Entrevista e texto: Laura Moura
Ano de Criação: 2017
Local de Origem: João Pessoa – PB, mais precisamente na Hera Bárbara (casa que abrigava o underground na época)
Gênero: Estilo diversificado com influências de sons dark, hardcore, punk rock, rap, entre outros.
Integrantes: Misandri Santana (guitarra solo e vocal), Amanda (Guitarra base e vocal), Marília Dias (Baixo e vocal), Gaby Dias (Bateria).
Instagram: @bandamatriarcaos
Canal no Youtube: Matriarcaos
Criada em 2017, a banda ‘Matriarcaos’ surgiu em João Pessoa, mais especificamente na Hera Bárbara (casa que abrigava o underground na época). Formada apenas por mulheres, o grupo produz de forma independente, expressando seu grito de resistência através do estilo que elas nomeiam como “caos sonoro”, com grande influência do punk rock, hardcore, rap e pós-punk. Com inspiração em nomes como L7, Letrux, Anticorpos, Dominatrix, Demonia, Noskill, Lay, Dinadi, Bikini Kill, Bulimia, entre outras, elas seguem com suas produções representando e estimulando a cena feminina do underground paraibano.
Uma crítica social, o nome do coletivo é uma ironia com a dominação masculina e o sistema patriarcal. Composto inicialmente por Misandri, Marília, Kivy, Rayssa e Isac, o grupo busca referências de mulheres que garantem a resistência, tanto na música como também nas artes visuais e na literatura. Seu primeiro show foi realizado no dia 16 de dezembro de 2017, na Música Urbana, loja referência para o público underground de João Pessoa, foi então que tudo começou oficialmente para a banda.
“Marília e as meninas faziam parte de um projeto com um cara que teve umas condutas erradas, então elas decidiram fazer uma banda só delas. Na época eu (Misandri) tinha um espaço chamado Hera Bárbara que era justamente onde elas ensaiavam com esse projeto, então me chamaram para compor esse projeto. Todas estavam ainda aprendendo seus instrumentos e mesmo assim, já conseguimos tirar um som e fazer uma música (Macho de mimi) no primeiro ensaio”, Misandri comenta sobre as primeiras interações da banda.
Pouco antes da pandemia, de 2016 ao final de 2019, a banda funcionava de forma colaborativa, com membros fixos e ensaios abertos para quem quisesse acompanhar ou até mesmo tocar com elas. Nessa época o grupo participou de diversos eventos relevantes como o Festival pela Vida das Mulheres, realizado no centro da cidade de João Pessoa, no Parque Salon de Lucena. Além disso, elas também participaram do GRITO ROCK 2018 no Palco Hera (GRITO DELAS), da mesma forma já levaram seu som para cidades como Guarabira e Campina Grande, e claro, participaram de vários eventos locais.
Devido a pandemia, o grupo passou um período de recesso, retornando apenas em 2024. Foi quando a guitarrista Misandri e a baixista Marília, membras desde a fundação, conheceram Amanda e Gaby Diaz para fazer parte do grupo e retornar com as atividades. A banda volta aos palcos a todo vapor, voltando a se apresentar na cena cultural, além de exibir produções fresquinhas para o público.
Quanto a sua discografia, eles já contam com 7 músicas autorais compostas em 2017: ‘Macho de mimimi (Vamos beber as suas lágrimas)’, ‘Discursos de dominação’, ‘Transtornos’, ‘Lixos sociais’, ‘Naqueles dias’, ‘Pacha Mama’ e ‘Ferir seu Ego’. Inspiradas no dia a dia das integrantes, além das notícias diárias e experiências que compartilham, as músicas possuem letras pesadas e reflexivas que criticam todo um contexto histórico-social, além da hipocrisia e do machismo.
Além disso, após o retorno com duas novas integrantes, Amanda (Guitarra base e vocal) compôs duas letras fortes: ‘Vertigem’ e ‘O fim’. Assim, a banda explica que essas 9 músicas farão parte do seu primeiro álbum, além de outras que estão trabalhando e que farão parte de um EP no início do ano que vem.
“Quando a oportunidade surgiu, abriu um horizonte de possibilidades de perceber que era possível fazer música do jeito que eu acreditava e do jeito que era possível, e foi um caminho muito bom pra expressar diversos sentimentos e me conectar com pessoas por meio disso. Eu não tinha noção como coisas tão íntimas reverberam em outras pessoas e isso me faz ver como a música é potente e me faz querer criar cada vez mais. Como mulheres somos constantemente isoladas em nossas vivências de forma que constantemente questionamos o nosso sentimento, ou até se temos o direito de sentir, portanto essa conexão por meio da música que gera essa identificação é um mecanismo muito importante pra nos fortalecer”, comenta Amanda.
Por fim, a banda espera que a cena underground Paraibana seja mais valorizada pelo poder público, pois não enxerga muito incentivo para o seu estilo de arte. É triste ver que muitas vezes as bandas tem um trabalho tão incrível, mas morrem antes mesmo de gravar um álbum pois não tem suporte e maneiras de sobreviver, comenta Misandri. Assim, elas permanecem defendendo a bandeira feminista em suas músicas e lutando pela construção de um espaço musical cada vez mais acolhedor para as mulheres do punk paraibano.
“Todas concordamos que o que mais nos inspira, é ver que a gente consegue alcançar com nossa música mulheres de todas as idades. Algumas experiências de shows nos mostraram que não importa se aquela mulher, menina, garota, tem vivência no rock ou não, ela vai parar para nos ver, nós vamos chamar a atenção dela, ela vai se enxergar em nós e nas nossas canções, isso pra gente não tem preço e vale a pena passar por cima de todos os percalços […] Em shows de rock sempre tem roda punk/poga e praticamente 100% delas é composta de homens, as mulheres não entram. Nos nossos shows (como foi neste último sábado no festival Alumiô) boa parte do tempo as rodas punk estavam compostas em sua maioria por minas”, finaliza Misandri.
Fontes:
Entrevista cedida em 24/09/2024 a Laura Moura.