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Data de publicação do verbete: 03/04/2023

Palacete dos Pereiras

O Palacete do coronel José Pereira localizado em frente a Praça Epitácio Pessoa em Princesa Isabel, é mais conhecido como “Palacete dos Pereiras”.
Data de publicação: abril 3, 2023

Construção: década de 1920

Estilo Arquitetônico:   português

Localização: Praça Epitácio Pessoa, 243 – Centro – Princesa Isabel – PB

Proprietário Original: coronel José Pereira

Uso Atual: sede da APLA (Academia Princesense de Letras e Artes)

Eventos: Projeto Casa-Museu, Sarau no Palacete e Sarauzinho

O Palacete do coronel José Pereira localizado em frente a Praça Epitácio Pessoa em Princesa Isabel, é mais conhecido como “Palacete dos Pereiras”, acomoda não apenas mosaicos austríacos e imensos janelões, entre paredes grossas e terraços exuberantes. Nele reside, principalmente, a história de uma família que dedicou sua vida pelo desenvolvimento da terra natal. Tudo começou quando o membro de uma das principais famílias nordestinas, o senhor Epitácio Pessoa de Queiroz (Epitacinho), sobrinho do ex-Presidente da República, o senhor Epitácio Pessoa, cometeu um crime passional em Recife, assassinando o médico Bandeira de Melo, casado com uma prima legítima do senhor João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, que seria, depois, Presidente da província paraibana. Epitacinho, após o ato delituoso, refugiou-se em Princesa Isabel, sob a proteção do amigo próximo, o coronel José Pereira Lima. É necessário lembrar que este crime e a atitude solidária do coronel tocaram, profundamente, a família do ex-ministro e ex-governador paraibano, João Pessoa.

O coronel, de forma cortês, como era seu costume, informou ao hóspede assim como ao seu irmão, compadre do coronel, o industrial José Pessoa de Queiroz, que receberia o foragido, da melhor maneira possível, até que o crime fosse julgado. Naturalmente, como adiantou o coronel, a depender da sentença final, transitada em julgado, o amigo permaneceria ou não, em suas terras. Epitacinho e a família, seguros dos seus direitos, aceitaram as condições. Em sua estada em Princesa Isabel, o visitante, para seu melhor conforto e sob orientação do seu irmão, resolveu construir uma casa, segundo o seu estilo e de acordo com suas expensas, que não eram poucas. Contratou o artesão e construtor José Ferreira Dias, conhecido como “Ferreirão”, famoso em toda a região, por ter construído obras importantes, como a belíssima igreja de Triunfo – PE.

Ergueu-se, assim, um palacete com 46 portas e janelas, piso em mosaico trazido da Áustria (em baixo relevo), cinco quartos, salas de refeições, terraços, salas de recepção, cozinha, área de serviço e garagem externa, duas vezes maior à área construída. Após alguns anos, Epitacinho foi absolvido do crime, e resolveu retornar a sua terra natal, Recife, mas guardou consigo o patrimônio nas terras revolucionárias paraibanas. Depois de algum tempo, o seu irmão José Pessoa de Queiroz, julgando desnecessária a manutenção do imóvel em nome da família e determinado a restituir o enorme favor prestado pelo seu amigo, o Coronel José Pereira, resolveu presentear, com o palacete, a sua afilhada, Luiza Pereira Lima, filha primogênita do coronel e irmã mais velha do ex-deputado estadual e ex-secretário de Estado da Saúde, o médico Aloysio Pereira Lima.

Nessa edificação grandiosa e charmosa, construída na década de 20, do século passado, residiram membros das famílias mais importantes do Nordeste. Hospedaram-se ou foram recebidas figuras ilustres como coronéis, governadores, prefeitos, artistas, empresários, políticos diversos e personalidades valorosas, como Alcides Carneiro, Canhoto da Paraíba e Ariano Suassuna. Sua história é maior e mais admirável que suas curvas e desenhos arquitetônicos. Está ligada à memória do povo brasileiro e por isso desfez-se o seu caráter pessoal, individual, particular. O objetivo primordial de sua existência é público, coletivo, devendo ser amado, preservado e compartilhado, sob a égide dos Poderes Públicos, especialmente, Estadual e Federal, pois possuem recursos disponíveis.

Além de residência do Coronel José Pereira, por um breve período após a anistia, o Palacete, durante a famosa guerra ocorrida em de 1930, que alguns chamam de “Revolta de Princesa”, serviu de Hospital de Sangue, onde se salvaram inúmeros combatentes princesenses, além de membros da polícia paraibana, que o coronel ordenava tratar com enorme respeito e atenção. Esse procedimento fez com que muitos aderissem à causa daquele povo sertanejo, que se insurgia contra o governo paraibano. O “Palacete dos Pereiras”, apesar das intempéries e da utilização ininterrupta, mantém-se erguido e majestoso, mas precisa, naturalmente, de atenção e carinho.

Dona Luizinha, como era conhecida a filha do coronel, foi uma dedicada dona de casa e habitou com o seu esposo no palacete até sua morte, em 27 de maio de 2002. O seu amado companheiro, Gonzaga Bento, faleceu após três meses, em 05 de setembro do mesmo ano. Gonzaga foi vereador do município por dois mandatos, foi vice-prefeito, Prefeito da cidade de Tavares (sua terra natal), e ainda três vezes Prefeito de Princesa. Nunca perdeu uma eleição e apesar de não ter o sangue, foi Pereira tanto quanto os que tinham, pois nunca deixou ser derrubada a bandeira política de seu sogro, o Coronel José Pereira. Após a morte dos proprietários, o Palacete e todo o espólio foram repassados aos herdeiros Rosane e Humberto, filhos de Gonzaga e Luizinha. Posteriormente, em conseqüência da conclusão da Ação de Inventário, a casa foi registrada em nome de Rosane Pereira de Sousa Soares, atual proprietária, que vem a ser, portanto, neta do Coronel José Pereira Lima e sua esposa Alexandrina Pereira Lima (Dona Xandú).

Em 2019, um grupo de escritores, intelectuais, professores, artistas e interessados na preservação da história e cultura princesense, reunidos no Palacete dos Pereiras, constituíram uma reunião preliminar objetivando a criação e instalação da  Academia Princesense de Letras e Artes, a edificação passou a funcionar como sede da APLA.

Casa-Museu

O projeto da Casa-Museu no Palacete dos Pereiras, é uma iniciativa da APLA que se dá, por este ser um dos prédios mais históricos do Nordeste, pois se liga diretamente as grandes oligarquias, ao coronelismo e até mesmo ao cangaço. Possui um rico mobiliário que pertenceu ao Coronel José Pereira e ao seu sogro e cunhado, o Coronel Floro Diniz, famoso amigo de Lampião, rei do cangaço, e pai de Marcolino Diniz, imortalizado no baião de Luiz Gonzaga: Xanduzinha. Essas histórias que fascinam os visitantes que procuram saber mais sobre a rica história da cidade. Fora isso, o próprio prédio, construído pela poderosa família Pessoa de Queiroz, sobrinhos do Presidente Epitácio Pessoa, foi edificado seguindo os moldes da renovação arquitetônica implementada nas capitais brasileiras no início do século XX, com detalhes em Art Noveau, destoando do casario em estilo português tão comum no sertão da Paraíba. Somados, prédio e mobiliário, oferecem um excelente lugar para turistas, estudantes e a própria comunidade, descobrirem sobre a riqueza de sua história e a importância da preservação. Princesa Isabel é uma das cidades mais históricas da Paraíba e do Nordeste. Sua participação nos eventos que antecederam a “Revolução de 1930” a colocaram no cenário nacional e internacional, quando se auto proclamou independente do Estado da Paraíba e inicia, liderado pelo Coronel José Pereira, a Revolta de Princesa, movimento armado que tinha por finalidades tirar do poder o então Presidente (governador) da Paraíba, João Pessoa.

Sarau no Palacete e Sarauzinho

O Sarau no Palacete acontece com regularidade bimestral, mas pode haver edições extras caso exista necessidade de abrir espaço para algum artista ou debater algum tema. Neste evento, há uma soma de diversas expressões artísticas em torno de um tema previamente escolhido (exemplo do tema do mês de março: Sertão Mulher em Movimento, evento montado e apresentado por mulheres). Durante o evento ocorre lançamento de livros, exposição de fotografias ou exposição de pinturas, cordel de poesia com dinâmica interativa para o público, Recital de poesias autorais e show musical com músicos da região. Também é dado acesso, durante o evento, as dependências da Casa-Museu para que o público, vindo de outras cidades, tenha um conhecimento com mais amplo das atividades da APLA. Também é aberto espaço para artesãos façam comercialização dos seus produtos durante o evento na área externa do Palacete.                                                                                        

O Sarauzinho é um projeto que nasceu a partir do Sarau no Palacete, várias pessoas procuraram a organização manifestando a intenção de participar das apresentações e do varal, mas não tinha segurança sobre sua escrita ou não tinha espaço em sua casa para se dedicar a arte (sobretudo mulheres vítimas do machismo). Diante disso, o Sarauzinho foi pensado com uma proposta didática e funciona como uma oficina de escrita e poesia. Através de dinâmicas e atividades em grupo, estimulando os participantes a escrever e socializar seus trabalhos. Atualmente o grupo é composto por pessoas de diversas idades, gêneros e níveis de escolaridade, o que tem proporcionado uma rica troca de conhecimento e enriquecimento na produção literária.

Jonas do Nascimento

Fontes:

http://cariricangaco.blogspot.com/2015/03/um-coronel-e-o-seu-palacio-porthiago.html

https://www.academiaprincesense.org/apla/palacete-dos-pereiras