarida e Peleja com Pedro Simão; Livros de Poesia: Autobiografia do poeta (1979); O caboclo do bode (1974)¸Viagem a São saruê, obra traduzida para o francês (1956); O Sabido sem estudo (1955).
Homenagens, títulos e prêmios:
1955 – Recebeu o Diploma no Congresso de Poetas e Repentistas de Salvador-Bahia.
1960 – Diploma no Segundo Congresso de Poetas e Violeiros de São Paulo-SP;
1975 – Diploma de melhor poeta popular do Brasil e prêmio de cinco mil cruzeiros concedidos pela Universidade Regional do Nordeste, em solenidade no Museu de Artes Assis Chateaubriand em Campina Grande-PB;
1978 – Patrono da Casa de Cultura São Saruê, cujo nome é uma referência ao poema “Viagem a São Saruê”, no Rio de Janeiro-RJ.
Manuel Camilo dos Santos foi criado na agricultura, mas a partir dos 18 anos dedicou-se ao comércio ambulante juntamente com o seu pai. Em 1936, já morando na capital João Pessoa e trabalhando como marceneiro, adotou a cantoria como profissão, porém em 1940 abandona o ofício, transfere-se para Campina Grande e lá inicia sua vida de poeta popular.
Em 1942, instalou em Guarabira, numa pequena e rudimentar tipografia, a “Folhetaria Santos”. Em 1953 a folhetaria foi transferida para Campina Grande com o nome “A Estrela da Poesia”.
No ano de 1975, Manuel Camilo dos Santos recebeu o diploma de melhor poeta popular do Brasil.
Tendo publicado, de autoria própria, mais de 150 folhetos, teve como obra-prima, segundo o pesquisador Atila de Almeida, o folheto Viagem a São Saruê, que teve uma versão para o idioma francês “Voyage a São Saruê”, feita pela professora Idelete Muzart. Orígenes Lessa o chamava de “outro gigante do Nordeste” ou “uma das mais extraordinárias figuras dessa literatura – de cordel”.
Muitos foram os seus títulos reeditados: O clássico “Viagem a São Saruê”, As palhaçadas de Biu, O sabido sem estudo e O filho de Garcia, entre outros. Se no primeiro folheto o autor se desvia das temáticas tradicionais (cangaço, pelejas, religião), e viaja em sonhos que, segundo Orígenes Lessa, é uma versão sertaneja do Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira; no último folheto, conforme a opinião de Augusto de Campos, ele produz um poema de vanguarda, uma “concreção”.
Foi membro fundador da Academia Brasileira de Cordel, onde ocupou a cadeira nº25.
Como viveu grande parte de sua história na cidade de Campina Grande-PB, em sua homenagem, durante os festejos do Maior São João do Mundo, no Arraial Sítio São João, é instalada uma casa-folhetaria na qual ficam abertos para visitação pública peças e maquinários da Estrella da Poesia.
Manuel Camilo conviveu com intelectuais, tais como: Ariano Suassuna, João Silveira, Orígenes Lessa, Sebastião José do Nascimento, entre outros. Dialogando também com intelectuais da literatura cordelista, entre os quais destacamos Manoel Caetano e Zé Nogueira.
O poeta discutiu em suas obras determinados temas com raízes nordestinas, entre eles: o cangaço, a seca, o matuto, a fome, etc. Ele conferiu a seus cordéis, temáticas próprias da região Nordeste, percebendo-se que em centenas deles, essas temáticas se destacam (GOMES; BEZERRA, 2015).
Com relação às temáticas por ele exploradas em sua produção, destacamos dois cordéis romances, entre eles: “A Bela Sertaneja” e “Amantes Encarcerados”; histórias do cangaço, como o “Terror do Banditismo” e “Monstros da Paraíba”; aventuras, como “As aventuras de Pedro Quengo”; pelejas, como “A primeira peleja de Manoel Camilo dos Santos como Romano Elias”; religiosidade como “Nascimento vida e morte de Jesus”; entre outros cordéis (GOMES; BEZERRA, 2015).
Segundo Orígenes Lessa, o poeta Manuel Camilo é “uma das mais extraordinárias figuras dessa literatura tão rica de colorido e tão inesperada beleza e de inspiração”. Orígenes Lessa.
Autobiografia do Poeta
(…) Deus a todos deu um dom
para com ele viver.
quem logo acertar com o seu
vive bem e tem prazer
e o que não acertar
só leva a vida a sofrer.
Uns têm o dom para artes
outros para a agricultura.
já outros para a ciência
porém outros é pra leitura.
enquanto uns vivem da música
outros exercem a pintura.
Alguns têm o dom profético
outros o dom da cirurgia
uns têm o dom de comércio
o meu dom é poesia.
e nele graças a Deus
vivo bem, tenho alegria.
Cada um para o que nasce
apoiado este dizer.
mas muitos deixam o seu dom
pensando enriquecer.
vão procurar longe
onde só acham o sofrer.
Viagem a São Saruê
Doutor mestre pensamento
me disse um dia: – Você
Camilo vá visitar
o país São Saruê
pois é o lugar melhor
que neste mundo se vê.
Eu que desde pequenino
sempre ouvia falar
nesse tal São Saruê
destinei-me a viajar
com ordem do pensamento
fui conhecer o lugar.
Iniciei a viagem
as quatro da madrugada
tomei o carro da brisa
passei pela alvorada
junto do quebrar da barra
eu vi a aurora abismada.
Pela aragem matutina
eu avistei bem defronte
a irmã da linda aurora
que se banhava na fonte
já o sol vinha espargindo
no além do horizonte.
Surgiu o dia risonho
na primavera imponente,
as horas passavam lentas
o espaço encandescente
transformava a brisa mansa
em um mormaço dolente.
(p. 1)
[…]
Este folheto traz nuances de um imaginário, remontando a uma terra que esbanja fartura, lugar impossível de existir, exalando paralelamente uma utopia, que se entrelaça em seus escritos.
Fontes:
http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/ManuelCamilo/manuelCamilo_biografia.html
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/7564.pdf
ALMEIDA, Átila; ALVES SOBRINHO, José. Dicionário biobibliográfico de poetas populares. 2ª ed., Paraíba: UFPB, 1990.
GOMES, Germana Guimarães; BEZERRA, Aluska Karla Alves. O DISCURSO regionalista nordestino nos cordéis de Manoel Camilo dos Santos. Disponível em: <http://www.anpuhpb.org/anais_xiii_eeph/textos/ST%2018%20-%20Germana%20Guimar%C3%A3es%20Gomes%20e%20Aluska%20Karla%20Alves%20Bezerra%20TC.PDF. Acesso em: 30 set. 2015.
Pesquisador: José Paulo Ribeiro, e-mail: zepaulocordel@gmail.com.
Uma resposta
Sou Paulo Lopes João pessoa
Grande admirador do poeta
Manoel Camilo, amigo do meu pai,
Já falecido,,,
Gostaria muito de poder contemplar algumas obras do Mestre Manoel Camilo,