Laura Moura
A Mostra “Dos Brasis – Arte e pensamento negro” retrata a pluralidade do pensamento negro de artistas visuais afro-brasileiros de diferentes tempos e lugares. Aberta para visitação desde o início do mês, a exposição permanece em cartaz até o dia 28 de janeiro, no Sesc Belenzinho, em São Paulo. Dentre as mais de 380 obras expostas estão também produções de 6 artistas paraibanos: Babilak Bah (João Pessoa/PB), Cris Peres (João Pessoa/PB), Flaw Mendes (Campina Grande/PB), Labirinteiras – Quilombo Pedra D’Água: Dona Maria Marta (Ingá/PB), Li Vasc (João Pessoa/PB) e Tiago Costa (Bananeiras/PB). A partir de 2024 parte da mostra circulará em espaços do Sesc por todo o país pelos próximos dez anos.
Com diversos tipos de linguagens artísticas, desde pinturas e esculturas até videoinstalações, a maior exposição dedicada exclusivamente à produção afro-brasileira conta com a participação de 240 artistas negros de diferentes estados. Concebidas desde o fim do século XVIII até o século XXI, as obras de homens e mulheres cis e trans prometem reflexões sócio-raciais, homenageando também grandes referências na defesa desses ideais, como Luiz Gama e Lélia Gonzalez.
Idealizada em 2018, a mostra surgiu a partir do desejo de conhecer, dar visibilidade e promover a produção afro-brasileira, com uma atenção especial à descentralização das capitais e abertura para cidades do interior e comunidades quilombolas. Com curadoria geral de Igor Simões, em parceria com Lorraine Mendes e Marcelo Campos, as obras selecionadas são o resultado de uma pesquisa de 5 anos com consultas que se desenrolaram em atividades e programas como palestras, leituras de portfólio, exposições, entre outras ações com foco local.
Paraibana e artista visual, Cris Peres participa da mostra com sua obra “Territorialidades Residuais”, na qual percebe objetos ordinários como forma de ressignificação simbólica. Com uma gravura preta e branca e três objetos em gesso em exposição, ela diz que reconhece essas impressões tridimensionais como gravuras-objeto. Seja a partir do plástico em descarte ou gesso, Peres busca não só se expressar artisticamente, mas também provocar uma reflexão social a partir de suas inquietações relacionadas ao vazio social, provocados em sua visão pela cultura de massa, capitalismo e efemeridade. A artista ainda destaca a significância desse evento e, apontando a exposição como um grande ensaio para causas urgentes, visto sua pontualidade e integralidade.
“O significado da participação em uma exposição de abrangência nacional é fundamental para pensar as relações das artes visuais fora do eixo. Para mim especificamente é um momento de grande satisfação de poder integrar o numeroso grupo de mais de 240 artistas que marcam de certo modo, uma fatia da produção feita por artistas negros/es. Se sentir integrado a algo/tema/grupo é muito importante para o fortalecimento da pesquisa, e mais do que isso, confere movimentação e visibilização da Paraíba em âmbito coletivo no circuito das artes visuais.”
Por fim, Peres comenta um pouco sobre a sua percepção da atual situação das artes visuais no Brasil, evidenciando também as dificuldades dos artistas para se enquadrarem neste âmbito que, quando não excludente, é pouco valorizado.
“Acredito que ainda há um grande caminho a ser trilhado para o fomento e manutenção das artes visuais no Brasil, tendo em vista a urgência em estabelecer políticas públicas que possam contemplar um raio maior de alcance de produções que estão fora dos grandes centros de interesse mercadológico. Ser artista no Brasil é um ato de coragem, muitas vezes semelhante a rebeldia, pensando nas camadas interseccionais que envolvem raça, gênero, geografia e parâmetros socioeconômicos podemos pensar que as produções não se limitam ao que se vê, produz e formata como sendo o eixo de poder do país. Existe produção para além da bolha do mercado, e essa grande mostra ambiciona esse olhar integrativo e próximo do que pode ser mais justo.”
Em funcionamento de terça a sábado, das 10h às 21h e, em domingos e feriados, das 10h às 18h, o Sesc Belenzinho possui rampas, elevadores, piso tátil, banheiros adaptados e outros equipamentos acessíveis. A entrada da exposição é gratuita.
Serviço
Evento: Mostra “Dos Brasis – Arte e pensamento negro”.
Data: Aberto para visitação até o dia 28 de janeiro.
Local: Sesc Belenzinho, São Paulo.
Ingresso: Gratuito.