Pesquisa e texto: Maria Clara Marques
Localização: Conde-PB
Líder da Comunidade: Mestra Ana
Instagram: @quilombo_ipiranga_
O Quilombo Ipiranga, localizado no município de Conde, Paraíba, é uma comunidade quilombola que há mais de 200 anos mantém a cultura, as tradições e a autonomia econômica de seus habitantes. Formado inicialmente por sete famílias, entre elas a ancestral de Ana Lúcia do Nascimento, conhecida como Mestra Ana do Coco, o quilombo é hoje lar de 137 famílias. Com agricultura familiar e artesanato como principais fontes de renda, o Quilombo Ipiranga destaca-se pela força de sua cultura, pela produção sustentável e pela autonomia feminina na comunidade.
A agricultura é a base econômica da comunidade, com plantações de frutas como coco, manga, banana, fruta-pão, sapoti e caju, que garantem a subsistência de cerca de 80% das famílias. A prática da agricultura familiar, aliada ao cuidado com a terra, reflete a sabedoria ancestral e a preservação do território. A terra fértil do Ipiranga proporciona safras abundantes, permitindo o comércio contínuo e sustentável dos produtos.
Para os que não atuam diretamente na agricultura, as fontes de renda variam: a produção de biojoias, o artesanato com sementes nativas e a elaboração de licores e remédios naturais complementam a economia local. A comunidade aproveita a diversidade de recursos naturais para criar produtos que preservam e valorizam a cultura quilombola. Exemplo disso é a produção do óleo de batiputá, um produto sagrado para a comunidade, conhecido por suas propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes. O óleo é extraído em um processo tradicional e colaborativo, liderado por Mestra Ana e outras mulheres do quilombo.
A autonomia das mulheres é um dos pilares da economia no Quilombo Ipiranga. Seguindo o exemplo de Mestra Ana, as mulheres da comunidade são incentivadas a buscar independência financeira. A produção do óleo de batiputá, por exemplo, é uma atividade exclusiva das mulheres e tem grande valor econômico. Esse óleo é feito de sementes de árvores nativas e vendido por um valor significativo devido à sua escassez e ao longo processo de produção.
Mestra Ana, além de líder da comunidade, é também responsável pela produção de biojoias e acessórios da marca Duá. A confecção de biojoias com elementos naturais do território é uma forma de preservar a identidade quilombola e garantir uma fonte de renda, especialmente para as mulheres que não estão envolvidas diretamente na agricultura. A venda dos produtos acontece no Mercado de Artesanato do Gurugi, em Conde, onde se reúnem quilombolas de outras comunidades para vender alimentos, biojoias e produtos artesanais.
O Quilombo Ipiranga tem uma forte conexão com suas raízes culturais e históricas, evidenciada na transmissão de conhecimentos entre gerações. Mestra Ana do Coco e outras lideranças se dedicam a preservar as tradições quilombolas, como as técnicas de plantio e colheita, o uso medicinal das plantas locais e a produção de itens sagrados, como o batiputá. A cada ano, mulheres da comunidade realizam a colheita das sementes do batiputá na Quarta-feira de Cinzas, em um ritual que simboliza a conexão com a terra e a continuidade das práticas ancestrais.
A ancestralidade é ainda mais evidente na união das comunidades quilombolas vizinhas de Gurugi e Mituaçu, com as quais o Ipiranga compartilha práticas e mercados. Juntos, os quilombos formam uma rede de apoio e colaboração, fortalecendo a autonomia econômica e preservando a cultura afro-brasileira no estado da Paraíba. Em eventos e encontros comunitários, como os realizados no Mercado de Artesanato do Gurugi, os quilombolas encontram um espaço para compartilhar saberes, comercializar seus produtos e reforçar o sentimento de pertencimento.
Reconhecido oficialmente como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares, o Quilombo Ipiranga mantém viva a luta por seus direitos e pela preservação de seu território. A certificação garante o reconhecimento da importância histórica e cultural da comunidade, além de fortalecer a luta por políticas públicas que promovam a inclusão e o desenvolvimento sustentável do quilombo. A comunidade, que já enfrentou tentativas de descaracterização, permanece como um símbolo de resistência e é um exemplo da resiliência e da riqueza cultural das comunidades quilombolas no Brasil.
Fontes:
https://globoplay.globo.com/v/3766825/
https://auniao.pb.gov.br/noticias/economia/tradicao-secular-inspira-e-gera-renda
https://www.instagram.com/quilombo_ipiranga_/