Naturalidade: Santos – SP / Radicou-se em João Pessoa – PB
Nascimento: 8 de dezembro de 1942
Atividade/exercício-profissional: Escritora
Instagram: https://www.instagram.com/mariavaleria.rezende/
Maria Valéria Rezende tem um perfil que foge aos estereótipos pela singularidade: é freira, educadora popular e nos últimos 15 anos vem obtendo reconhecimento pela sua atividade literária.
Ela iniciou sua escrita de ficção escrevendo pequenos contos para dar de presente a amigos. Em 2001, publicou seu primeiro livro, o romance Vasto Mundo, ganhando projeção nacional e sendo bem avaliada pela crítica especializada e pelo circuito literário.
Há mais de quarenta anos vivendo na Paraíba, ela não titubeia ao se afirmar como escritora paraibana. “A (Maria Valéria) escritora é paraibana. Os meus livros foram gerados, escritos, vividos aqui”, ressalta ela em entrevista ao portal Paraíba Já
“Acho que não há um outro estado do Brasil que tenha a taxa per capita de talento da Paraíba. Tire os paraibanos da literatura brasileira, da música brasileira, da pintura brasileira, fica um rombo enorme”, destaca Maria Valéria
Quando perguntada sobre o momento em que se enxergou como uma escritora, Maria Valéria Rezende surpreende na resposta. “Nunca. Eu nem sei se eu escrevo mais um livro”, declara com a maior naturalidade do mundo, em entrevista ao Paraíba Já. A escrita para ela é algo fluido, não compromissado
“Escrever continua a ser pra mim: ‘O que eu vou fazer? Estou livre hoje, quero fazer uma coisa que dê satisfação, pra me restaurar, estou cansada, preciso me animar’, eu sento e escrevo uma história, sabe? É o meu divertimento. Divertimento parece ser uma coisa muito superficial, mas não é. É o meu prazer, é o meu gosto – e depois se os outros gostarem, ótimo!”, justifica.
Ela afirma que apesar de já escrever há anos e ter uma quantidade razoável de material guardado, não pensava em editar e publicar seus escritos. “Eu nunca planejei editar, nunca mandei livro nenhum (para as editoras)”, revela Maria Valéria para depois emendar na revelação de que fora descoberta através de presente textual que dera a um amigo.
“Eu não tinha dinheiro, vivia de educadora popular aí ‘pelos matos’, dinheiro era última coisa que tinha. Quando algum amigo fazia aniversário eu não tinha dinheiro pra comprar presente. Então, o que eu fazia? Escrevia uma história, desenhava – nesse tempo eu desenhava bastante bem – fazia uma capa bem bacaninha, fazia uma edição única ‘está aqui seu presente de aniversário’”, complementa ela.
“E foi assim que eu dei (os contos) para um amigo e três anos depois uma pessoa de uma editora me ligou (dizendo) que tinha lido um texto e tinha adorado, queria tudo que eu tivesse (escrito e guardado). Eu fiquei na dúvida, fiquei assim, falei ‘Não, que é isso?’. Aí mandei umas coisas, só porque eu fiquei curiosa de ver o que eles iam dizer”, explica ela.
“Daí o cara me mandou para uns pareceristas, era tudo elogiando. Mesmo assim fiquei desconfiada, porque se fato de alguém querer editar garantisse a qualidade literária, não haveria tanto livro ruim no mundo”, afirma ela ao Paraíba Já, com sua habitual modéstia.
Excessivamente cética consigo mesma e bastante autocrítica, foi só depois de uma escritora consagrada, a imortal Lygia Fagundes Telles, dar o seu “aval analítico”, que ela concluiu que tinha gabarito literário para publicar seu primeiro livro.
“Lembrei que eu tinha na minha agenda o endereço da Lygia Fagundes Telles. Pensei: uai, vou perguntar pra ela se (o que escrevo) presta ou não, se eu devo publicar ou não. Porque ela vai ler três páginas e vai saber. Uns 15 dias eu recebo pelo correio, subscritado à mão, com aquela letra linda, um cartão postal da Academia Brasileira de Letras e escrito atrás ‘Não lhe escrevo mais longamente porque estou de partida para o Ano do Brasil na França, mas li seu livro. Publique sim, você é uma escritora séria’”, relatou.
Em dezembro de 2015, recebeu um dos mais importantes prêmios literários nacionais, o Prêmio Jabuti, pelo seu novo romance Quarenta Dias. Antes já havia conquistado o 2º e o 3º lugar na categoria Livro Infantil pelas obras “No Risco do Caracol” e “Ouro Dentro da Cabeça”, respectivamente.
Quando ganhou o Jabuti por “Quarenta Dias”, a editora teve que imprimir novas edições do título premiado e de outros da autora, uma vez que houve uma procura gerada pela curiosidade e pelo boom do prêmio. “Quando Quarenta Dias foi anunciado vencedor foi uma loucura porque praticamente não havia mais exemplares à disposição nas livrarias”, revela Maria Valéria.
Além de ter vencido o Jabuti, a obra foi indicada como leitura paradidática para o vestibular da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) em 2015, situação que também havia acontecido em 2008 com seu romance O Voo da Guará Vermelha e que se repetiu em 2016 com seu novo livro, “Outros Cantos”.
“A grande dificuldade desse país é a distribuição. Mesmo eu tendo ganho o Jabuti, mesmo Outros Cantos tendo sido indicado para o vestibular você liga para as livrarias e não tem”, enfatiza Valéria ao Paraíba Já.
“Muito do mercado de livros está dominado pelas cadeias de livrarias e elas estão controlando o que vem e o que não vem. Como carregar o meu livro, ou cinquenta tons de qualquer coisa, o frete é o mesmo preço, então, é mais vantajoso eles trazerem muito, encherem o caminhão baú daquilo que vai vender fácil”, descreve sobre o processo de distribuição de livros no Brasil.
“Esse é o drama: um país imenso com uma péssima distribuição. Qualquer livraria aqui da Paraíba pra ter meus livros pra vende tem de pedir pra São Paulo e são no mínimo 15 dias pra chegar, é absurdo isso”, desabafa.
Valéria reafirma que não tem a literatura como algo condicionante, como uma missão ou obrigação.
“Já tenho 73 e já fiz um monte de coisas na minha vida que me realizaram, que ninguém nem sabe mas sei eu. Eu não me sinto obrigada a continuar publicando. Eu vou continuar escrevendo enquanto for possível, enquanto minhas mãos e meus olhos permitirem, se eu tiver vontade, se eu tiver tema”, esclarece.
“Não tenho um projeto de carreira. Tenho dois romances pela metade que eu gostaria de acabar e tenho um baú de contos, e tenho uma caderneta onde eu anoto os títulos, as sinopses e as personagens principais dos romances que eu provavelmente não terei tempo de escrever”, explica ela para falar de um livro inacabado que pretende dar continuidade.
É um livro “cuja escrita é difícil”, porque a proposta é fazer um romance narrado em primeira pessoa por uma mulher do século XIX e ao mesmo tempo com uma linguagem palatável no século XVIII e legível no século XXI. Valéria diz, no entanto, não ter um prazo ou compromisso ferrenho de escreve-lo.
“É um trabalho de linguagem bastante custoso e eu vou fazer pelo gosto de fazer, não tem hora marcada nem dia marcado, nem editor comprometido, nem nada. Quando tiver pronto vamos ver – se estiver pronto”, afirma.
Ela revela, contudo, que pode mudar ideia e fazer outra coisa completamente diferente. “Se eu resolver fazer outra coisa… Eu ando com vontade de tocar piano. Eu toquei muito piano quando eu era menina e faz uns quarenta anos que eu não ponho a mão num piano. De repente eu vou resolver estudar piano ao invés de escrever”. A liberdade é o seu imperativo. “Eu quero ser livre, quero continuar a ser livre”, conclui.
Obras literárias:
Romance
Vasto Mundo (2001, Ed Beca, (Finalista do prêmio cidade de Belo Horizonte 1998); 2015, (nova versão) Alfaguara
O Voo da Guará Vermelha – 2005, Objetiva, 2015 Alfaguara (finalista do prêmio Zaffari & Bourbon 2007) – Traduzido e publicado na França (Metailié, 2008), na Espanha (em espanhol, Alfaguara, e em catalão, Club Editor), 2008 e 2009, publicado também em Portugal, 2008, Oficina da Palavra.
Quarenta Dias – 2014, Alfaguara – (1° lugar do Prêmio Jabuti 2015, romance e do Jabuti Livro do ano de ficção; semi-finalista do Prêmio Oceanos 2015); finalista do Prêmio Estado do Rio de Janeiro)
Outros cantos (2016) – Selecionado para patrocínio pela Petrobras Cultural – Alfaguara/Cia das Letras. Prêmio Casa de las Américas de 2017
Carta à Rainha Louca (2019) – Alfaguara
Contos e crônicas
Modo de Apanhar Pássaros à Mão – 2006, Objetiva (Semi-finalista do prêmio Portugal-Telecom em 2007, selo Altamente recomendável para jovens, da FNLIJ))
A face serena – (no prelo) a sair pela ed. Simonsen – (Menção honrosa no Prêmio Lucílio Varejão, Cidade do Recife em 2008 [sob o título “A utilidade da cobra”]; menção honrosa no prêmio Cidade de Belo Horizonte em 2013).
Participa com contos em várias coletâneas no Brasil e no exterior – Argentina, Itália, França, USA)
Infantil e juvenil
O Arqueólogo do Futuro – 2006, Planeta
O Problema do Pato – 2007, Planeta
No Risco do Caracol – 2008, Autêntica (Prêmio Jabuti, infantil, 2o. lugar, 2009)
Conversa de Passarinhos – Haikais para crianças de todas as idades (com Alice Ruiz) – 2008, Iluminuras (Finalista do prêmio Jabuti, juvenil, em 2009)
Histórias daqui e d’acolá – 2009, Autêntica
Hai-Quintal – Haicais descobertos no quintal – 2011, Autêntica
Ouro Dentro da Cabeça – 2012, Autêntica – (Prêmio Jabuti, juvenil, 3o. lugar, 2013)
Jardim de Menino Poeta – 2012, Planeta
Vampiros e outros sustos – 2013, Dimensão
Uma Aventura Animal – 2013, Editora DSOP
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Val%C3%A9ria_Rezende
http://paraibaja.com.br/quero-continuar-ser-livre/
http://paraibaja.com.br/minha-vida-sempre-foi-ouvir-e-contar-historias-diz-maria-valeria-rezende/