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Registro das artes e culturas da Paraíba
Elizabete nos relata que, enquanto seu marido, João Pedro, era vivo, ela não apreciava a vida de militante que ele levava. Não era contra, mas não aceitava facilmente abrir mão dos pequenos prazeres que desejava e que lhe eram roubados pela luta. Elizabete não se conformava em ver João Pedro empreender longas caminhadas aos domingos, após o almoço, para encontrar-se com os camponeses de outros sítios, às vezes muito distantes. Ela gostaria de vê-lo descansando na rede, depois do almoço, aproveitando as tardes domingueiras para repousar das lidas da semana, ou simplesmente para ver o tempo passar. Mas João Pedro não lhe dava ouvidos, calçou suas sandálias e ia ao encontro do seu destino de liderança camponesa.
Tantas vezes, relembra ela, João Pedro lhe perguntou se ela continuaria a sua luta, pois sentia que o latifúndio estava apertando o cerco em torno dele. Mas ela sempre se calou.
Na semana em que foi assassinado, ele voltou a lhe perguntar: "Elizabete, se eu morrer, você promete que continua essa caminhada?" Mais uma vez, ela nada lhe respondeu.
No dia em que foi assassinado, ao ver seu corpo sem vida sobre a pedra fria, tendo o rosto ainda sujo pela terra da estrada misturada ao seu sangue mártir, Elizabete olhou bem para seu marido e lhe disse: "João Pedro, a partir de hoje, eu marcharei na tua luta!"
Ainda hoje, com mais de setenta anos de idade, Elizabete se mantém fiel ao seu juramento de lutar para que a reforma agrária aconteça neste país.
Referência
EU MARCHAREI na tua luta!:a vida de Elizabeth Teixeira. João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, 1997.