Naturalidade: João Pessoa-PB
Nascimento: 19 de novembro de 1926
Nyedja do Nascimento Silva é paraibana e se tornou uma referência feminina, pois foi pioneira no ensino da Agronomia no estado da Paraíba. Nascida em João Pessoa-PB, em 19 de novembro de 1926. Passou sua infância e adolescência na mesma cidade que nasceu. No Ensino Médio, estudou no Liceu Paraibano. Tendo como um de seus sonhos fazer um curso superior.
Os negros, na época, livres há apenas 57 anos, e as mulheres, relegadas ao papel de dona-de-casa, esbarravam nos obstáculos sociais do Brasil da primeira metade do Século XX, para chegar à universidade. Foi nesse cenário hostil que Nyedja Nascimento, negra e pobre, conseguiu ser a primeira mulher a chegar a uma universidade na Paraíba. Momento em que as faculdades eram dominadas por homens, brancos e de famílias nobres, ao terminar o ensino médio, prestando vestibular para o curso de Agronomia, na antiga Escola De Agronomia do Nordeste.
Em 1946, aos 20 anos de idade, foi aprovada no vestibular para o curso de Agronomia, sendo classificada em quinto lugar, tornou-se a primeira mulher a estudar e a primeira mulher diplomada pela EAN. Era a primeira mulher a ingressar como aluna no curso na Paraíba e a segunda paraibana a seguir a profissão de Engenheira Agrônoma, já que a primeira paraibana se formou pela Escola de Agronomia do Ceará.
No início de sua vida como acadêmica, morou por três meses na residência do motorista do Diretor da Época, José Romualdo. Em 1947, passou a residir em uma casa na EAN. Durante os quatro anos do curso permaneceu sendo a única mulher estudante, na antiga Escola de Agronomia do Nordeste.
Além de estudar, Nyedja superou muito preconceito por ser mulher e negra. O orgulho da sua cor dava força para continuar o curso.Alguns moradores de Areia, mais especificamente os ligados às famílias mais tradicionais, a tratavam como a “nega da escola”.
“Até algumas pessoas que eram parentes tinham essa postura na época. Embora isso fosse uma minoria. Eu sempre me dei muito bem com meus colegas professores e com suas esposas. Como eu passava a maior parte do tempo estudando, não ia muito para cidade, isso acabava não me afetando em nada. Sempre tive orgulho do que sou: afrodescendente. Sou negra, assim como meu pai era. Tenho o maior orgulho dele”, comentou Nyedja.
Em 04 de dezembro de 1949, formou-se na 9ª Turma, em uma Cerimônia realizada no Salão Nobre, se tornando a primeira engenheira agrônoma formada na Paraíba.
Nyedja trabalhou como professora em Bananeiras de 1950 a 1951. Casou com o colega Manoel Félix da Silva e com ele foi trabalhar em Riacho dos Cavalos, pedindo demissão do trabalho em Bananeiras. Em 1954, ambos foram nomeados professores da Escola de Agronomia do Nordeste, ele como professor assistente do professor Vasconcelos e ela como professora assistente do Professor Paulo Maia, na área de Entomologia e tornou-se assistente do professor Antônio Dias, na área de Anatomia Animal.
Em 1956, ela quebrou mais uma barreira e se tornou a primeira professora titular do curso de Agronomia da UFPB, permanecendo como professora da disciplina Fisiologia Animal até a sua aposentadoria em 1986. Em 2015, prestes a completar 90 anos, Nyedja comentou sobre sua trajetória, contou que acabou se formando como agrônoma e assumindo a docência por necessidade, mas que se orgulhava da carreira.
“Eu queria ser enfermeira, mas como não tinha curso aqui e eu não tinha dinheiro para estudar fora, escolhi Agronomia, porque era o único daqui, da Paraíba. Meu irmão tinha acabado de concluir os estudos e conhecia o curso e, principalmente, porque eu queria muito me formar. Fui a primeira mulher do curso, da escola [de agronomia] e posteriormente a primeira professora de Agronomia”, disse.
Foi como professora que Nyedja descobriu sua verdadeira vocação:“Eu me lembro de que a segunda mulher a estudar Agronomia na escola de Areia foi minha aluna. Sou engenheira agrônoma, mas minha vocação sempre foi ensinar. Foi como professora que eu descobri a minha vocação. Fui professora até o último dia da minha carreira, até me aposentar. Gostava das aulas de campo com os alunos, mas gostava mesmo era da sala de aula”, explicou Nyedja.
O neto mais velho de Nyedja, Manoel Félix da Silva Neto, nascido em 1987, herdou a responsabilidade de manter o legado da família no curso de Agronomia de Areia. Quando estudante, ele conta que todos os seus professores da graduação em Engenharia Agrônoma foram alunos dos avós e que o fato rendeu muitas histórias, “Eles diziam que minha avó era chamada de ‘mãe Nyedja’ pelos alunos, porque ela tentava encontrar um jeito de ajudar o aluno para que ele não se prejudicasse. Para mim, é motivo de orgulho ter estudado no curso que foi praticamente fundado pelos meus avós”, completou Manoel.
Nyedja do Nascimento Melo, cujo nome de casada passou a ser, Nyedja do Nascimento Silva faleceu aos 92 anos. Nyedja é referência para mulheres de todo o país.
Israela Ramos
Fontes:
https://www.ufpb.br/cca/contents/noticias/nota-de-faleciamento-profa-nyedja-do-nascimento-silva