Menu
O maior conteúdo digital de cultura regional do Brasil
Registro das artes e culturas da Paraíba
José Américo de Almeida notabilizou-se, na literatura brasileira, ao publicar A Bagaceira em 1928, obra que se insere nas propostas do romance regionalista, que vinha sendo escrito desde o Romantismo. Apresentando um corte no veio temático, ao explorar as contradições entre o brejo e o sertão, A Bagaceira com sua força telúrica, rompeu os limites dos projetos estéticos evidenciando o - homem com sua problemática existencial em meio aos conflitos sociais - definindo-se como romance regionalista moderno.
Recebendo os aplausos da crítica especializada desde seu lançamento, A Bagaceira já conta com vinte e nove edições em língua portuguesa e uma edição crítica, ao lado de versões em espanhol, inglês, esperanto e francês (inédita), além de considerável fortuna crítica, confirmando que, sua mensagem humana e social continua presente no interesse editorial, universitário e das artes, em reverência à obra pioneira que abriu um novo caminho na ficção nacional.
Ocupando um lugar de destaque no jornalismo e na vida pública, a partir de 1908, quando concluiu o Curso de Direito, José Américo dedicou grande parte de seu tempo à leitura. Encomendava livros no exterior, que recebia pelo correio. Lia tudo. Os clássicos, Camilo, Herculano, Castilho, Eça, Gide, Malraux e grandes tratadistas como Bryce. Na literatura brasileira, tinha preferência por Machado de Assis, mas lia outros ficcionistas e poetas, além da "prata de casa", como Augusto dos Anjos e José Lins do Rego, ambos imortalizados em suas memórias. Esse embasamento intelectual levou-o ao fazer literário e, em 1922, publicou seu primeiro livro - a novela Reflexões de uma Cabra.
A escolha desse gênero, certamente, foi ditada por ser a novela, segundo alguns teóricos, uma forma breve intermediária entre o romance e o conto. Aparentada do romance pela ação dos personagens com sua pluralidade dramática - - que se agrupam em células, contendo começo, meio e fim, embora guardem uma unidade sem autonomia. cada uma, apesar de essencial ao conjunto, não funciona separadamente. Como o conto, a novela é um relato linkar cadenciado pelos eventos narrados, em que pesam o subjetivismo do autor, nos tons líricos de suas frases, impregnadas, muitas vezes, pelos recursos ornamentais da linguagem.
Na época da publicação da novela Reflexões de uma cabra, José Américo escrevia crônicas, contos e, segundo suas próprias palavras, essa publicação foi um ensaio para escrever um romance. "Um reagin dia um grupo de intelectuais - Carlos Dias Fernandes e outros - resolveu publicar uma novela em série. Fui convidado e não levei a sério, mas fiz uma caricatura de novela, Reflexões de uma cabra. Foi uma pilhéria. Depois eu escrevi A Bagaceira. Mas foi justamente por causa da novela em série que me pediram para fazer, que fiquei animado e escrevi A Bagaceira em 1928.
Referências
ALMEIDA, José Américo de. Novelas: reflexões de uma cabra o boqueirão coiteiros. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1979. 295 p. (Vera Cruz, 282)