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Data de publicação do verbete: 17/08/2022

Seca de 1877 na Paraíba

De 1877 a 1879, durante o período imperial, ocorreu o maior fenômeno natural de seca já vista na história do Brasil. Morreram cerca de 500.000 pessoas de fome e sede em todo o nordeste.
Data de publicação: agosto 17, 2022

História

De 1877 a 1879, durante o período imperial, ocorreu o maior fenômeno natural de seca já vista na história do Brasil. Morreram cerca de 500.000 pessoas de fome e sede em todo o nordeste. Nessa época a região era povoada por cerca de 1.750.000 habitantes, segundo Otamar de Carvalho.  A província do Ceará foi a localidade mais afetada. Foram três anos seguidos sem chuvas, sem colheita, sem plantio, com perda de rebanhos e com a fuga das famílias, deixando despovoado o sertão. Este evento está intrinsecamente ligado ao El Niño.

O fenômeno El Niño interfere diretamente nas condições climáticas de determinadas regiões brasileira. No Brasil a variação no volume de chuvas e/ou outras mudanças depende de cada região e da intensidade do fenômeno. Além disto, a seca no nordeste se dá como um fenômeno físico e climático, os dias são intermináveis de verão, estação das ausências de chuvas no sertão, já que na região costuma-se chover apenas 4 meses no ano, em condições climáticas comuns. Outro fator causador da seca no nordeste é a alta evapotranspiração, decorrente das altas temperaturas e irradiação constante do sol, evaporando as águas do solo e da vegetação local.

Durante a tragédia nordestina, cidades empórios do interior e as litorâneas tornaram-se centro receptores para a multidão de miseráveis. Corpos famintos e com extrema sede caíam enfraquecidos para morrer nas areias quentes dos rios e riachos secos. O drama atingiu todo o país. Os retirantes das secas ocupavam praças, ruas, pátios das igrejas e casas das maiores cidades nordestinas e brasileiras. Cidades como Fortaleza, Mossoró, Campina Grande, João Pessoa e Recife tornaram-se os principais centros de parada dos famintos. Os adultos iam montados nos cavalos seguidos pelos carros e bois cheios de mulheres, crianças e bagagens, tendo na retaguarda os vaqueiros e os ajudantes conduzindo o que restara do gado. Os pobres seguiam a pé, na poeira das estradas, os adultos levando as crianças menores, puxando o que restava do rebanho de cabras ou vacas, o cachorro de estimação atrás. Esses eram chamados de retirantes ou flagelados, que eram perseguidos e expulsos quando estacionavam nas vizinhanças de um povoado.

Tamanha devastação apavorou o Império, que após a tragédia começou a se preocupar com o assunto. O imperador D. Pedro II chegou a proferir tais palavras: “Não restará uma única joia na Coroa, mas nenhum nordestino morrerá de fome”. Após isso, criou-se uma comissão imperial para desenvolver medidas que pudessem atenuar os efeitos das secas.  Da adaptação de camelos, construção de ferrovias, açudes e a abertura de um canal para levar água do Rio São Francisco para o Rio Jaguaribe, no Ceará, muito pouco saiu do papel.

A economia provincial, já abalada pela crise do algodão, quase acaba de vez. Escravos são vendidos para o sudeste; os rebanhos, salvo algumas cabeças conduzidas pelos retirantes, eram dizimados pela ação das zoonoses, furtos, extravios, fome e sede. A flora e fauna praticamente desaparecem; as lavouras exterminadas. Para agravar o quadro de tragédia, um surto de varíola dizimou milhares de pessoas. Mulheres se prostituem em troca de comida, multiplicam-se os casos de roubo, furto e estupros.

Na cultura tal evento influenciou fortemente no modernismo, na década de 20, movimento que buscava resgatar as culturas do Brasil e interpretar seu povo, intensificando-se mais ainda no regionalismo nas décadas seguintes, tornando a seca como ela sempre foi, um instrumento político e ideológico. Precedendo o movimento, houve a obra de José Américo de Almeida, A bagaceira. Na literatura regionalista destacaram-se os trabalhos de Graciliano Ramos, Raquel de Queiroz e Jorge Amado. Na poesia, o poema de João Cabral de Melo Neto, Morte e vida Severina. No teatro Ariano Suassuna, com O Auto da Compadecida, comoveu o país. No cinema, os filmes de Nelson Pereira dos Santos, posteriormente, os de Glauber Rocha. Na música o destaque se dá a difusão do regionalismo por Luiz Gonzaga e a retratação da seca em Asa Branca.

Euclides Costa

Fontes:

Costa, Jose – Seca, Pobreza e Desertificação na Paraíba

https://www.scielo.br/j/hcsm/a/ynZxC9TkBJS5GdCnjKXmGKd/?lang=pt

https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Seca

https://www.scielo.br/j/hcsm/a/rScTwkHxRWxn9mFzY8FgqRq/?lang=pt