Fernanda Heloísa
Nesta semana foi comemorado o Dia Nacional do Quadrilheiro Junino. O dia 27 de junho é marcado pela data comemorativa instituída pelo Senado Federal desde 2017. Com uma mistura única de dança, música, teatro e figurinos característicos, as quadrilhas juninas desempenham um papel fundamental na preservação e promoção da cultura e identidade paraibana.
Todos os anos, dezenas de quadrilhas juninas se apresentam em toda a Paraíba, celebrando os festejos do mês junino e perpetuando a tradição nordestina. A Quadrilha Junina Ubando é uma delas, a vice-campeã do XX Concurso Paraíba Junino 2023 é nomeada em referência ao bando de Lampião. Como uma ideia de comunidade, surgiu o nome ‘O Bando’, que se tornou, por fim, ‘Ubando’, carregando o lema ‘Eu não ando só e não faço nada só, é tudo com meu bando’.
Em comemoração ao Dia do Quadrilheiro, Pedro Lázaro, Diretor Artístico da Junina Ubando e quadrilheiro há mais de 23 anos, falou ao Paraíba Criativa um pouco mais desse universo junino e de sua experiência:
Fernanda Heloísa – Conta um pouco da tua trajetória no universo das quadrilhas.
Pedro Lázaro – Comecei no ano 2000 (aos 12 anos) dançando numa quadrilha de bairro na categoria infantil, mas aos 13 anos, no ano seguinte, já estava dançando na adulto. Em 2002, aos 14 anos, comecei em uma quadrilha profissional e fiquei nessa quadrilha até o ano de 2017. Nos dois anos seguintes, participei de duas quadrilhas distintas até que veio a Pandemia. Já na Ubando, estou desde a fundação como diretor artístico, coreógrafo e marcador, me apresentando desde o ano da “live” (2021, ano da pandemia), 2022 e este ano como vice campeã paraibana em um trabalho autoral.
FH – Você consegue lembrar qual o momento mais especial que você já presenciou sendo marcador de quadrilha?
PL – Em 2022, eu não seria o marcador, e com três dias à véspera do concurso, precisei marcar a quadrilha para suprir uma necessidade que nos ocorreu, então fiz o trabalho sem ensaiar com a quadrilha, apenas praticando em casa. Entre as notas, tive algumas notas 10,0 e outras abaixo, porém, ao final do resultado que nos consagraria campeã do grupo B de João Pessoa, três dos cinco jurados desceram para me cumprimentar e antes que eu pudesse justificar minha falha no quesito marcador, os três disseram em conjunto: “Era pra ser você e tudo aconteceu pra isso. Busque melhorar em tudo que identificamos e ano que vem, você não terá nenhuma nota que não seja 10.0. Alguns marcadores trabalham muito duro para isso, mas você nasceu com esse dom e se hoje você marcou a quadrilha, é porque você faz tudo isso parecer muito fácil.” Sem dúvidas, este foi o momento mais especial que presenciei sendo marcador. Por fim, no ano seguinte, em 2023, todas as minhas notas foram máximas em marcador, sendo até critério de desempate contra a colocada que ficou abaixo de nós na etapa municipal.
FH – Como você concilia a sua vida profissional e pessoal com os compromissos (que são muitos, especialmente nesse mês) da quadrilha? Fala um pouco da dedicação que é preciso ter para estar num projeto como esse.
PL – Essa é a parte mais difícil de se fazer quadrilha porque requer muito tempo, dedicação e principalmente condições financeiras. Não podemos só viver de quadrilha, como não podemos só viver de cultura. Profissionalmente, busco conseguir férias que ocorram neste período para ter uma dedicação maior e esta é uma das saídas que busco quanto ao meu dia a dia no trabalho.
Já na quadrilha, o projeto começa ainda em agosto/setembro e a dedicação vai de um pensamento, uma noite, um encontro no bar, uma visita a um museu, uma cidade… e a ideia vai surgindo. Com os meses vem as pesquisas, mais estudos e chega a hora de ligar todos os pontos para não haver brechas. Então, em um longo prazo, vamos encontrando tempo num final de semana, numa noite, numa folga, num feriado e fazendo encontros presenciais e virtuais com a diretoria para tudo ficar alinhado e começar a colocar em prática todo o projeto idealizado.
FH – Quais os aprendizados que você consegue tirar desses anos de experiência? Isto é, não só com a experiência pessoal, mas com os colegas, com as competições e com todo esse universo junino?
Nem tudo são flores e na quadrilha não seria diferente. Mas sem dúvidas os colegas e amigos que fazemos, são para uma vida. Ganhar e perder faz parte, então meu objetivo como líder é sempre levar meu trabalho para o público e entregar o que eles querem. Gosto de pensar mais neles do que quanto aos jurados e por isso eu penso “fora da caixa” saindo do convencional.
A minha ousadia e diferença nos meus trabalhos animam uma plateia que nos rende os mais sinceros gritos e aplausos e esta é minha maior conquista junto dos meus. As notas e títulos dos jurados são consequências de tudo isso. Desde que façamos a arquibancada gritar, a colocação pode ser da primeira à última que eu já me sinto satisfeito. Não tem aprendizado melhor do que este que eu poderia passar para todos neste universo junino.
FH – Como você imagina o futuro da Ubando?
PL – A Ubando deu um salto gigante, desde sua fundação até o grupo A, e rapidamente se tornando vice-campeã paraibana em seu ano de estreia do grupo A de João Pessoa. Eu imagino o futuro da Ubando pelo caminho de pensar além do normal, sendo ousada, criativa, cheia de adereços e cenários bem inseridos, nada estático e muito funcional, que a Ubando traga sempre a alegria das cores e se reinvente a cada ano, que dance do tradicional ao estilizado, mas que nunca perca sua essência que hoje está criada. Que fale do A ao Z, mas que tudo esteja sempre dentro do contexto junino. É isso que imagino para o futuro da Ubando para quem vier assumir a direção artística da quadrilha, pois seria assim que eu faria.