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Data de publicação do verbete: 21/10/2020

Rafael de Carvalho

Ator e cordelista.
Data de publicação: outubro 21, 2020

Naturalidade: Caiçara-PB

Nascimento: 16 de fevereiro de 1918

Falecimento: 2 de maio de 1981 (63 anos)//Salvador, BA

Atividades artístico-culturais: Ator e cordelista

Conhecido por participar de clássicos do cinema e da TV brasileira, ele também se aventurou pela música, pelo teatro e pela cultura popular. O que pouca gente sabe é que Rafael é paraibano. Rafael de Carvalho, nascido em 06 de fevereiro de 1918, no Sítio Pedra Tapada, em Caiçara, na Paraíba, foi um ator e cordelista. Desde criança, Rafael se identificava com a cultura popular, especialmente com os emboladores, os folhetos de cordel e manifestações folclóricas como o Bumba-meu-boi.

A família dependia da agricultura e por volta dos 16 anos, devido a uma grande seca e a desentendimentos com o pai, Rafael “ganhou o mundo”.  Serviu ao exército em Pernambuco, onde iniciou suas atividades em rodas de samba para os colegas durante o plantão, oportunidade em que foi visto pelo mestre da banda de música e aconselhado a aprimorar seu talento com aulas de canto.

Aos 19 anos de idade, Rafael foi dispensado pelo exército e ao invés de voltar para a enxada na Paraíba, foi tentar ganhar a vida com o seu talento em Salvador. Na capital baiana, ia se virando como podia e chegou a passar fome, iniciou seus estudos ao ingressar em aulas de canto, com o Professor Luiz Jatobá, que posteriormente se tornaria um dos maiores locutores da América. Na Bahia, produziu seus primeiros cordéis, participou e organizou suas primeiras peças teatrais.

Os dez anos na Bahia também foram decisivos para a sua trajetória política. Foi lá que ele assistiu a um discurso de Luiz Carlos Prestes. As ideias do “Cavaleiro da Esperança” fizeram com que Rafael se decidisse pela defesa dos ideais do Comunismo. Rafael foi militante do Partido Comunista, atuou em movimentos da UNE, de grupos de artistas de esquerda e foi um dos poucos a usar o cordel com fins políticos. Foi perseguido e preso pelo Regime Militar.

Na capital baiana, venceu festivais interpretando seus poemas, o principal foi o prêmio maior de poesia da Academia de Letras da Bahia, com um poema em homenagem ao centenário do nascimento de Castro Alves – prêmio que quase não pode receber por não ter um terno para ir à solenidade de entrega. Um diferencial na sua trajetória foi a participação no programa do humorista Zé Trindade, onde se apresentou como calouro e ganhou um concurso, surgindo também assim a oportunidade de mostrar o seu talento no Rio de Janeiro. Em 1947, foi para o Rio de Janeiro e estreou sua carreira profissional. 

Foi no Rio de Janeiro que Rafael construiu uma biografia que orgulha toda a Paraíba. Atuou na TV, no cinema, no teatro, compôs, cantou, fez repente, escreveu livros, cordéis, além de uma militância em defesa da cultura popular e dos ideais socialistas. 

CINEMA

Rafael atuou em 35 filmes dos mais variados estilos como musicais, pornochanchadas, comédias, infantis, adaptações de obras literárias, etc. Da sua filmografia destacamos: Terra em Transe (1967), O Homem Nú (1968), Macunaíma (1969), O Pica-pau Amarelo (1972), O Trapalhão na Ilha do Tesouro(1975), Fogo Morto (1976), A Noiva da Cidade (1979), Eles não usam Black Tie (1981), O Homem que Virou Suco (1981), Dôra Doralina (1982) e O Baiano Fantasma (1984). Contracenou com comediantes de várias gerações como Procópio Ferreira, Oscarito, Ankito, Grande Otelo, Chico Anísio e Renato Aragão.

TELEVISÃO       

Com sua voz possante e um rosto gorducho que mal deixava ver seus pequenos olhos, Rafael também se imortalizou na televisão. Começou participando de vários programas da extinta TV Excelsior como “A Cidade se Diverte” e “Coral dos Bigodudos”, em alguns desses já interpretava um de seus personagens mais populares o “Capacidade”. O personagem fez grande sucesso na TV Rio, no programa “Noites Cariocas”. Depois, na TV Tupi, se destacou em papéis como o do prefeito Torquato, de “Chico City” (programa de Chico Anysio). Sua estreia em novelas se deu na Rede Globo na antológica “O Bem Amado” (1973), depois atuou em “Gabriela” (1975) e “Saramandaia” (1976). Participou ainda da primeira versão de Roque Santeiro que começou a ser gravada em 1975, mas a censura do governo militar a proibiu de ir ao ar. Depois, na TV Bandeirantes, participou das novelas “Cavalo Amarelo” (1980) e “Rosa Baiana”(1981). 

MÚSICA

O caiçarense também se destacou no meio musical. Em 1951, a cantora Ademilde Fonseca, a “Rainha do Chorinho”, gravou uma música composta por ele chamada “Arrasta-pé”. No mesmo ano a cantora Belinha Silva gravou “Piaba”, um coco de sua autoria. No ano seguinte Rafael a assinou contrato com a gravadora Todamérica, pela qual lançou três discos. Uma das músicas dessa época foi “Adeus Caiçara”, uma homenagem a sua terra natal. Depois, contratado pela Columbia, gravou mais dois discos (1960/1961). Fez também participações no disco do sanfoneiro Abdias (1961), no LP lançado pelo Centro de Cultura Popular da UNE, intitulado “O Povo Canta” e no LP “Brincando o Carnaval”. Em 1971, lançou o LP “Boi da Paraíba” e, em 1973, em parceria com o artista Wilson Aguiar, conhecido por “Cheiroso”, produziu o LP “Emboladas, Cocos e Desafios”, nele consta a música “Vitalina bota pó”. Participação na coletânea “O Melhor da música regional do Norte e do Nordeste” (1975). O LP do espetáculo “Revista do Henfil” traz sua última participação. 

TEATRO & ESPETÁCULOS

Os palcos também sempre estiveram presentes na sua vida, seja nas peças teatrais, seja nos espetáculos. São de sua autoria as peças: Brasil de Ponta a Ponta; Forró Xaxado 2000; As Loucuras dos Aquanautas; Estórias para Gato nenhum botar Defeito; Abruacadabra, a Bruaca Encantada; e É Muito Socó pra um Socó só Coçar. Atuou em espetáculos históricos como Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come (1966), Os Saltimbancos (adaptação de Chico Buarque) e Revista do Henfil(1978). Atuou também nas peças O Araponga, A Pena e a Lei, dentre outras. 

CULTURA POPULAR

Entre suas características marcantes estavam a sua identificação com o folclore, com a cultura popular e seu engajamento nas causas que acreditava. As apresentações do seu “Boi de Reis” chamaram muita atenção dos cariocas. A maior conquista do seu empenho se deu em 1965, quando um movimento encabeçado por ele fundou o Centro de Estudos Folclóricos Edson Carneiro. O cerne do atual Museu do Folclore do Rio de Janeiro, o maior do gênero em todo o país. Como escritor e pesquisador do folclore, lançou em 1971, acompanhando o LP, o livro “Boi da Paraíba”. A poesia, no entanto, é o ponto forte da produção literária do artista. Escreveu o livro “Cantos de Esperança” (1951). Chegou a presidir a Associação Brasileira de Cordelistas. Foi autor de cerca de vinte títulos e na maioria deles transmitia os ideais socialistas para o “povão”. Amigo de Francisco Julião, Rafael adaptou para a linguagem do cordel os ideais das Ligas Camponesas no livreto “Carta de Alforria do Camponês”. Como colunista do jornal carioca “Última Hora”, narrava as notícias do momento na forma de versos, suas famosas “quadras”. Em 1978, parte dessas colunas foram reunidas e formaram o livro “Quadra e Quadrilha”.

Morreu vitimado por enfarte, em 02 de maio de 1981, logo depois de encerrar as filmagens de O Baiano Fantasma, de Denoy de Oliveira. Também estava atuando na novela Rosa Baiana, na trama ele era o personagem Edmundo Lua Nova e seu personagem abandonou sua família que voltaria no último capítulo em sua homenagem pelo seus colegas e Lauro César Muniz guardou para o último capítulo. Rafael de Carvalho é pai da dubladora Nádia Carvalho.

Desde 2010, Jocelino Tomaz, presidente do “Grupo Atitude”, coletivo que há 15 anos promove voluntariamente a leitura e a cultura em Caiçara-PB, se empenha em resgatar registros da vida e da obra de Rafael e promover eventos sobre ele. Em 2011, uma exposição repercutiu em toda a Paraíba; em 2014, foram lançados o cordel “Rafael de Carvalho, o Multiartista Caiçarense”, de Bartolomeu Xavier, e o documentário “Rafael de Carvalho, Um Multiartista Sonhador”, de Layse Jullyane; Três matérias de TV foram produzidas; foi capa da revista “Correio das Artes” (abril/2016); mostras de cinema; em 2018, seu centenário foi marcado por um sarau da Academia de Cordel do Vale do Paraíba, em João Pessoa – PB. Essas, segundo Jocelino Tomaz, são algumas ações para que o mesmo venha a ocupar o lugar que lhe é devido entre os grandes nomes da cultura paraibana. 

Fonte: 

Entrevista com o Ativista Cultural e Pesquisador Caiçarence Jocelino Tomaz de Lima por Israela Ramos

 

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